Instituto de Biologia da Uerj oferece sugestões metodológicas aplicáveis ao ensino de Ciências e Biologia

Por Cláudia Sanches

Cloreto de sódio, sulfato de cobre, palha de aço, um tubo de ensaio, três pequenos pregos e uma colher, tudo dentro de um pote, envolto em um saco plástico, que traz também, passo-a-passo, informações sobre a sua utilização. Esse é um dos kits de Ciências oferecidos, a preço de custo, pelo Instituto de Biologia e Ciências da Uerj, aos professores das escolas das redes pública e particular que poderão ser utilizados no desenvolvimento de projetos científicos ministrados em salas de aula. Além dos kits, o setor oferece também empréstimo de material impresso dos acervos zoológico e botânico.

Além de segurança e facilidade no manuseio, os Kits oferecem aos professores do Ensino Fundamental a oportunidade de realizarem experiências em sala de aula, seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A idéia é auxiliar o educador no preparo das aulas a partir da problematização de situações cotidianas, através das quais serão aplicados os conteúdos, levando o professor a ampliar seus próprios modelos pedagógicos.

Criado por profissionais experientes no assunto, esse material é preparado para conteúdos específicos. Desde que chega o pedido do professor, passando pela sua criação, até o texto explicativo que vem em forma de manual, o trabalho é árduo e minucioso. “Ninguém faz idéia do trabalho que dá bolar um kit desses para uma matéria específica, desde a idéia até a sua execução”, comenta Felipe Fonseca, técnico de laboratório da equipe, que fabrica os pequenos e delicados kits, sob o olhar rigoroso da coordenadora Marly Veiga. Para se ter uma idéia, o texto que é redigido por Marly é revisado por um profissional e registrado na universidade. O texto é produzido de forma que não só o professor, mas o próprio aluno possa ler as instruções e manusear o kit, sem dificuldade de entendimento: “Os kits são idealizados para serem auto-suficientes”, explica.

O setor de Ensino de Ciências, que já existe desde 1977, sempre foi um centro de referência: “Desde que foi criado, esse lugar é visitado por profissionais que procuram material para ilustrar determinada aula ou retirar livros para os seus alunos. No entanto, a partir de 1992, começamos a produzir esses kits específicos, já que os professores chegavam aqui no centro, pedindo, por exemplo, um material elaborado para ensinar radiação de calor, então, cedíamos esses materiais mais direcionados, mas não tínhamos nenhum retorno. A demanda desses pedidos começou a crescer muito, representando, conseqüentemente, um gasto extra para a universidade, que não pode arcar com esse tipo de custo, e já estava ficando desfalcada”, explica a bióloga, que leciona Ensino de Ciências na Faculdade de Biologia.

Assim surgiu, em 1994, o projeto Ciência no dia-a-dia, que viabilizou a formalização da venda dos kits a baixíssimo custo, com margem de 20% de lucro, sendo 10% destinado às notas fiscais e 10% para o reinvestimento na compra de novos materiais. O custo dos kits varia de R$ 1,00 a R$ 3,00. Hoje, já existem mais de 50 kits e outros estão sendo criados, como, por exemplo, o canhão, para uma aula de Física. A maioria desses kits pode ser utilizada várias vezes. “O processo de produção do canhão, que é feito em madeira, é mais complicado porque requer muita precisão para que sua mecânica funcione. Na tentativa, já fizemos três canhões”, conta Felipe, para dar um exemplo da complexidade do trabalho.

Outras idéias vão surgindo à medida que os professores vão ao centro falar de suas dificuldades e necessidades: “O projeto cresce graças à participação da comunidade docente e da própria Uerj, que nos dá apoio. A universidade pretende reaparelhar o Centro de Biologia e comprar livros para a biblioteca, que, afinal de contas, recebe cerca de dez professores por dia”, diz Marly, que na última exposição da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Salvador, fez o maior sucesso com a mostra de seu acervo zoológico e dos kits didáticos. As engenhocas pararam a garotada que passava em frente ao box.

Atualmente, o Centro de Biologia também trabalha sob encomenda. “As escolas particulares ou as Secretarias de Educação, não só do Estado do Rio de Janeiro, mas também de outras regiões do país, solicitam determinado número de kits”, diz ela, que está confeccionando, junto com seus seis estagiários, 50 prismas para aulas de Física”. A divulgação do projeto é tão grande que, atualmente, Marly é obrigada a reservar um dia para atender a demanda e ter tempo para produzir. Às terças e quartas-feiras, ela oferece gratuitamente uma oficina aos professores interessados em utilizar de maneira cada vez mais produtiva os kits didáticos. A idéia do projeto é ajudar os professores a ensinar melhor. Então, esse tempo é especialmente reservado para isso: tirar dúvidas, dar referências bibliográficas, fazer consultas e até aproveitar melhor esse material em sala de aula.

Setor de Ensino de Ciências e Biologia da UERJ
Tel.: (0xx21) 2587-7712
Professora Marly Veiga