Uma realção de amor: o livro e eu

Por Beatriz Dusi

O escritor que apresento a vocês é Rogério Andrade Barbosa, graduado em Letras e com especialização em Literatura Infantil e Juvenil. Foi voluntário das Nações Unidas na Guiné-Bissau (África) onde pôde observar, in loco, os griots – contadores de histórias – pessoas mais idosas da comunidade, que contam para as crianças todas as manifestações culturais de seu povo: mitos, lendas, fábulas, contos etc., perpetuando, pela tradição oral, que é comum àquele povo, os costumes e conhecimentos através das gerações. As narrativas são enriquecidas com cantigas, danças e encenações.

E Rogério, como um griot moderno, sai pelo Brasil e por vários encontros de Literatura Infantil e Juvenil internacionais – Frankfurt (Alemanha), Guadalajara (México), Havana (Cuba), Cartagema (Colômbia) e Bolonha (Itália) – a contar e encantar os ouvintes (crianças e adultos) com suas histórias afro-brasileiras. No seu repertório, o mágico se faz presente, permitindo que o imaginário de cada um assimile a história contada.

No Brasil, faz parte dos projetos “O Escritor na Cidade” e “PROLER”, da Fundação Biblioteca Nacional. Junto com ilustradores e escritores fundou a AEI-LIJ (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil) da qual foi eleito presidente. É membro da Society of Children’s Book Writers and Ilustrators.

Autor premiadíssimo. Vários livros seus fazem parte dos catálogos da Biblioteca Infantil de Munique (White Ravens): “Bichos da África” (Lendas e Fábulas) vol. I e II, Ed. Melhoramentos (Prêmio Jabuti 1988/ Melhor Ilustração) e “Duula, a Mulher Canibal”, Ed. DCL; e da Feira de Bolonha: “Rômulo e Júlia” (Os Cara-Pintadas), Ed. FTD, “Sundjata, o Príncipe Leão” (Melhor estória para ser contada – Biblioteca Juvenil de SP) e “Viva o Boi Bumbá”, Ed. Agir; “SOS Tartarugas Marinhas”; “O Casaco Negro”; “Sangue de Índio” e “O Velho, a Carranca e o Rio”, Ed. Melhoramentos; e “Duula, a Mulher Canibal”, Ed. DCL.

Da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) recebeu o prêmio Altamente Recomendável para Jovens e Crianças em 1988/89/93/95/96 e 2001, além de ser adotado para o Acervo Básico/FNLIJ em 1999, 2000/01.

O prêmio Jabuti 1992/Melhor produção editorial de obra em coleção foi para “A Vingança do Falcão” (Col. Acorda, Bicho-Homem), Ed. FTD. Já “Duula, a Mulher Canibal”, da Ed. DCL, foi finalista do prêmio Jabuti 2001/Melhor Ilustração (il. Graça Lima) e selecionado para o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD)/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC).

Os livros mais recentes são:

Um Sopro de Esperança, il. Rogério Borges, Ed. Saraiva, SP.

O autor com muita sensibilidade aborda temas perturbadores: rapto de crianças, prostituição infantil, drogas, pobreza, fanatismo e misticismo religioso, AIDS etc., todos estes males que afligem uma parte representativa da população do Brasil. O escritor não foge da realidade ao contar nossas mazelas sem máscara e sem ilusões. As ilustrações do Rogério Borges são apresentadas para dar força à palavra do autor.

Na Trilha do Mamute, il. Rodval Matias, Ed. Saraiva SP.

Para quem gosta de aventuras emocionantes, tecnologia genética, animais pré-históricos e cultura indígena este é o livro indicado. Você vai se envolver com Kuritin (quem será?...), transportando-se para a selva brasileira e daí participando desta experiência arriscada e incomum. As ilustrações do Rodval são simples, mas com muita expressão. Condensa, através de figuras bem acabadas, os efeitos essenciais da narrativa.

O Filho do Vento, il. Graça Lima, Ed. DCL, SP.

Que Rogério é um apaixonado e expert sobre a África não se discute. Este livro que ele nos traz vem mostrar sua emoção ao (re)contar lendas dos povos africanos.

O livro fala dos bosquímanos, um povo nômade que habita o deserto de Kalahari. E como naquele continente as lendas e histórias estão sempre presentes no cotidiano familiar, o autor nos apresenta “O Filho do Vento” para nos deliciar com sua narrativa marcante; contando a vida familiar, suas lutas contra as intempéries, bichos e invasões de outras tribos.

O foco da narrativa é uma criança bem traquina – que é o nosso herói –, e vocês podem imaginar do que ele é capaz quando encontra um menino de sua idade...

A difícil relação entre texto e ilustração está muito bem resolvida, através do esmero do projeto gráfico. O trabalho excepcional de Graça cria um clima de cumplicidade no qual o onírico e o real se fundem. Os desenhos levam o leitor para um território desconhecido, o do solo africano e, também, o do imaginário, que privilegia o sonho e a fantasia da criança.