Por Sandra Martins

Estimular o aluno a interagir com a sociedade, despertando nele o interesse pelas artes, é o objetivo do Programa do Núcleo de Artes do CPPII, que, através de atividades prazerosas, ajuda a revelar o talento de vários jovens, tirando-os da ociosidade e integrando-os à sociedade.

Com um público-alvo bastante diversificado, o Núcleo trabalha com alunos portadores de necessidades especiais oriundos do Hospital Nise da Silveira, antigo Centro Psiquiátrico Pedro II, que têm dificuldades de aprendizagem e comprometimento motor; alunos da rede pública de ensino; e aqueles encaminhados pelo Centro Comunitário do Hospital CPPII, através de convênio assinado entre as Secretarias Municipais de Saúde e de Educação. “Não há exclusão, todos freqüentam juntos as mesmas oficinas, sendo inseridos em um só contexto. Os alunos de condutas típicas percorrem todas as oficinas.

 

Havendo interesse em algumas delas, eles são trabalhados depois”, afirmou a professora Suzana.

O Núcleo CCPII, desde sua criação em 1995, atende a cerca de 600 crianças, de 5 a 17 anos, e, atualmente, 30 mães de alunos do hospital. As atividades são divididas em oficinas de Artes Visuais (desenho, pintura, escultura e artesanato), Dança, Teatro, Música (com leitura de pauta musical, teclado, percussão, violão, cavaquinho e canto coral) e Prática de Montagem (integrando as quatro oficinas simultaneamente).

As dinâmicas realizadas nas oficinas seguem as diretrizes traçadas a partir de um projeto pedagógico discutido entre os 13 professores e dois coordenadores e, posteriormente, com os alunos, que serão implantadas no ano seguinte. E foi desta forma que, em 2000, os alunos puderam dinamizar a história do bairro através do Projeto “Engenho de Dentro, Quem não Saltar Agora, Só em Realengo”. Segundo os professores e coordenadores do Núcleo Lígia Moore e Sérgio Roberto Sampaio, em todas as oficinas, os alunos foram estimulados a pesquisar a história do bairro, ou seja, como ele começou, seus principais personagens e como ele está agora.

Com a integração de todas as oficinas, Realengo foi cantado e interpretado através de maquetes, figurinos e cenários feitos pelos próprios alunos. Na oficina de teatro, a peça “Retratos do Engenho” apresentou o cotidiano do bairro, discutindo a questão do trem e toda a complexidade inerente a um transporte de massa. Através das técnicas apreendidas, na oficina de dança, com a professora Denise de Sá Monteiro de Barros, os alunos enfocaram personagens como o pingente, o surfista de trem, o baleiro, a beata, o vendedor de amendoim, o trombadinha. Na oficina de artes visuais, sob a direção do professor Antonio Carlos Mandarino, foram confeccionados painéis que apresentavam a tradicional arquitetura da região.

Para este ano, os alunos estão dinamizando o projeto “Com o Tempo, o Amor”. Cada oficina trabalha um tipo de amor e sua diversidade: maternal, paternal, pelo esporte, pela arte, pelos animais etc. Mesclando os temas, os jovens pesquisaram como era expressado o amor nas décadas de 60, 70, 80 e hoje.

Na oficina de dança, estão sendo criadas coreografias e figurinos para relatar a opção do amor pacifista no subtema “O Amor e Não a Guerra”. As pesquisas desenvolvidas na oficina de música trouxeram desde os acordes românticos de Roberto Carlos até músicas mais elétricas e marcantes, incluindo o funk, que apresenta um cantar do amor nem sempre compreensível. O amor entre Romeu e Julieta será encenado com o grupo de teatro integrado de adolescentes e com o pessoal da terceira idade, sob a coordenação do professor Ricardo Melo.

Com as atividades realizadas nas oficinas, os educadores têm mais condições de observar, despertar e incentivar o artista nato que pode existir em cada um, bem como estimular a integração dos portadores de necessidades especiais e suas mães com o restante dos alunos.

A dinâmica desenvolvida no Núcleo não fica restrita ao espaço físico da instituição. Os professores levam suas turmas para fazer apresentações em escolas da região, visitar centros culturais, museus, assistir a peças teatrais e musicais. Através destes intercâmbios, muitos estudantes tiveram a oportunidade de ampliar seus horizontes, fazendo testes para o Conservatório Brasileiro de Música, Corpo Jovem de Dança do Teatro Municipal, Academia Centro de Dança Rio e para o programa Gente Inocente.

O Núcleo também promove reuniões e seminários de capacitação de professores em outras escolas municipais, bastando somente agendar os encontros. Para os coordenadores Lígia Moore e Sérgio Roberto Sampaio, o trabalho desenvolvido no Núcleo também aponta uma alternativa profissional para o alunado.

Mais informações:
Núcleo de Artes do Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII)
Rua Ramiro Magalhães, 521 – Engenho de Dentro – Rio de Janeiro – RJ
CEP 20730-460 • Tel.: (0xx21) 2591-4216