Hei de vencer mesmo sendo professor! Não adianta me seqüestrar, sou professor! Frases como estas são freqüentemente estampadas em camisetas ou em adesivos afixados em pára-brisas de carros. Retratam um jeito satírico de protesto de alguns componentes da classe, procurando demonstrar que o status do magistério anda em baixa. Baixos salários, perda do prestígio social, perda do poder aquisitivo, falta de boas condições de trabalho e rotina altamente estressante são alguns dos reclamos dos profissionais que se dedicam a educar um país com aproximadamente 4.421.332 alunos da Pré-escola, 35.717.948 do Ensino Fundamental, 8.192.948 do Ensino Médio, e 2.369.945 do Ensino Superior, totalizando cerca de 50.702.173 estudantes (fonte: Censo Escolar 2000 e Censo de Educação Superior 1999 – Inep/MEC), pouco menos de 1/3 da população brasileira.

O professor trabalha com a “matéria-prima” mais complexa dentre todas as outras – o homem –, que, segundo suas complexidades, exige um trato especial e um manejo que resulte de técnicas apuradas para a sua “elaboração”, as quais implicam a produção de seu conhecimento, na acumulação de suas informações e na composição da formação de seu caráter.

Para isto, o mestre, teoricamente, precisa ser o exemplo vivo de uma vida exemplar. A sociedade o vê como referência e, de certa forma, cobra que ele esteja sempre bem-vestido, bem-informado, bem-humorado, bem-preparado, bem-disposto, bem... bem... bem... É necessário que seja o exemplo de cidadão, que não cometa ilícitos, que não tenha problemas com seu crédito pessoal e que não fale palavrões. Em suma: um comportamento modelar. Afinal, trata-se de um professor – profissional que lida com a inteligência humana e com o saber.

Majoritariamente, esta mesma sociedade não supõe, no entanto, que uma grande virtude do nosso professorado, entre outras, é a capacidade de superação pessoal das adversidades que se apresentam cotidianamente para que as atividades acadêmicas sejam realizadas, mesmo com as deficiências estruturais pelas quais passam o ensino e seus profissionais no Brasil.

 

A saúde do professor, por exemplo, é uma questão preocupante. Muitos mestres estão lecionando sem condições ideais de saúde. Recentemente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Sindicato Estadual de Profissionais de Ensino (Sepe), constatou, em pesquisa realizada com estes profissionais, que os problemas psiquiátricos são a maior causa de afastamento dos educadores das salas de aula, chegando a 26,8% dos casos. Outra pesquisa, feita pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), aponta que a “Síndrome de Burnout” está afetando aproximadamente 30% dos profissionais de ensino, fazendo com que estes percam o entusiasmo pela profissão. Problemas com a voz, com o coração e ortopédicos somam-se no quadro de insalubridade ao qual estão sujeitos tais profissionais.

No entanto, para o alento e motivação dos que acreditam que a Educação ainda é a solução para os problemas do Brasil e civilizatório, e mesmo com esta realidade tão singular de nossos professores, a nação brasileira, coerentemente, reputa tais profissionais como um dos setores sociais que mais contribuem para o progresso e desenvolvimento do país, de acordo com uma pesquisa nacional de opinião, encomendada pelo Instituto Pão de Açúcar à Consultoria Feedback DataBase, publicada na revista Exame de 8 de agosto de 2001. O resultado de tal pesquisa não poderia ser melhor para os mestres, uma vez que os trabalhadores em geral tiveram 79% de aprovação, seguidos dos professores e educadores com 72%, industriais com 35%, comerciantes com 19% e jornalistas com 15%.

Se o lado difícil da profissão constrange e sacrifica a classe, esta outra face da moeda deve ser motivo de júbilo e esperança para os profissionais que educam esta nação. Afinal, os 228.335 professores da Educação Infantil, os 1.538.011 do Ensino Fundamental, os 430.467 do Ensino Médio e os 173.836 do Ensino Superior (fonte: Censo Escolar e Censo da Educação Superior 1999 – Inep/MEC) conseguiram sensibilizar a sociedade que reconhece a importância dos professores para o país. Esperamos que este reconhecimento tome lugar na consciência política e nas práticas administrativas das autoridades em favor do ensino e seus profissionais, para que o Brasil seja projetado em direção ao desenvolvimento e à justiça social. É mister que a Educação, alavanca para se alcançar esta realidade almejada por todos, seja impulsionada por mãos de profissionais motivados, revigorados e verdadeiramente valorizados, conscientes de que o papel do professor na sociedade é imprescindível não apenas para a capacitação do homem, mas também para tornar a civilização mais ética, mais fraterna, mais humana.

Ednaldo Carvalho
Jornal Educar