Através de projeto pedagógico, alunos conhecem a história de seu bairro e suas necessidades

Por Jacy Pereira

Quando começou a dar aulas no Ginásio Público Aarão Steinbruch, no bairro de São Bento, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, a professora de Geografia Rosângela Martins Teófilo percebeu que a dificuldade e a falta de interesse das turmas pela matéria que lecionava era grande. Com o objetivo de mudar esta realidade, ela criou o projeto pedagógico Escola Ativa, mostrando aos alunos uma forma prática e descontraída de aprender os temas ensinados em sala de aula. “A maioria dos estudantes não gosta de Geografia porque é uma disciplina que exige muita leitura e apresenta alguns nomes estranhos ao cotidiano deles. Muitos chegavam para mim e diziam que a matéria era chata, cansativa e isso me preocupava demais, porque o rendimento deles era muito baixo”, conta Rosângela.

Com o Escola Ativa, a professora conseguiu tirar a Geografia dos limites teóricos e mostrar aos alunos como a escala gráfica, o mapeamento e outros itens aconteciam na prática. A experiência começou a ser feita com os estudantes da 2.ª série do Ensino Fundamental. A proposta da professora era que os alunos saíssem pelas ruas do bairro onde a escola está localizada, fazendo um mapeamento da região. A turma aceitou o desafio. De prancheta, lápis e papel nas mãos, saíram pela comunidade desenhando e anotando o nome de todas as ruas. O trabalho foi acompanhado pela educadora e, além dos desenhos, incluiu fotografias, filmagens e entrevistas com os moradores. “A intenção era fazer com que eles conhecessem bem a história do bairro, suas necessidades e dificuldades. Queria também despertar neles o interesse pela pesquisa e fazer com que se descobrissem parte integrante da sociedade com direito de conhecer e participar das reformas e melhorias do local onde vivem”, ressalta Rosângela.

Depois do trabalho de campo e já com todas as informações nas mãos, alunos e professora se reuniram em sala de aula para elaborar um gráfico com todos os problemas encontrados no bairro. A partir daí, surgiu a idéia de fazer uma entrevista com o prefeito da cidade, José Camilo Zito, e apresentar a ele o resultado do trabalho. “Foram dois meses de tentativa, até que, finalmente, conseguimos agendar um horário com o prefeito, que elogiou muito a iniciativa”, comemora a professora, acrescentando que o projeto incluiu ainda uma entrevista com a diretora da escola, Geilsa Menezes Cruz.

O segundo passo foi organizar todo o material coletado. Com as fotos, os alunos montaram cartazes e painéis. Os desenhos das ruas serviram de base para a construção de uma maquete do bairro. Foram quase quatro meses de trabalho. No início de agosto, os estudantes puderam mostrar para toda a escola o resultado do projeto. “Fizemos uma exposição com todo o material, e as turmas das outras séries foram convidadas para a visitação. Todas as explicações ou esclarecimentos de quaisquer dúvidas foram feitos pelos próprios alunos”, conta Rosângela.

O trabalho também foi documentado, desde o mapeamento das ruas até a entrevista com o prefeito, através de filmagem, que foi exibida na escola. “Percebi que as pessoas ficaram surpresas em ver os alunos trabalhando nas ruas, fazendo entrevistas. O trabalho chamou a atenção de professores e alunos e, hoje, já sinto que as coisas na escola estão mudando. Muitos professores estão fazendo atividades extraclasse com os alunos”, conta a professora de Geografia.

Segundo ela, depois que a idéia do projeto foi apresentada para a turma, o interesse pela Geografia aumentou muito, pois a matéria ganhou um novo atrativo e tornou-se mais interessante e fácil de ser assimilada. Houve até quem sugerisse a realização de tarefas semelhantes em outras disciplinas consideradas “bicho papão” como, por exemplo, a Matemática, a Química e a Física.

Em reconhecimento ao empenho da turma, a professora decidiu incluir as atividades do Escola Ativa na avaliação bimestral. “No início, o trabalho não valeria nota, mas depois percebi que eles estavam tão empenhados que resolvi transformar o projeto em um dos itens de avaliação, que é feita através de provas, trabalhos e testes. Porém, em nenhum momento, os alunos sabiam que estavam sendo avaliados. A surpresa veio no final”, relata a professora.

Agora, o trabalho está sendo desenvolvido com a turma da 7.ª série do Ensino Fundamental. Mas, desta vez, a professora solicitou mais que o mapeamento. Além de desenhar as ruas, os alunos estão fazendo a medição, já que o assunto em pauta na sala de aula é a escala geográfica. “Gosto muito de trabalhar com a prática, acho que facilita o processo ensino-aprendizagem. Como a matéria tem a ver com pesquisa e mapa, me veio logo a idéia de fazer trabalho de campo. O mais importante é que todos os objetivos foram alcançados. Hoje, os alunos têm muito mais interesse pela Geografia, não apenas como uma disciplina a qual eles têm de aprender para passar de ano, mas como um matéria agradável que permitiu-lhes conhecer a geografia socioeconômica e sociocultural do bairro onde moram e estudam”, conclui a professora.

Para o próximo ano, ela já pensa em colocar em prática um trabalho sobre a escassez da água no Planeta. Desta vez, pretende ser ainda mais ousada e inserir alunos de escolas vizinhas no projeto. “Quero unir o maior número de escolas possível em torno deste tema. A possibilidade da falta de água no Planeta é algo muito preocupante e, na minha opinião, nós, professores, temos a obrigação de alertar pelo menos a comunidade onde trabalhamos sobre esse risco”.

Ginásio Público Aarão Steinbruch
Avenida Presidente Kennedy, s/n.º
São Bento, Duque de Caxias/RJ.
Tel.: (0xx21) 2650-1221