Educadores buscam novos caminhos que visam a melhorar o processo de ensino-aprendizagem

Por Cláudia Sanches

Tornar o aprendizado da Matemática mais dinâmico e criativo. Este é um dos objetivos do projeto pedagógico Para o Aprendizado da Matemática, desenvolvido na Escola Municipal Silveira Sampaio, localizada em uma comunidade carente de Curicica, Jacarepaguá. O método, que ensina a partir de brincadeiras e jogos, surgiu da necessidade de adaptar o ensino à realidade atual.

Tudo começou em 1995, quando um ex-aluno da escola, Luís Felipe Lins, voltou como professor de Matemática. “Chegando lá, percebi que muita coisa tinha mudado: os alunos e a comunidade eram outros e as necessidades também, mas o projeto educativo permanecia o mesmo”, lembra. Partindo dessa premissa, o professor Luís Felipe, junto com a equipe de Matemática, hoje composta por ele, pela professora Sandra Ayrosa e pela coordenadora Sara Boukai, realizou algumas modificações, que resultaram na reformulação dos conteúdos e na produção de material didático, como livros, apostilas e jogos, confeccionados pela própria equipe.

Construindo o saber em grupo a partir das próprias experiências
O projeto surgiu com a idéia de desenvolver o raciocínio lógico, estimulando os alunos a pensar por eles mesmos, fazendo suas próprias descobertas. Para isso, os professores utilizam informações da vida cotidiana. O trabalho visa à socialização, já que todas as atividades são desenvolvidas em grupo: “Não existe nada pronto, os estudantes aprendem a encontrar soluções. Eles é que constróem os conhecimentos”, explica Sara.

Ao contrário do método tradicional, apresentam-se primeiro os jogos e depois os conteúdos. O professor expõe as situações-problema e apenas os encaminha e orienta. Segundo Sara, dessa maneira, eles tornam-se mais independentes e seguros: “Não se ensina a partir de exemplos, como antigamente, pois é muito limitante. Afinal, quando aparece uma questão diferente, o aluno se sente inseguro. Portanto, ele é que tenta resolver sozinho, descobrindo que há várias maneiras de se chegar a uma mesma solução, uma vez que não existe apenas um caminho. Assim, incentivamos o estudante a buscar resoluções, não por atitudes mecânicas e de memorização, mas pelo raciocínio lógico que tanto valorizamos”.

Jogos como ferramentas
Orientados pelos professores, os alunos criam e recriam jogos nos quais aplicam as matérias estudadas: “Eles também confeccionam os brinquedos”, revela Luís Felipe. Os jogos são os disparadores de conteúdos. Os Números Inteiros são um exemplo. Aprende-se a somar e subtrair durante um jogo e depois mostra-se que eles estavam aprendendo as duas operações.

Para introduzir Adição e Subtração com negativos, os professores recriaram um jogo com dados: “O jogo, que é da minha época, se chamava Glória. Nele há um ponto de partida, que é o zero. Existem dois dados: cada um tem três números negativos e três números positivos. A criança joga os dois dados. A soma dos dois valores corresponde às casas pelas quais ela tem que caminhar. Se forem números positivos, caminha-se para frente; números negativos, para trás. À medida que jogam, as crianças vão assimilando os conceitos”, relatou a professora.

Entre o material didático impresso estão os módulos, que também são produzidos na escola: “Durante o planejamento anual, aproveitamos a produção das apostilas para atualizar o conteúdo, incluindo as informações novas e excluindo o que está defasado. Assim, garantimos um ensino mais adequado ao perfil dos estudantes”, explica Sara.

Culminância
O projeto culminou com uma olimpíada de Matemática que envolveu todas as turmas da escola. Durante o evento, aberto a público, eles apresentaram jogos matemáticos, oficinas de origami, dobraduras e reciclagem de jornal, e fizeram ainda uma gincana, que foi um campeonato de matemática. Os alunos de 5.ª a 8.ª séries se organizaram em seis grupos, cada um representado por uma cor. Os vários problemas de raciocínio lógico, em forma de jogos, eram escondidos em várias partes do prédio escolar. Quando os professores davam o sinal, os grupos disparavam em busca dos desafios e os levavam para uma espécie de quartel general, uma sala secreta utilizada para cada grupo resolver as questões.

No final do evento, a equipe que conseguisse resolver o maior número de problemas ganhava a competição. O objetivo da brincadeira era a resolução dos desafios e o estímulo do raciocínio matemático. “Nessa atividade, vale realmente aquele máxima: o mais importante é competir”.

Durante a olimpíada, os alunos apresentaram um trabalho sobre Proporcionalidade realizado durante as aulas. Os professores de Matemática davam uma determinada altura e eles tinham que montar um polígono com aquela medida e mais outro com 50% daquele tamanho. “Pedimos que cada grupo fizesse uma determinada figura com 1,60m, por exemplo. A outra teria que ter 80m”, exemplificou Sara.

As figuras geométricas coloridas, montadas nas aulas de Artes com a ajuda do professor Sérgio Barros, como triângulos quadrados e retângulos, foram expostas pelos corredores do colégio no dia da culminância do projeto: “Durante a construção dessas formas geométricas, acontecem muitas descobertas. Eles começam a ver a importância do ângulo para que a figura não fique torta”, explica a professora de Artes, Eliane Magno, que também participou da construção das pirâmides, que foram expostas na feira, feitas em papel durante as aulas de Geometria.

Segundo o professor Luís Felipe, a interdisciplinaridade acontece naturalmente à medida que o projeto vai sendo desenvolvido. Durante o evento, foram abordados os chamados temas transversais como, por exemplo, uma barraca que expôs uma maquete de uma cidade com estradas e acabou falando sobre as leis de trânsito.

Uma das atividades que mais mobilizou os estudantes e visitantes da Olimpíada foi a barraca da Matemágica. Era uma tenda na qual os alunos propunham desafios com questões e curiosidades. A barraca foi criada pelos próprios estudantes que ficaram muito estimulados com as brincadeiras. “A idéia dessa tenda foi deles. Então, essa atividade foi uma espécie de prêmio para eles. O mais bacana foi o envolvimento desses alunos, que eram muito desinteressados”, contou a professora Sandra.

Resgatando o prazer de aprender
Ao longo de seis anos, o trabalho vem dando frutos. Os resultados significativos têm estimulado os educadores, que vêm buscando novos recursos para melhorar ainda mais o processo de ensino-aprendizagem. Para isso, têm investido cada vez mais em pesquisa e na melhoria dos materiais didáticos: “O projeto tem motivado até professores de outras disciplinas a buscar novos caminhos. A crença no que produzimos nos faz multiplicar e divulgar os princípios e a técnica do nosso trabalho através de encontros e oficinas, a fim de que educadores de outras escolas se motivem a mudar e oferecer um ensino mais prazeroso e eficaz”, afirma Sara.

 

Escola Municipal Silveira Sampaio
Tel.: (0xx21) 2441-2550