Alunos encenam peça e expõem trabalhos ressaltando a importância de cada profissão

Por Andréia Brilhante

O que seria do engenheiro, se não fosse o gari? Do arquiteto, se não fosse a empregada doméstica? E do advogado, se não fosse o pedreiro? Com o objetivo de mostrar o valor de todas as profissões exercidas com dignidade, o Colégio Estadual Nicarágua, localizado em Realengo, concluiu o projeto pedagógico do primeiro semestre, com a apresentação de vários trabalhos do Ensino Médio. O ponto de partida foi a pergunta sobre o que os estudantes desejariam ser quando crescessem. Metade dos alunos da professora de Língua Portuguesa, Sandra Vitezi Ramiro, uma das organizadoras do evento, queriam ser jogadores de futebol e o restante ficou dividido entre modelos e profissionais do turismo.

As turmas trabalharam com redações, músicas, cartazes, exposições e peças. Uma das tarefas mostrou profissões que estão desaparecendo do cenário social, como o quitandeiro. Uma aluna entrevistou um profissional da área, de 79 anos, que perdeu a quitanda para o competitivo sistema capitalista. Ao lado da quitanda foi erguido um supermercado. Quando questionado sobre o que sentiu ao ter sido obrigado a fechar a quitanda, ele apenas chorou, demonstrando, através de suas lágrimas, que o crescimento acelerado do país muitas vezes deixa sérias seqüelas na vida do ser humano.

No segundo ano, o colégio trabalhou com o tema “Sonhos que Alimentam Almas”, baseando-se naquelas pessoas que trabalham com o que gostam. Nesta fase, foi montado um mural com recortes da seção de classificados de jornais com profissões de A a Z, além da exposição de artesanato mostrando como vivem os artesãos de hoje, na era dos shoppings, na qual as pessoas abrem mão de produtos trabalhados para comprar os industrializados por preços mais baixos.

“A Cigarra e a Formiga”

Um dos momentos mais emocionantes foi a apresentação da peça “A Cigarra e a Formiga”, uma adaptação da fábula de Esopo. A cigarra canta, enquanto a formiga, que representa o operário, trabalha o dia inteiro no verão. Quando chega o inverno, a formiga tem o que comer, mas a cigarra não tem nem onde ficar. Na história original, ao pedir ajuda à formiga, ela nega. Porém, na adaptação, além de lhe dar abrigo, a formiga elogia a cigarra: “... O que seria de nós, trabalhadores, operários, funcionários públicos, enfim, toda a classe assalariada, se não fosse um pouquinho de alegria? E foi isto que a senhora trouxe para mim, pois, com o seu lindo canto, o meu sofrimento foi amenizado, minha batalha tornou-se menos árdua...”. O público aplaudiu.

A dramatização da música “Cidadão”, de Lúcio Barbosa, também arrancou muitos aplausos da platéia. A história fala de um operário que fez três obras e não pode entrar em nenhuma delas, exceto na última, uma igreja. O operário chega perto de um edifício que ajudou a levantar e um cidadão lhe pergunta se está admirando ou querendo roubar, ao que ele responde: “Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido, dá vontade de beber e, pra aumentar o meu tédio, eu nem posso oiá pro prédio que eu ajudei a fazer...”. Quando chega à igreja, o operário diz: “Tá vendo aquela igreja, moço, onde o padre diz amém? Pus o sino e o badalo. Enchi minha mão de calo. Lá, eu trabalhei também.... e foi lá que Cristo me disse: Meu rapaz, deixe de tolice. Não se deixe amedrontar. Fui eu quem criou a Terra, enchi o rio, fiz a serra. Não deixei nada faltar. E, hoje, o homem criou asas e, na maioria das casas, eu também não posso entrar”.

Ao término do trabalho, a professora Sandra comemorou o aumento da qualidade do ensino do Colégio Nicarágua e afirmou: “Não podemos ficar só repetindo lições, mas precisamos renovar”. Segundo o diretor do colégio, professor Jo

rge Luiz Portilho Bentes, e o corpo docente, o objetivo do evento ultrapassou as expectativas, o que os deixou muito felizes e entusiasmados para, brevemente, promoverem novos eventos de conscientização do exercício da cidadania entre os alunos do colégio.

Professora Sandra Vitezi e diretor Jorge Luiz Portilho
Tel.: (0xx21) 2401-5733