Por Simone Jucá

Nos anos 90, a palavra interdisciplinaridade foi incorporada de vez ao vocabulário e a discussões teóricas dos professores. Muitos passaram a empregá-la sem saber o seu real significado. Ao contrário do que muitos leigos e até mesmo professores acreditam, interdisciplinaridade não significa simplesmente agregar conteúdos ou disciplinas. Na verdade, uma atividade interdisciplinar representa a interseção do que há de mais importante em diversas áreas do conhecimento.

“A interdisciplinaridade traz a possibilidade do desenvolvimento das competências e da produção do saber de forma integrada. Além disso, com a real integração das várias áreas do conhecimento, fica mais fácil para o aluno estabelecer a relação entre o que ele aprende na sala de aula e a realidade. Desta forma, ele conquista a percepção da utilidade de cada conhecimento em seu cotidiano”, explica a psicopedagoga Dayse Serra.

Vale lembrar que um dos principais fundamentos teóricos da interdisciplinaridade são as Inteligências Múltiplas. “Quando falamos da ligação da aprendizagem com os vários conhecimentos, queremos reforçar que o conhecimento precisa ter uma utilidade para o real. O que se aprende na escola precisa ser passível de ser aplicado no dia-a-dia. A grande importância da interdisciplinaridade é o fato de ela impedir a desarticulação do aprendizado escolar com a vida. O conhecimento não fica restrito aos livros.”, completa a psicopedagoga.

Construindo o conhecimento

Para que a interdisciplinaridade obtenha bons resultados nas salas de aula, é necessário que os professores desenvolvam o senso crítico de seus estudantes. Mas, para atingir este objetivo, a Educação teve que passar por uma verdadeira revolução.

Durante muito tempo, principalmente até os anos 60, os pedagogos acreditavam que o foco da Educação deveria estar depositado no processo ensino-aprendizagem. Neste caso, o sujeito principal deste processo era o professor. Quando ele era competente, tudo funcionava bem e os alunos aprendiam sem grandes dificuldades. No entanto, quando o professor não estava bem preparado para ensinar, os estudantes geralmente sofriam para passar de ano.

Hoje, o foco da Educação não é mais o ato de ensinar. Educadores querem saber como e por que o aluno aprende. Em outras palavras, desejam construir o conhecimento, lado a lado, com seus estudantes. Vários pedagogos, dentre eles, Jean Piaget, reforçam a importância desta iniciativa ao afirmarem que a informação pode ser transmitida, mas o conhecimento não. Este, por sua vez, precisa ser produzido e é percebido de forma especial por cada indivíduo.

As etapas de um projeto

O projeto justamente vai possibilitar a construção do saber à medida que sua própria metodologia é baseada na solução de problemas. Ao se deparar com uma questão, o aluno irá formular hipóteses para solucioná-la. Dentro desta perspectiva, o projeto, por si só, já representa uma poderosa ferramenta de aprendizagem.

A elaboração de um projeto parte sempre da constatação da existência de um problema real. Um projeto que tenha como tema a poluição de um riacho que passa pelos fundos da escola, por exemplo, pode ser considerado um problema real.

Em Pedagogia, para termos um problema real, alguns fatores devem co-existir:

a) o aluno não sabe a resposta para o problema;

b) ele precisa buscar a solução para este problema através de uma pesquisa (investigação);

c) buscando a resposta, o estudante irá encontrar uma solução e produzir o conhecimento.

A elaboração de um projeto envolve uma equipe ou somente o professor. Será montado um planejamento dando as diretrizes de como este projeto irá se desenvolver. Esta equipe também deverá motivar os alunos e as demais pessoas envolvidas (pais e funcionários da escola, por exemplo) a buscar a melhor solução para o problema proposto.

 

De modo geral, o trabalho da equipe envolve:

- Planejar (após a elaboração do planejamento, o professor deve levá-lo para a turma e discuti-lo com os alunos)

- Estabelecer o ponto de partida e de chegada

- Promover a troca de informações

- Realizar comunicações de descobertas e aquisições

- Avaliar etapas do processo

- Replanejar para corrigir rotas (quando for necessário)

O boxe abaixo irá ajudar a compreender as diversas etapas de construção de um projeto. Como tema escolhemos o Efeito Estufa, um assunto que poderá ser facilmente problematizado pelos professores e alunos em sala de aula.

Como elaborar um projeto - Passo a passo

Nome do Projeto: Efeito Estufa

Primeira Etapa
Check-list da escolha do tema e/ou objeto de pesquisa (investigação):
É problematizável? ( x ) sim ( ) não
Justificativa: Acreditamos que, devido aos possíveis efeitos causados ao meio ambiente, o tema Efeito Estufa pode ser facilmente problematizado para os alunos.

É de fácil integração? ( x ) sim ( ) não
Justificativa: O Efeito Estufa é uma temática básica de Ciências, no entanto, é um tema de fácil integração com a Matemática no estudo e cálculo dos efeitos, bem como sua evolução. O tema pode ser abordado em Geografia através, por exemplo, do levantamento das regiões de maior predominância. Já em Português, o Efeito Estufa pode ser tema de dissertações que alertem a comunidade.

É relevante? ( x ) sim ( ) não
Justificativa: Quando analisado pela ótica dos efeitos ao meio ambiente, nos futuros problemas acarretados aos seres vivos, o aluno se coloca em face do problema, já que ele é um dos componentes vivos deste meio. Nesta perspectiva, o tema pode ser considerado relevante para os alunos.

Pode provocar mudanças nas estruturas mentais? ( x ) sim ( ) não
Justificativa: Pela abrangência do tema e da problematização, é possível que este projeto, se bem trabalhado de forma interdisciplinar, provoque mudanças na estrutura mental do aluno devido à riqueza de investigações propiciadas e reflexões comportamentais solicitadas. Sendo assim, o tema deverá tanto motivar como desafiar os alunos na busca de informações e apropriações de conhecimentos.

Passível de atingir objetivos? ( ) sim ( ) não
Esta resposta dependerá dos objetivos que foram traçados pela equipe.
Professora Dayse Serra
E-mail: dayseserra@yahoo.com

Obs.: Na próxima edição, daremos continuidade à matéria A Interdisciplinaridade nos Projetos Pedagógicos.