Por Antônia Lúcia

A Unesco propõe a abertura de todas as escolas da rede pública estadual do País durante os finais de semana. Calma! Essa é apenas uma das etapas do programa experimentado no ano passado, com sucesso, durante cinco meses, por mais de 100 escolas da Rede Pública Estadual do Rio de Janeiro, que transformou-se, por indicação da Unesco, no Programa Escolas de Paz.

O objetivo do programa é abrir as instituições de ensino nos finais de semana e, através dos seus próprios equipamentos esportivos, oferecer acesso à cultura, esporte, arte e lazer, promovendo, assim, um tipo de interação capaz de atrair não apenas os jovens regularmente matriculados nas escolas, mas também aqueles que ainda não estão inscritos na rede pública de ensino. A intenção é gerar uma aproximação mais informal entre a escola e a comunidade da qual os jovens fazem parte e, conseqüentemente, afastá-los das ruas, nos fins de semana, onde, segundo levantamento feito pela Unesco, é o período de maior incidência de atos violentos envolvendo a juventude.

Dentro desse panorama, o programa apresenta-se como uma proposta potencialmente capaz de promover oportunidades de convívio social entre jovens, através da implantação de uma cultura de valores e de uma Educação baseada nos direitos humanos, calcada na construção de uma cultura de paz. Esses direitos e conceitos têm sido resgatados através de atividades ministradas, desenvolvidas pelo Programa, tais como: trabalhos artesanais, gincanas, teatros, esportes – em especial o futebol –, música, dança, jogos interativos, atividades religiosas, contadores de histórias, TV e/ou vídeo, bingo, informática, reforço ao ensino, baile, curso de moda/modelo, além daquelas atividades já desenvolvidas no cotidiano das escolas como as oficinas de redação.

De acordo com o representante nacional da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, foi elaborado juntamente com a equipe de pesquisadores da UNIRIO um levantamento do perfil socioeconômico dos jovens em áreas consideradas de risco no Rio de Janeiro. A partir desse mapeamento, a organização apontou para a necessidade de dar continuidade ao projeto de forma mais abrangente e interativa.

Por ocasião da avaliação do Programa Escolas de Paz, foram respondidos 11.560 questionários por alunos de turmas das três últimas séries do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e do Supletivo, nos turnos existentes nas escolas (matutino, vespertino e noturno). Na análise desses questionários, foi dada prioridade a duas situações: a de participação e a de não-participação no programa, trabalhando-se, então, com uma média de 36% de alunos participantes e 64% de não-participantes.

A maioria dos alunos pesquisados, participantes ou não do programa nas 89 escolas escolhidas para serem alvo da pesquisa, tem entre 15 e 24 anos de idade, é do sexo feminino e solteira. Mais de 60% vivem com seus pais e cerca de 10% das jovens já têm filhos. Desse universo, mais de 15% trabalham e contribuem com parte de seus salários para o aumento da renda familiar. Os jovens participantes do Programa Escolas de Paz, em sua maior parte, freqüentam, durante o dia, as três últimas séries do Ensino Fundamental, enquanto a maioria dos não-participantes estudam no Ensino Médio, também no período diurno. Dentre os pesquisados, aproximadamente 10% não fazem nada nas suas horas de lazer. A TV é a principal forma de lazer desses jovens e a música é, também, indicada como uma das atividades preferidas.

As equipes que desenvolvem os trabalhos nas escolas são formadas por professores, animadores culturais, professores de Educação Física, merendeiras, vigias e talentos, em sua maioria, da própria escola, sendo que mais de 60% dos participantes do projeto atuam em função pedagógica. Os critérios básicos usados para o cadastramento das equipes, baseia-se, principalmente, no interesse em participar e nas experiências vivenciadas anteriormente em atividades extraclasse, bem como o reconhecimento de ações desempenhadas sem remuneração financeira.

O programa Escolas de Paz está sendo implantado também nos Estados de Pernambuco, Bahia, Mato Grosso e Alagoas, com resultados altamente satisfatórios. Segundo um representante da Unesco, inúmeros Governos de Estados e Municípios em todo o País estão contactando a Unesco a fim de se engajar. “Até o final do ano, cerca de mil escolas já terão aderido”, acredita.