Sucata, imaginação e profissionalismo fazendo a diferença

Por Leonardo Max

Ele não inventou a fórmula da Teoria da Relatividade, mas, a exemplo do famoso físico alemão Albert Einstein, as criações do professor de Física Rinaldo Paulino de Souza têm despertado o interesse dos alunos do Colégio Estadual Nuta Bartelet James, em Nilópolis, no Rio de Janeiro, por uma ciência considerada maçante quando vista somente pela ótica da teoria e da simples resolução de equações algébricas. Trata-se de diversas engenhocas construídas pelo próprio Rinaldo, nas quais é aplicada, literalmente, toda a teoria ensinada na sala de aula. O professor-inventor explica que visa a estimular a curiosidade e o entusiasmo do aluno, de forma que o desejo de descobrir funcione como coadjuvante do processo de ensino-aprendizagem:

É necessário acabar com o enfadonho método de ensino da sala de aula. Quando teorizamos exageradamente, acabamos reduzindo a Física a um simples processo de solução de equações algébricas. E isso é nocivo ao aluno que ainda não tem capacidade de abstração.

A sucata é a principal aliada de Rinaldo para dar forma aos seus inventos. Munido de muita habilidade e imaginação, o professor não mede esforços para confeccionar os instrumentos: visita ferros-velhos, está sempre atento a objetos em desuso que podem ser reaproveitados, além de estimular os próprios alunos a trazer materiais que se encontram abandonados em suas casas. São ligas metálicas, fios condutores de energia, madeira, lasers vendidos em camelôs, brinquedos com defeito etc. O processo de criação dos inventos é variado. Alguns podem demorar apenas algumas horas, enquanto outros, mais elaborados, levam semanas.

Um exemplo é o invento intitulado Máquina de Heron, que explicita o processo de transformação da energia. Na verdade, trata-se do princípio físico que faz mover o trem a vapor. Com uma simples lâmpada queimada, dois tubos de ferro para a saída do gás, água e uma fonte de calor para gerar o vapor, o professor demonstra como são movidas as locomotivas, transformando o vapor em força mecânica geradora de movimento. Segundo o educador, o invento ensina que nós não criamos nada na natureza, apenas transformamos um forma de energia em outra.

Os instrumentos são simples. É o caso do que simula a idéia de uma usina geradora de energia. Com uma polia de madeira, um disco laser velho, um imã, uma lâmpada queimada de um volt e fios condutores, cria-se uma usina em miniatura. Ao girar a polia, a energia mecânica é transformada em energia elétrica. A função do imã é acumular elétrons, gerando uma corrente elétrica que acende a lâmpada queimada.

Outro invento é a adaptação de um projetor a laser sustentado por uma barra metálica móvel. Ao aquecer a barra, o metal se dilata e altera o ângulo de incidência do raio luminoso projetado num anteparo. Ao ser informado de dados como as distâncias do projetor ao anteparo e dos pontos luminosos projetados, o aluno é levado a calcular a dilatação da barra metálica por uma operação de semelhança de triângulos. Rinaldo explica que foi exatamente esse princípio físico que ocasionou o acidente ocorrido há algumas semanas na Linha Vermelha:

“A barra de ferro que sustenta o vão da auto-estrada se dilatou em função do calor, de modo que o peso aplicado no centro do vão fez com que ele cedesse e caísse. Ao se defrontarem no laboratório com fenômenos da Física que reproduzem situações do dia-a-dia, os alunos são levados a refletir sobre como podem exercitar o que aprenderam no mundo real”, comenta.

Lecionando Física desde 1970, Rinaldo diz que, aos poucos, foi se conscientizando de que somente com uma ampla reformulação em sua prática pedagógica, que se mostrava impotente em despertar entusiasmo nas aulas, poderia devolver o interesse do estudante do Ensino Médio pela Física.

Sua próxima meta é promover em novembro próximo, juntamente com o também professor de Física Anselmo Oliveira, uma Feira de Ciências que visa a entrelaçar as atividades de todas as disciplinas, seguindo a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pelo Ministério da Educação.

“Na natureza, a Matemática, a Física e a Química não aparecem separadas. Pretendemos utilizar a Física para ensinar de uma maneira interdisciplinar”, disse o professor. O critério de avaliação bimestral também vem sofrendo mudanças. O educador divide suas turmas em duplas e passa trabalhos que devem ser executados no próprio laboratório. As notas finais dos estudantes derivam do sucesso, ou não, da aplicação dos experimentos propostos. Atualmente, a prova escrita tem um papel apenas secundário.

Rinaldo se dispõe a auxiliar e instruir os professores interessados em construir algum experimento. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail rinaldoaps@ig.com.br.

Colégio Estadual Nuta Bartelet James
Professor Rinaldo Paulino de Souza
Tel.: (00xx) 2792-2347/ 2691-7011.