Por Cláudia Sanches Aproximadamente 840 alunos da Escola Municipal Mozzart Lago, da Educação Infantil à 8.ª série, levaram para as ruas da comunidade, em pleno mês de julho, o III Desfile Ecológico, com o tema Só o Sonhador Constrói o Futuro. A escola contou a saga de sonhadores que trouxeram o progresso para o país e as suas conseqüências para o meio ambiente. Em 1999, foi a vez de Navegar é Preciso, em função das comemorações dos 500 Anos de Descobrimento; em 2000, o Descobridor dos Sete Mares, que tinha como mote as grandes descobertas da humanidade.
Na primeira fase, os alunos começaram a reutilizar o lixo na confecção de artesanatos e fantasias de sucatas nas oficinas de artes, participaram de palestras sobre reciclagem e começaram a mobilizar seus pais e a sensibilizar os comerciantes locais através de campanhas que ressaltavam a importância da conservação da natureza. De acordo com Plínio, os próprios estudantes sentiram necessidade de sair das salas de aula. “Eles se entusiasmaram com a qualidade do material que já tinham produzido”, revela. À medida que o sucesso do projeto crescia, outros professores se engajavam. O resultado, diz Plínio, é evidente, não só na organização dos carnavais ecológicos, mas também nos corredores escolares e no bairro.
Quem vê a escola mirim passar não tem noção do processo de aprendizagem que está por trás do desfile. Cada tema ali abordado foi cuidadosamente trabalhado durante o ano letivo com os professores de todas as turmas e disciplinas, desde a letra do sambaenredo – analisada pela professora de Língua Portuguesa, passando pelas fantasias confeccionadas durante as aulas de artes, até a criação das alas. Por ser uma das mais expressivas manifestações culturais do país, e por ser um contexto no qual se pode explorar várias disciplinas inerentes ao currículo escolar, os docentes acabaram optando pelo desfile carnavalesco. “Existia a proposta de se utilizar música sertaneja ou música baiana, mas nenhum ritmo revelou a complexidade do samba-enredo, que é muito rico e propício para se explorar História, Geografia, Português entre outras disciplinas. Compusemos a letra, com os alunos de 5.ª à 8.ª séries, durante as aulas e encontros. A música desse ano foi o samba da Portela, do qual fizemos uma adaptação para o nosso tema. Ninguém pode imaginar o que se pode trabalhar com a letra do samba-enredo”, explica ela entusiasmada. Segundo a professora de História, Eliana Gentil, a escolha do tema Visconde de Mauá como o grande empreendedor do século XIX foi uma maneira de fazer a ligação entre o conteúdo de História que estava sendo ensinado e a discussão sobre meio ambiente: “Dentre as personalidades que sonharam com o progresso está o Barão de Mauá, que pensou um país desenvolvido, criou bancos, a iluminação a gás, os estaleiros etc. Ele era tão visionário para a época que chegou a ter mais popularidade do que o próprio Imperador D. Pedro II. Mostramos o sonhador no século XIX querendo um Brasil mais desenvolvido, mas também expomos as conseqüências dos avanços tecnológicos, como, por exemplo, a poluição da Baía da Guanabara.” As 16 alas foram divididas em subtemas relacionados à ação da humanidade sobre o meio. A ala Cantando e Voando nas Asas da Imaginação abriu o desfile com as turmas da Educação Infantil, levando a mensagem principal, que é o sonho como mola mestra das mudanças no mundo. Para representar a idéia, as crianças se fantasiaram de astronautas, que representaram o sonho da conquista do espaço, e de anjos, que simbolizaram a busca da paz universal. Outra ala que traduziu muito bem o tema foi a Água e Vida, da professora de História, Eliana Gentil, que abordou a questão do crescimento da cidade do Rio de Janeiro em contraposição à urbanização desordenada. A ala mostrou o passeio das moças na cidade e os escravos chamados “tigres”, que tinham a função de jogar os dejetos na Baía de Guanabara no final da tarde, em uma época na qual não existia rede de esgotos. Com isso, a professora explorou também Geografia, falando das fontes de energia e das redes de esgotos. |
A ala Em Tempos de Apagão Sejamos Luz, que fechou o carnaval, abordou a crise energética e de idéias, sugerindo solidariedade, cidadania e participação de toda a sociedade na questão da necessidade de não desperdiçar energia em tempos de escassez. A professora Dulcinéia Rodrigues, da 4.ª série, trabalhou bastante com essa temática, não só através da disciplina de Ciências, mas também de Língua Portuguesa, uma vez que levou para a sala de aula várias manchetes de jornal anunciando o Apagão, estimulando, assim, a leitura. A Geografia também foi explorada pela educadora, que discursou sobre as formas alternativas de energia, como o vento e o gás do lixões. A Matemática, por sua vez, também pôde ser estudada a partir dos números dos quilowatts que os alunos encontraram nas matérias dos jornais. “Essa ala sugeria que todos participassem, seja através de pesquisas, alternativas, solidariedade ou idéias. Todas as propostas foram espalhadas nas camisetas e cartazes dos alunos, mostrando que o importante não é apenas criticar, mas sugerir. Precisamos pensar. Estou emocionada, pois estamos formando uma geração mais consciente, muito melhor que a nossa”. Ao final do desfile, alunos e professores, felizes com o resultado, conseguiram mostrar que através da conscientização associada à ação mútua de cada um, muito se pode fazer pela preservação ambiental.
A letra do samba-enredo e alguns versos que foram trabalhados pelos professores de diversas disciplinas do Mozart Lago:
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