Qualidade e criatividade dos alunos durante a realização do II Concurso de Fotografia – Paralelismo e Perpendicularidade

Por Cláudia Sanches

Eletricidade, tempo, distância e o troco da passagem de ônibus. Tudo está ligado diretamente à Matemática. Mas qual aluno nunca perguntou: “Por que eu estudei Matemática?” ou “Para que serve a Matemática?”.

O projeto pedagógico Matemática É Vida, realizado na Escola Parque, na Gávea, surgiu exatamente com a proposta de mostrar que a disciplina não é uma ciência distante ou um bicho-de-sete-cabeças, mas um instrumento usado a todo momento no cotidiano. O projeto foi tão bem-sucedido que originou um concurso de fotografias, a produção de um jornal, cartões-postais e até um calendário com fotografias produzidas pelos estudantes. Os trabalhos realizados durante o ano letivo foram apresentados no mês de julho na Feira de Matemática, que contou com a participação de todo o colégio, desde as turmas do pré-escolar até o Ensino Médio.

Segundo a diretora do colégio e coordenadora do projeto, Paula Cavalcante, que tem formação em Didática da Matemática, o objetivo da feira foi convidar as pessoas a pensar a Matemática como um elemento participativo no seu dia-a-dia: “A idéia foi fazer uma feira mesmo, com barracas, e abrir a escola ao público. E nós conseguimos mobilizar as pessoas. Toda a comunidade da escola participou, desde a direção até o servente”. As turmas surpreenderam com os trabalhos realizados, entre eles jogos, gincanas, curiosidades montadas durante os semestres e até jogos no computador criados pelos próprios estudantes.

Como trabalhar os conteúdos nas atividades – o making off da feira

As atividades foram divididas por faixa etária. No pré-escolar, os professores utilizaram jogos com conceitos matemáticos ainda não institucionalizados. “Nessa fase, as crianças não sabem fazer conta, isto é, não aprendem ainda as nomenclaturas, mas, na verdade, elas contam o tempo inteiro. Trabalhamos com o pega-vareta, em que cada cor tem um valor, com dominó e com trilhas, que são exemplos de jogos nos quais se explora o conceito de números e a adição. Com o cara-a–cara, por exemplo, que é um jogo de investigação, trabalha-se o raciocínio matemático de eliminação de hipóteses e análise combinatória, já com o Bingo, trabalha-se a adição. Essas atividades permitem trazer a teoria para o concreto”, explica o professor Pôncio Mineiro, que também pertence à equipe do projeto.

Na Educação Infantil, as crianças criaram a Sala de Desafios, onde resolveram questões ligadas à realidade como, por exemplo, tirar um colete sem tirar o paletó. A idéia foi mostrar várias formas de resolução de uma mesma questão. “Para mim, esse é o aspecto mais importante e rico, porque eles resolveram seus desafios do jeito que quiseram. Surgiram diversas maneiras de solucionar o mesmo problema, o que é muito enriquecedor, pois estimula vários tipos de raciocínio”, acredita Paula.

Na Sala de Jogos, os alunos discutiram quais as profissões que utilizavam a Matemática. Segundo a coordenadora, eles ficaram intrigados com a quantidade de profissões que trabalham com números, inclusive carreiras da área de humanas.

Os professores também aproveitaram a oportunidade de um passeio ao Corcovado e pediram aos estudantes que organizassem a excursão: “Eles tiveram que calcular distâncias de ida e volta, tempo, despesas. O mais interessante é a interdisciplinaridade do projeto, prevista pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que não pode ser perdida de vista” – diz ela, lembrando que eles tiveram de redigir a circular para os pais, o que estimulou a produção de textos e propiciou a abordagem de conteúdos de Língua Portuguesa.

Outra atividade muito interessante foi a Sala de Ciências. As crianças trabalharam Matemática e Ciências com os conceitos de medida, peso e capacidade. Nesta etapa, foram passadas também noções de leitura e interpretação de gráficos com a intenção de mostrar que as ciências se completam.

Matemática vira cartão-postal

No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, o projeto também rendeu trabalhos que foram um sucesso durante a feira. Foi o caso da premiação do II Concurso de Fotografias, um dos momentos mais emocionantes. Segundo Paula Cavalcante, foi difícil a escolha dos primeiros colocados, tamanha a qualidade da criação dos participantes. As fotos produzidas pelos estudantes de 5.ª série do Ensino Fundamental ao 2.º ano do Ensino Médio representaram a visão de paralelismo e perpendicularidade no dia-a-dia.

No ano passado, as fotos premiadas viraram cartões-postais, que foram distribuídos como brindes de natal, e, este ano, a escola está confeccionando um calendário para o ano de 2002 com as fotografias do II Concurso. Com isso, o projeto despertou o senso artístico dos estudantes e, em muitos, a vocação para a arte: “Nenhuma atividade é aleatória, todas envolvem conceitos matemáticos”, fez questão de lembrar Paula.

As turmas do Ensino Fundamental também desafiaram os participantes a construírem móbiles, trabalhando peso e equilíbrio, e jogaram com números um pega-varetas gigante. Os alunos do Ensino Médio também confeccionaram um jornal com a produção de textos jornalísticos e artigos nos quais eles utilizaram bastante os números a partir de fatos históricos. Um dos desafios que mais despertou a atenção no evento foi o Cubo Mágico, um cubo que tem várias cores aleatórias e cujo jogo consiste em deixar as faces de um quadrado com uma determinada cor. O trabalho foi desenvolvido com o Ensino Médio durante a Oficina dos Números, com o objetivo de falar sobre Simetria e Lógica: “Quando olharam o cubo, os estudantes acharam que seria fácil e poderiam resolvê-lo de forma aleatória. Porém, após duas semanas, viram que não seria tão simples”, conta o professor Carlos Augusto Carvalho, coordenador de Matemática do colégio.

Daniel Zanenschein, primeiro aluno que conseguiu resolver o desafio, passou a ajudar o professor a ensinar os outros: “Existe uma lógica para se resolver a questão e os alunos tiveram de pesquisar em livros e na Internet. Foi um trabalho complexo, mas atraente, tanto que fez os pais quebrarem a cabeça durante a sua apresentação na feira” – explicou o professor, que confessou depois aos alunos que também não sabia resolver o cubo: “Eles riram muito, pois ninguém imaginava isso, mas foi fantástico. E essa é a grande função do professor, ser um colega mais velho, trabalhar junto com o aluno, e não trazer a coisa pronta”, disse o educador emocionado.

O professor Fábio Henrique Teixeira de Souza, do Ensino Fundamental, conta que uma das atividades que mais atraiu as pessoas no evento foi a história do Número Áureo, que se inicia com os gregos, passa pela Idade Média e influencia o senso de harmonia ainda nos dias de hoje. “Muitos artistas como Leonardo Da Vinci e Michelângelo já utilizavam o Número Áureo em suas obras. As pessoas ficaram bastante curiosas em conhecer essas coisas”, acrescentou o professor.

Na Oficina de Jogos, os alunos desenvolveram, a partir de uma linguagem de programação mais complexa, que envolvia conceitos matemáticos, seus próprios jogos no computador. Com isso, os visitantes puderam jogar nos computadores da escola.

Para os integrantes da equipe de Matemática, o projeto tem conseguido alcançar os objetivos. O professor Carlos Augusto Carvalho conta que hoje a matéria deixou de ser uma tarefa árida e até se transformou em atividade prazerosa: “Existe, atualmente, uma mobilização muito grande em torno da Matemática. Alunos que tinham aversão pela disciplina passam a gostar” – diz ele, que espalha pelos corredores da escola desafios os quais até os serventes tentam resolver.

O projeto já está sendo levado para outras instituições de ensino privado e o próximo passo, segundo Carlos Augusto, é fazê-lo chegar à escola pública.


Escola Parque
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