
A
expressão corporal é um elemento de comunicação tão ou mais importante
do que a fala no processo de aprendizagem
Quantas vezes
você já perguntou para a classe se havia alguma dúvida e, apesar do silêncio
indicar que não, as caras de interrogação denunciavam um “sim”? Não se
inquiete. A comunicação — inclusive dentro da sala de aula — é das coisas
mais difíceis e complicadas que existem nas relações humanas. Duvida?
Estudo realizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla)
mostra que, numa apresentação, o maior impacto provocado no público vem
da linguagem corporal: 55% contra 38% da voz.
Obviamente,
o mesmo ocorre na escola. Todos nós emitimos sinais não-verbais de dúvida,
impaciência, insegurança. “É muito mais comum do que se imagina a incoerência
entre o que falamos e o que nosso corpo diz”, afirma o professor de expressão
verbal Reinaldo Polito, autor de livros sobre o assunto.
“Sempre percebi que os alunos me davam respostas influenciados por minha
fisionomia e meus gestos”, concorda Maria Aparecida Baracat, professora
de Língua Portuguesa em Araçatuba, interior de São Paulo. Ela lembra,
por exemplo, que tinha mania de passar as mãos na cabeça enquanto falava,
mas só percebeu isso quando foi imitada por estudantes numa peça de teatro.
Pode parecer apenas uma história curiosa ou engraçada, mas ela tem muito
a ver com algo bem mais importante: a aprendizagem. “Em casos assim, os
ouvintes deixam de prestar atenção no conteúdo que está sendo transmitido
e passam a reparar apenas nos tiques”, explica Polito.
Ana
Cristina Wey leciona na escola Projeto Vida, em São Paulo, e se deu conta
da importância da postura corporal quando, depois de alguns anos de experiência
com pré-escola, assumiu uma turma de 2.ª série. “Com os pequenos, eu me
desdobrava para me fazer entender. Com os maiores, achei que deveria privilegiar
a inteligência lingüística.” Ela logo descobriu que não basta. “O gestual
é fundamental com alunos de todas as idades.”
A
gesticulação das mãos fica restrita e o espaço do corpo, limitado. A voz,
por mais que você movimente a cabeça, será projetada numa única direção.
“O ideal é se movimentar a cada cinco ou seis minutos para não perder
a atenção dos alunos”, afirma o especialista.
A
postura animal enjaulado é a de quem caminha de um lado para o outro da
sala com a cabeça baixa, como se estivesse falando para si mesmo. O correto
é se aproximar dos alunos. Assim, eles se sentem importantes, prestam
mais atenção e são instigados a participar. Ficar o tempo todo parado
com os braços cruzados também é um erro. O professor deixa de utilizar
as mãos, importante elemento na comunicação. Ele demonstra não estar à
vontade e ter pouco interesse no que faz. Demonstra estar fechado e, em
troca, pode ter de encarar uma turma desinteressada.
|
O
tipo italiano é o que gesticula muito. Ao utilizar demais as mãos, as
pernas e a cabeça e fazer caras e bocas, o professor se entusiasma, age
só com a emoção e sem a razão. Muitas vezes, os estudantes não estão emocionalmente
envolvidos com o assunto. O mestre corre o risco de virar um bobo-alegre.
Saber
ouvir é outro mandamento. Colocar a mão sobre o queixo e o dedo indicador
sobre a boca fechada quando outro fala demonstra divergência e pouca paciência.
O professor-juiz está bloqueando as palavras e esperando a hora certa
de se expressar. Da próxima vez que ele abrir espaço para a turma dar
suas opiniões, poucos se manifestarão. A chave do sucesso é ouvir com
atenção e não esconder que está acompanhando o raciocínio.
Os olhos são
os principais responsáveis pela expressão do rosto. Através deles, você
conversa com os alunos, percebe um sorriso, uma fisionomia alegre, triste,
de dúvida ou de distância. Por isso, escrever na lousa e falar ao mesmo
tempo durante um longo período denunciam o professor-costa. A garotada
terá dificuldades para ouvi-lo e facilmente perderá a concentração e o
interesse. Não fale para si mesmo. Olhe para a classe, articule bem as
palavras, mire nos olhos de cada estudante.
Siga
as sugestões. E melhore ainda mais seu desempenho. “O sucesso do trabalho
depende da coerência entre o pensar, o sentir e o expressar”, conclui
Marília Marinho, professora de Psicodrama da Faculdade de Educação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
*Matéria cedida pela Revista Nova Escola
|