Projeto político-pedagógico promove encontro entre passado e presente através da I Feira de História

Por Cláudia Sanches

Trabalhar as matérias do currículo escolar a partir dos PCNs e mostrar como os acontecimentos atuais ocorridos na História mundial favorecem a integração e a atualização do processo de ensino-aprendizagem. Esse foi o objetivo do projeto político-pedagógico Passado e Presente se Encontram, desenvolvido na Escola Municipal Monte Castelo, situada em Coelho Neto, Zona Norte do Rio.

Os professores de História, Jonas e Adenilde Sant’anna, formaram um grupo de apoio de cinco alunos, que ficaram responsáveis de fazer o feedback entre educadores e estudantes. No entanto, cada turma teve liberdade de escolher e desenvolver o tema que lhe despertasse maior interesse.

A partir daí, os alunos se organizaram e realizaram a I Feira de História, expondo os melhores trabalhos e realizando várias outras atividades paralelamente. A idéia era fazer uma feira dentro da concepção da própria palavra. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Eram maquetes, cartazes, vídeos, palestras e até produções de pequenos livros. Esses livretos, expostos em todos os estandes, foram o resultado da organização do material pesquisado pelos alunos, entre matérias jornalísticas, buscas na Internet e manuscritos, que podiam ser manuseados pelos visitantes e que se tornaram a documentação do projeto.

Durante o evento, muitos trabalhos expostos se utilizaram da leitura visual, explorando mais as fotos e os cartazes, e trabalhando com uma produção textual mais concisa. “Orientei os alunos a desenvolver os trabalhos com o mínimo de texto possível”, relatou o professor. O único movimento isolado na feira foi a solenidade de abertura, que contou com o Hino Nacional, uma coreografia folclórica e um coral de flautas, regido pela professora de Música.

Segundo Jonas, o grupo de apoio ficou encarregado também de fazer a divulgação da feira. O grupo foi à Secretaria Municipal de Educação, às CREs e às escolas de Coelho Neto e Acari, bairros em que mora grande parte da clientela da escola. “Isso motivou bastante as turmas. A diretora de uma escola particular aqui do bairro determinou que as turmas visitassem a feira, o que valeu pelo dia de aula. Outras unidades da rede pública de ensino também suspenderam as aulas para que os alunos pudessem visitar a feira”, disse ele, calculando que a presença de visitantes no evento foi superior a 400 pessoas.

Os temas foram divididos por turmas, a partir dos conteúdos do currículo. “Não queríamos que o trabalho da feira acontecesse à margem do trabalho realizado em sala de aula, o que tornou o processo de aprendizagem mais rico e eficaz”, disse Jonas. Assim, a oitava série da turma da manhã trabalhou Corrupção no Brasil, contando as histórias dos primeiros colonos que chegaram ao país deportados de Portugal até os escândalos diários publicados nos jornais atuais.

A turma da tarde ficou com As Minorias Desprezadas, abordando a questão do negro e da mulher, numa visão de Brasil e de mundo; a sétima série ficou com A Crise nos Estados Unidos e confeccionou a maquete das torres gêmeas. A sexta série do turno da manhã pesquisou o tema Trabalho e Emprego, a partir de uma visão ligada à ordem econômica mundial; e a turma da tarde trabalhou Os Grupos Religiosos no Brasil, que falou da multiplicidade das religiões no país e da liberdade religiosa.

A quinta série tratou de um tema único, que foi O Índio Brasileiro. Os grupos reservaram grandes surpresas, como foi o caso da maquete de tabas de várias tribos indígenas de diferentes regiões do país, evidenciando a diversidade desse grupo étnico no Brasil. Os alunos também apresentaram um vídeo de longa duração sobre o tema, que prendeu muito a atenção dos visitantes.

 

Segundo a professora Adenilde, responsável pela organização das palestras, um dos momentos mais emocionantes do encontro foi a apresentação dos três palestrantes. Os temas foram Os Direitos Humanos, As Minorias Sociais e Os Remanescentes dos Quilombos. O interesse dos alunos pelos assuntos abordados gerou muita polêmica e debate, o que deixou toda a comunidade escolar muito motivada.

Baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os educadores fizeram um trabalho interdisciplinar. Apesar de ser de História, o projeto pertenceu a toda a escola. Todo o corpo docente colaborou com o trabalho. A professora de Língua Portuguesa foi acionada para revisar todos os textos dos cartazes, livros, entre outros materiais da exposição; a de Geografia realizou um trabalho paralelo, mostrando todas as localizações dos países para demonstrar nos mapas; os de Matemática fizeram pesquisas sobre os grandes matemáticos da História; e as de Música e Educação Física colaboraram com as aberturas da solenidade.

“Não foi um movimento isolado da área de História. Alguns professores utilizaram trabalhos da feira relacionados às suas respectivas áreas para avaliação”, defendeu Adenilde. A professora de Informática também trabalhou bastante, visto que os alunos se debruçaram sobre a Internet para buscar informações. “Uma de nossas metas foi não fazer nada isolado, pois é preciso mostrar que não se faz nada sozinho. Precisamos do apoio do outro e os saberes não são compartimentados. Inclusive, a direção do colégio também colaborou bastante dando todo apoio que precisamos”, afirmou Adenilde.

Segundo o professor Jonas, o projeto despertou o interesse dos alunos pelo estudo. O trabalho também surpreendeu os professores pela organização. Alguns fatos concretos traduzem o sucesso da feira, como a articulação de toda a comunidade, além da participação com bom desempenho de alunos rebeldes em sala de aula. O problema da agressividade diminuiu consideravelmente após o trabalho e os estudantes terminaram o ano letivo perguntando se haveria outra feira. “Ouvi a seguinte frase de um desses alunos: – Foi muito bom aquele dia diferente!, e isso é gratificante”, relatou.

O próximo projeto da escola será a simulação de uma eleição presidencial, e a II Feira de História está prevista para o segundo semestre deste ano. Jonas reconhece que o trabalho do professor em comunidades carentes é muito difícil, mas acha que cada educador deve cumprir o seu papel: “O pior é não fazer nada para melhorar e ficar atribuindo a culpa a outros. Eu não posso fazer o trabalho do outro, mas o meu, sim. E esse projeto valeu a pena”, finaliza o educador.

Escola Municipal Monte Castelo
Tel.: (0xx21) 3372-6587