Semeando sonhos no cotidiano da Educação

Por Sandra Martins

Educar para a Cidadania implica muito mais do que uma filosofia educacional. Implica uma revisão dos currículos, uma reorientação da visão do mundo da Educação como espaço de inserção do indivíduo numa comunidade local e global. Em busca da concretização destes conceitos, a Secretaria Municipal de Educação do Município de São João de Meriti realizou o II Seminário de Educação “SEMEar Utopias no Cotidiano da Educação”.

Na concepção da Secretária de Educação, professora Jorgina de Souza Sanches, o seminário é mais uma das ações desenvolvidas em prol de uma melhor qualidade da Educação para os alunos da rede pública municipal e de maior qualificação para o profissional de ensino. “O fórum constitui-se, também, em momento privilegiado de fazer um balanço crítico do trabalho realizado, assim como traçar novas metas para enfrentar os constantes desafios que à Educação são colocados em época de profundas transformações”, salientou.

Durante três dias, cerca de 1200 profissionais de Educação de 52 escolas municipais, através de palestras e oficinas, discutiram desde a valorização do cotidiano vivenciado nas unidades escolares até a concretização da proposta de Educação em Ciclos. Foram abordados temas como os “nós” ou problemas pontuais na Educação em geral que dificultam o desenvolvimento de um processo pedagógico que se efetive de maneira significativa para a vida do aluno; relacionamento humano; liderança; alfabetização e letramento; o papel do profissional de Educação; o ensino e a aprendizagem; concepções e metodologias.

Na concepção do doutorando em Educação em Pedagogia Social pela Universidade de Sigen (Alemanha), Sílvio Rocha, mesclar a teoria e a prática sem se distanciar da escola real é um exercício bastante complexo. Afinal, para que o educador possa ouvir e avaliar as novas concepções, ele deverá, antes de tudo, isolar suas pré-convicções ou verdades e, assim, com isenção, dispor-se às mudanças e ao confronto das diferenças do olhar do outro.

Esta dinâmica foi posta em prática ao longo das 24 oficinas cujos temas, pesquisados anteriormente, foram baseados em pontos nodais que estrangulam a Educação: “Cadê a história que estava aqui?”, “Jogos Inteligentes”, “Alfabetização x Letramento”, “Alfabetização”, “Cidadania Juvenil”, “Dificuldades e Aprendizagem”, “Fundamentos Sociofilosóficos da Educação, “A reciclagem artesanal de papel como instrumento da Educação Ambiental”, “Sexo, Drogas e Rock-n’-Roll”, “As datas comemorativas como recurso de socialização na escola”, “Avaliação” e “Liderança na Escola – delegar ou abdicar”.

Segundo a professora Marilene Maria da Silva Rangel, chefe da Divisão de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, o projeto é baseado na crença de que através da formação em serviço e da reflexão é que o professor crescerá qualitativamente como profissional, e esta qualidade vai chegar à sala de aula. “O sucesso do aluno não depende apenas dele. Todos nós somos responsáveis direta ou indiretamente. Daí a necessidade de se ter uma nova visão de avaliação.

Esta questão foi tratada pela phd em Educação em Psicologia pela Universidade Stanford, Thereza Penna Firme, como um dos grandes desafios da avaliação no século XXI, já que a metodologia até então empregada apresenta-se defasada, comprometendo grande parte do processo pedagógico e concorrendo para a evasão escolar, ou seja, há que se pensar em uma mudança estrutural no modelo pedagógico existente.

Comungando desta opinião, Sílvio Rocha vai além quando defende a escola por ciclos de formação. Para ele, a escola serial não está conseguindo dar conta do público a que se destina, sendo, sistematicamente, questionada por ser fruto de concepções historicamente conservadoras que devem mudar, assim como a produção de conhecimentos, de conteúdos, de avaliação, de aprendizagem. Ele observou que esta mudança da escola serial para a ciclada é muito mais que uma simples alteração vocabular. É necessário que o educador se coloque dentro da lógica desta nova possibilidade de reconstrução do modelo pedagógico existente, fugindo da inércia da habitualidade.

“O fracasso escolar é uma responsabilidade tanto do aluno quanto da escola, que, por uma série de falhas e várias questões para as quais a instituição não está preparada, acaba retendo o aluno”, argumentou. No sistema de ciclos, o conhecimento não se dá por etapas fechadas, como acontece na serial, em que várias crianças de sete anos são colocadas na primeira série do Ensino Fundamental e, após oito meses, pretende-se que estejam alfabetizadas. Fato este que não ocorre, devido aos diferentes ritmos e graus de assimilação de cada uma.

Ele ponderou que é preciso construir uma outra escola que não seja perversa e precocemente seletiva, pois, se ela defende uma justiça social, o discurso não deve ser diferente quando posto em prática, uma vez que todos têm o direito ao máximo de desenvolvimento possível de sua personalidade. A escola não deve ser apenas para alguns e excludente para a massa. O sucesso dentro dela é para todos, e não restrito a um pequeno grupo, tal qual todas as formas de trabalho social têm igual valor. “Nesta proposta, o aluno aprenderá rela-cionando teoria e prática ou relacionando atividades de fazer e pensar, que é mais producente do que copiar mecanicamente por quatro horas”, ressaltou Sílvio.


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