Por Andréia Brilhante

Um projeto surrealista que mistura mitos gregos e brasileiros, real e imaginário. Esta foi a base de um trabalho pedagógico desenvolvido com turmas de 5.a e 7.a séries da Escola Municipal Miguel Ramalho Novo, em Realengo. Inspirado na exposição “Surrealismo”, exibida no Centro Cultural Banco do Brasil, o projeto envolveu quatro disciplinas: História, Língua Portuguesa, Geografia e Inglês, e foi dividido em dois subprojetos: o mito surreal, com abordagem da Grécia, e o mosaico panorâmico com abordagem do Brasil.

O Mito Surreal
Antes de exporem seus trabalhos, os alunos realizaram um debate sobre alguns mitos existentes em nossa história e, a partir daí, fizeram uma construção surrealista do céu e do mar, e criaram ilustrações interpretativas de lendas e mitos gregos através de cartazes. Uma das tarefas foi a transformação do deus Possêidon num ser contemporâneo. A partir da foto do deus, no papel, as crianças fizeram colagens, colocando em Possêidon roupas atuais, bandeiras e até latinha de cerveja.

Outro trabalho consistiu em desenhar templos, nos quais os alunos deveriam inserir seus próprios mitos. Entre os escolhidos estavam Pelé e Xuxa. Segundo a professora de História Nádia de Souza Barbosa, o objetivo foi trabalhar o imaginário dos alunos, no qual são produzidos os mitos, estimulando sua criatividade e mostrando a influência da cultura grega na contemporânea. “Continuamos com os nossos mitos, mas com roupagens diferentes”, disse a professora.

O texto de uma turma de 5.a série, intitulado Aventuras de Velhos Amigos na Grécia, foi outra tarefa que mesclou a cultura grega com a contemporânea: “Na acrópole de Atenas, o arqueólogo estava estudando os ossos de dinossauros. Ele tinha um amigo filósofo, que foi acompanhá-lo no estudo. Conforme o filósofo, o pedagogo também gostou da idéia... O pedagogo apresentou seu amigo faraontólogo ao arqueólogo. Quando eles terminaram o estudo, foram a um restaurante grego e ficaram conversando sobre a anarquia do Brasil. No final da noite, foram ao circo assistir a um show de acrobacia megalômano.

Com a bagagem cheia de livros sobre mitologia, os amigos arqueólogo, filósofo e pedagogo partiram para a democracia no Brasil”. De acordo com a professora de Português Márcia Garcia Pereira, o objetivo desta tarefa foi trabalhar com os radicais gregos, inserindo palavras gregas na atualidade.

O propósito do projeto surrealista foi fazer as crianças descobrirem os mitos e seus significados, levando-as a interpretar o passado cultural da humanidade, bem como reconhecer seus próprios mitos e o papel desempenhado por eles em suas vidas. A proposta também foi trabalhar o imaginário dos alunos, com seus desejos e instintos, fazendo com que expressassem suas idéias.

 

Mosaico Panorâmico do Brasil
Para formar o mosaico que ficou exposto em um mural, os alunos selecionaram algumas músicas que falam da realidade do Brasil e, a partir da análise das letras, fizeram cartões em forma de hexágono, contendo fotos coladas tiradas da mídia impressa e, em volta, trechos das músicas.

Em um dos hexágonos, havia fotos do Movimento dos Sem-Terra, de um relógio e um ônibus escolar. No texto ao lado, estava parte da música Aquarela Brasileira, interpretada pelo Karametade: “...Passeando pelas cercanias no Amazonas/conheci vastos seringais/No Pará, a Ilha de Marajó e as velhas cabanas do Timbó...”. Próximo a este, havia outro hexágono, com as fotos de Caetano Veloso, praia, pescaria e uma mulher bonita. O texto correspondente era outra parte da letra de Aquarela Brasileira: “...Fiquei radiante de alegria/quando cheguei na Bahia/Bahia de Castro Alves, do Acarajé/Das noites de magia, do candomblé...”.

Mostrando que, diante da realidade caótica do Brasil, não se pode parar e apenas olhar as beldades da vida, aparece um trecho da música de Geraldo Vandré: “...Vem, vamos embora que esperar não é fazer/quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”. Todos os hexágonos colados no mural formaram um belo mosaico. “A idéia foi fazer os alunos construírem, a partir da multiplicidade de vários hexágonos, uma unidade, o todo, que é o mosaico”, explicou a professora Nádia.

Tal iniciativa tem o intuito de levar as crianças a perceber a unidade por meio da diversidade, com uma visão abrangente da realidade, sem desconsiderar as diferenças que a constituem. O que se pretende é desenvolver, nos alunos, uma visão crítica do processo de transformação da sociedade brasileira.

A diretora da escola, Virgínia Bernardo Fernandes, que vem incentivando trabalhos pedagógicos como este desde que está na direção, há três anos, disse que, mesmo com a crise na Educação, alguns professores ainda conseguem tirar água de pedra, e quem ganha com isto são as crianças. “Os alunos ficam mais ativos e vêem que Educação não é só quadro negro”, concluiu.

Escola Municipal Miguel Ramalho Novo
Tel.: (0xx21) 2401-5419