Por Cláudia Sanches

Nos dias atuais, a Educação Física deve contemplar o ser humano como um todo, desde os aspectos físicos até os emocionais. Essa foi a principal conclusão do Seminário Novas Visões da Educação Física Escolar, que aconteceu entre os dias 10 e 12 de setembro, no auditório do Senai. Durante três dias, professores de Educação Física e diretores de escolas se reuniram para discutir os destinos da disciplina e trocar idéias a respeito das suas práticas em sala de aula.

O encontro, promovido todos os anos pela Prefeitura, faz parte do Projeto Educação Física e Lazer, que visa à formação continuada dos professores do Estado Rio de Janeiro. O seminário foi dividido em dois momentos: a manhã foi reservada às palestras e aos debates e, à tarde, os profissionais do ensino tiveram a oportunidade de participar de oficinas.

Os grandes temas debatidos foram as novas visões da disciplina, abordado pelo professor Helder Guerra Rezende; a prática da não-exclusão, discutido pelo professor da Universidade Gama Filho, Guilherme Pacheco; e o planejamento e a construção da prática pedagógica, em que participaram Waldyr de Castro, da Universidade Federal Fluminense e José Eustáquio Romão, do Instituto Paulo Freire. Após as palestras, os professores participaram dos debates com relatos bem-sucedidos sobre suas práticas no cotidiano e foram encaminhados a oficinas que tinham o objetivo de proporcionar atividades que colocassem em prática o que foi discutido durante os seminários. As oficinas foram Atletismo se Faz na Escola, com o professor Jorge Rodrigues; Brincando de Folclore na Escola, com Eleonora Gabriel; Educação Física Adaptada, com Ramon Pereira; Do Brinquedo Cantado ao Brinquedo Jogado, com Liliane Carvalho; Jogos Cooperativos, com Marco Antônio Salvador; e A Voz do Prazer na Escola, com Raul ferreira Neto.

O professor da rede municipal de ensino Raul Ferreira Neto, especializado em psicomotricidade, que ministrou a oficina A Voz do Prazer na Escola, deu, antes de tudo, uma aula de entusiasmo. Com sua voz grave e alta, bom humor e consciência da sua profissão, ele contagiou todos os professores, que foram obrigados a parar para refletir sobre o exercício da profissão. “Nós somos os responsáveis pela escola pública”, enfatizou o educador, que tem 28 anos de profissão.

O pedagogo José Eustáquio Romão, que participou no último dia do seminário, abriu sua palestra com uma indagação: “Por que as crianças gostam tanto das aulas de Educação Física em detrimento das outras disciplinas? Simplesmente, porque o professor dessa matéria tem um grande privilégio em relação aos outros: ele tem o aval para ensinar brincando”, explica o educador, que, diante do desafio de repensar o próprio fazer pedagógico, propõe aos professores que reaprendam a brincar, para adaptar a escola à criança. “Precisamos reaprender a brincar”, já dizia Paulo Freire. Portanto, a Educação Física pode ser um caminho para a mudança”, lembrou o pedagogo.

 

Como discípulo de Paulo Freire, José Eustáquio também frisou a importância de utilizar a disciplina para trabalhar conteúdos de História, Língua Portuguesa e Matemática. O professor Helder Guerra, que falou sobre a questão da construção da prática pedagógica, disse que o ensino está diante de um desafio, que é a formação profissional: “Temos um compromisso com a formação continuada e precisamos pensar o homem além do físico, isto é, a parte humanística. Que tipo de cidadão queremos formar diante da nova realidade imposta pelos valores neoliberais? A Educação Física tem um papel importante no trabalho da integração dos alunos, por isso o professor precisa aprender a articular essa disciplina às outras matérias neste momento atual. Será que esporte é sempre sinônimo de saúde? Será que o esporte na escola deve estimular as crianças a almejar ser um Ronaldinho? Será que o esporte afasta das drogas?”, questionou o professor. Segundo ele, a proposta dessa disciplina pode e deve ser muito mais abrangente: “A matéria não tem um conteúdo específico como as outras, mas precisamos valorizar mais o folclore, as manifestações culturais, o trabalho com a expressão corporal, a dança e o ensinamento de hábitos saudáveis na escola”, sugere ele. Afinal, de acordo com os parâmetros curriculares de Educação Física, elaborado pelo Ministério da Educação, o processo de ensino e aprendizagem desta disciplina não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada.

A coordenadora Cláudia Martins finalizou o seminário lembrando que a importância do professor de Educação Física nunca deve ser perdida de vista: “Cabe a esse profissional saber quem mora em cada corpo, e saber que esse corpo se comunica de acordo com a sua história peculiar, com a sua cultura, com o seu espaço físico, para conhecermos um pouco mais cada aluno e podermos trabalhar melhor”.

Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Seminário Novas Visões da Educação Física Escolar
Tel.: (0xx21) 2503-2328 / 2503-2500