Por Sandra Martins

O que poderia ser um simples trabalho escolar sobre meio ambiente resultou em um projeto premiado pelo Crea-RJ e no credenciamento do Ciep 241 – Nação Mangueirense, na Vila Olímpica da Mangueira, como Centro de Referência do Movimento de Cidadania pelas Águas de São Francisco Xavier e Adjacências. O esforço, segundo a professora e coordenadora do projeto Kátia Tereza de Jesus, foi compensatório, à medida que as crianças começaram a perceber que também poderiam interferir na busca pela qualidade de vida não só dentro do colégio, mas também em sua comunidade, no país e no mundo.

Por conta do interesse despertado não só no alunado, mas também na comunidade, o Ciep 241 promoveu, no dia 5 de abril de 2001, o Workshop Terra, Planeta Água. O evento contou com a presença de Glauber Pinheiro, engenheiro florestal, Otávio Mafei, engenheiro civil, e Vagner da Silva, professor de Geografia e Educação Ambiental – todos representantes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Janeiro (Crea-RJ). Participaram, também, do workshop Paulo F. Bittencourt, presidente da Associação do Comércio e Indústria de São Francisco Xavier, e representantes de Associações da Comunidade da Mangueira e de Moradores do Telégrafo, Buraco Quente e de São Francisco Xavier.

Para Glauber Pinheiro, iniciativas como a do Ciep 241 devem ser aplaudidas por proporem a integração das crianças na sociedade através dos esportes e das discussões sobre o meio ambiente. “Isto tudo faz parte da proposta do movimento como um todo e os centros de referência atuam conforme as especificidades de cada região. No caso dos centros rurais, a população tem outro tipo de comportamento, fomentando mutirões para a preservação de rios. Já nos centros urbanos, a ação adotada será diferenciada, voltada para a qualidade de vida das pessoas e para a conscientização destas em relação à questão do lixo”, exemplificou.

Mas, a história deste trabalho começou, em 1999, com a professora Kátia Tereza, que vê a escola como um agente transformador e que não acredita que os alunos tenham de ficar apenas ouvindo passivamente. “Eles deveriam agir, pesquisar e transformar-se, também, em agentes produtores de informações”, disse.

Esse foi o pontapé inicial do projeto Terra, Planeta Água, que, através da conscientização dos alunos pela manutenção da limpeza do colégio, fez com que eles se engajassem na luta pela preservação do meio ambiente. A dinâmica consistia em fazer com que os próprios alunos passassem a fiscalizar as salas e a incentivar seus colegas a lutar pela preservação do local, que era um bem de todos. As regras da boa vizinhança foram discutidas e estabelecidas entre eles, sob a orientação dos professores, que também passaram a aderir às discussões sobre qualidade de vida.

As turmas de 5.a a 7.a série foram divididas em grupos e para cada um deles a professora Kátia propôs alguns temas sobre os quais eles poderiam também dar sugestões. Entre os grupos que se destacaram, um se mostrou preocupado com a questão dos mendigos, argumentando que, toda vez que chegavam turistas na cidade, os governantes procuravam escondê-los, sem, contudo, tentar resolver o problema. A partir desta constatação, eles passaram a entender que aquilo era uma questão social e, então, a professora Maria Luiza de Castilho França, de Filosofia, que também aderiu ao projeto, passou a trabalhar a questão do meio ambiente sob o prisma social.

Um outro grupo resolveu redigir uma carta à comunidade, alertando-a sobre o problema do lixo e as doenças provenientes dele, como a transmissão da leptospirose, baseando-se numa série de dados levantados sob a orientação da professora de Biologia, Maria Stela Goulart.

A água, o lixo, a poluição e tudo o que se pode fazer para preservar o meio ambiente foram discutidos sob diferentes enfoques com a orientação de diversos professores de diferentes disciplinas. Além dos já citados, aderiram ao projeto as professoras Edilse Maria Almeida Neves (Química e Matemática), Angela Mesquita (Artes) e o professor e diretor do Ciep Felismino, Antônio Simões de Menezes (Educação Física).

Com o desenvolvimento das tarefas, o trabalho ficou enriquecido a ponto de ter os seus textos (reportagens, entrevistas, pesquisas) e fotografias transformados em um jornal, transcrito manualmente pelos alunos, e apresentado na semana do Meio Ambiente em junho.

A apresentação foi um sucesso, pois a comunidade também foi convidada para participar do evento. O êxito foi tanto, que a professora Kátia resolveu inscrever o projeto em um concurso do Crea-RJ e, para surpresa geral, este ficou em primeiro lugar, recebendo o Prêmio Crea-RJ/1999. Com o prêmio em mãos, começou outra batalha, a de pensar no colégio como um centro de referência. No ano seguinte, 2000, o sonho transformou-se em realidade com o credenciamento do Ciep 241 como Centro de Referência do Movimento de Cidadania pelas Águas de São Francisco Xavier  e Adjacências, que é, na realidade, um fórum permanente de ações e discussões sobre a questão do meio ambiente.

A expectativa para este ano, segundo Kátia Tereza, é um maior envolvimento da comunidade. Como Centro de Referência, o colégio promoverá mais encontros, seminários e workshops, dentro e fora das dependências do colégio. Neste primeiro workshop, o objetivo foi discutir a questão da água. “As pessoas não estão se dando conta da seriedade do problema”, alertou a professora, ressaltando, ainda, que a idéia é trazer a comunidade para o centro das discussões, a fim de que juntos possam descobrir do que ela mais necessita, verificando, por conseguinte, como o Centro de Referência pode ajudar na busca de soluções.