Por Sandra Martins Uma intensa e farta programação cultural atendeu aos gostos mais exigentes que incluíram desde palestras, leituras dramáticas, pequenas apresentações teatrais até encontros com autógrafos. Para os educadores, a culminância se deu com a realização do III Encontro de Profissionais do Ensino: dois dias dedicados à troca de experiências com grandes profissionais – educadores, escritores, jornalistas, artistas plásticos, terapeutas ocupacionais –, entre eles Cristovam Buarque, Luís Filipe Ribeiro, Moacyr Gadotti, B. Piropo, Beatriz Rezende, Regina de Assis, Affonso Romano de Sant’Anna, Edmir Perroti e Antonieta Cunha. Na ocasião da abertura oficial da Bienal, que este ano homenageou a Espanha, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, anunciou a criação, no próximo dia 28 de agosto, do Dia Nacional de Leitura nas Escolas, visando à promoção do hábito da leitura nas crianças. O estímulo à leitura deve ser buscado incessantemente, pois, como argumentou o prefeito do Rio de Janeiro, César, Maia, o livro é o DNA da escola e esta nos ensina a pensar. Segundo ele, seria muito difícil construir um país melhor sem a leitura e, para garantir a presença da rede municipal na Bienal, a Secretaria Municipal de Educação disponibilizou bônus de R$ 500,00 (quinhentos reais) para professores regentes de salas de leitura e de R$ 1,00 (um real) para seus respectivos alunos, a fim de que pudessem comprar livros. III Encontro de Profissionais do Ensino A arte de ensinar e aprender foi discutida sob diferentes óticas. O escritor Alcione Araújo, em sua palestra, denunciou os malefícios da Educação da racionalidade que induz a pessoa para a produção, e não para a plenitude da vida, e fez um alerta sobre as conseqüências da cultura do entretenimento, que condiciona e limita o ser humano. Já o educador Cristovam Buarque traçou paralelos sobre o relacionamento entre mestre e aluno desde os tempos da Grécia Antiga, em que havia troca entre professores e alunos, até o século XXI, no qual a escola já não é vista como o único canal de conhecimento. Para ele, a escola de hoje deve ser modesta para se reciclar ao aprender com seus alunos. Em relação à valorização do magistério, segundo o educador Luís Filipe Ribeiro, parcela da culpa pela desvalorização dos professores cabe, também, a eles, por alimentarem sua baixa estima. Como exemplo, criticou um adesivo de carros com a seguinte mensagem: “Hei de vencer, mesmo sendo professor”. A valorização do educador é um processo político e só se dará quando ele conseguir se impor na sua prática e no espaço social. Como processo político, Regina de Assis, presidente da Multirio, analisou a LDB, apontando avanços e lacunas. Entre os avanços, citou o Fundef, fundo criado para subsidiar salários de professores do Ensino Fundamental, e entre as lacunas, citou a exclusão dos professores de Educação Infantil e de Ensino Médio. O educador Moacyr Gadotti lembrou que, apesar de toda a evolução tecnológica, a escola padece de uma doença crônica: a violência. “Esta cultura da violência deve ser combatida e devemos criar condições para uma Educação de sustentabilidade, em que o ser humano passe a ser o ator principal e deva ser tratado como gente, que faz parte de um todo”, ressaltou o educador. |
O autoconhecimento foi colocado como um processo contínuo e ininterrupto de qualquer profissional que queira manter-se no mercado de trabalho. Neste aspecto, Natalie Silvado, da Multirio, recomendou que o educador deva estar atento e se habilite para um novo filão do mercado: a produção de material didático para ser veiculado em televisão, vídeo e na Internet. A distância, segundo a pedagoga Mirtes Wenzel, não pode ser colocada como um problema, tampouco a falta de tempo. Ela salientou que, com a Educação a distância, o professor terá, entretanto, que ensinar o aluno a aprender a aprender, a pesquisar, a usar as bibliotecas. “Em contrapartida, o educador terá de aprender a ter autonomia e a buscar novas estratégias, aprendendo com os novos meios”, disse, evidenciando que hoje quem não se atualiza, em qualquer profissão, fica defasado e fora do mercado de trabalho. Na compreensão de Beatriz Rezende, este é o momento em que o profissional da Educação deve se apropriar dos meios de produção virtual e deve valorizar o uso da imaginação para falar da realidade. “Com imaginação se mostra que a arte e a literatura não são somente disciplinas do currículo, mas uma maneira de olhar a vida e buscar o prazer, afinal o gozo na arte só existe se existir a imaginação”, colocou. No encerramento do III Encontro de Profissionais do Ensino, Affonso Romano de Sant’Anna, Edmir Perroti e Antonieta Cunha participaram da mesa-redonda “Do Mundo da Leitura Para a Leitura do Mundo’’, em que foram discutidas as possíveis formas de leitura e a importância do livro para o desenvolvimento do homem. Considerando o tema da mesa, Perroti falou que, para ele, palavra e mundo eram a mesma coisa. “É pela palavra que ganhamos o mundo’’, disse. O processo de leitura no Brasil e a forma como a leitura é tratada nas escolas e pela mídia foram alvos das críticas do poeta Affonso Romano de Sant’Anna. “O tratamento da questão mostra que existe a prática do discurso duplo, um problema muito característico da leitura no Brasil’’, afirmou. Affonso Romano argumentou, ainda, que a escola deve ser a primeira a ser inserida em qualquer projeto de incentivo à leitura, porém de forma participativa. Afinal, “não se pode pensar a questão da leitura se não pensarmos que a escola não pode ser uma célula apartada da realidade do mundo”, concluiu o poeta.
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