
Projeto
facilita a reflexão e o acesso ao saber científico através de experimentação
Por
Andrea Franco
Promover
o intercâmbio da produção de conhecimento científico e tecnológico entre
professores, estudantes e o público em geral. Com esta idéia, instituições
de ensino do Estado, como o Centro de Ciências do Rio de Janeiro (Cecierj),
a Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ), o Museu de Astronomia e Ciências Afins
(Mast/CNPq), o Espaço Ciência Viva (ECV), o Espaço UFF de Ciências e a
Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) criaram
o Projeto Praça da Ciência Itinerante – um centro de Ciência e Cultura
com a perspectiva de facilitar a reflexão e o acesso ao saber científico
através da vivência, de formas de participação, experimentação e criação.
Segundo a coordenadora do projeto, Oneida Enne, a finalidade é ajudar
o professor na prática pedagógica, fazendo-o perceber o interesse e a
curiosidade das crianças e, a partir daí, realizar seu trabalho, tendo
como público-alvo professores de 1.ª à 4.ª série e alunos do curso de
formação de professores.
O
desenvolvimento do projeto é realizado através de oficinas (aulas práticas,
nas quais os alunos vivenciam o aprendizado). Na oficina “Química Numa
Visão Construtivista”, a professora Maria da Penha Jacobina, com a ajuda
de lâmpadas, tubos de conexão, garrafas de refrigerantes e cabos de vassoura,
improvisa uma destiladora, para mostrar como é feita a destilação simples
ou fracionada de uma determinada mistura. Uma balança, feita de copinhos
de sorvete, serve para determinar a densidade de qualquer material e provar
a Lei de Lavoisier. Na oficina intitulada “Sexualidade”, que orienta a
prática de uma vida sexual com responsabilidade, através da discussão
de métodos anticoncepcionais, do funcionamento dos órgãos sexuais masculinos
e femininos e da prevenção de doenças, como a Aids, houve a simulação
de uma gravidez com uma barriga postiça, feita pela aluna Patrícia Barbosa,
do 1.º ano do Curso de Formação de Professores, ao mesmo tempo em que
todos tiveram a oportunidade de conhecer os cuidados durante a gestação.
Para a psicóloga Sônia Camanho, pós-graduada em Sexualidade, o tema é
importante e deve ser trabalhado em sala de aula, pois apesar de o assunto
ainda ser tabu, é preciso mudar tal concepção. “Os adolescentes pensam
que estão bem informados, devido ao que é transmitido pela mídia, mas
não estão. Cabe aos educadores dar respostas para as suas dúvidas.”, ressaltou.
Há,
também, as oficinas integradas, que englobam várias matérias em uma única
aula, como, por exemplo, “O Pão Nosso de Cada Dia”, uma parceria do Cecierj,
UFF e Mast, na qual os alunos têm a oportunidade de conhecer a história
e a simbologia do pão, à medida que ampliam seus conhecimentos em Química,
História e Religião. Para a professora Maria da Penha Jacobina, responsável
pela oficina acima, o objetivo é tornar a Ciência mais popular, seguindo
a idéia de Darcy Ribeiro, e fazer com que a criança tenha um conhecimento
logístico maior, mais aprofundado. “Devemos construir no cérebro da criança
a curiosidade e a vontade de compreender o mundo. A vida toda é científica”,
enfatiza Maria da Penha. Segundo as coordenadoras
Oneida e Maria da Penha, a receptividade dos alunos é a melhor possível.
Eles participam, atentamente, fazendo perguntas e há alunos, inclusive,
que assistem às oficinas mais de uma vez. Para Daniele Oliveira, de 18
anos, aluna do 1.º ano de Formação de Professores, o projeto é um trabalho
bem construtivo para o ensino e de fácil compreensão para as crianças.
A amiga Rosângela Aparecida, 17 anos, da mesma série, achava que seria
chato, mas, depois de ver o Planetário Inflável, decidiu se inscrever
nas oficinas de Química e Sexualidade e aprendeu, com as aulas práticas,
o que ainda não era de seu conhecimento.
No entanto,
um outro público também garantiu o sucesso do projeto. Viviane Marquezine,
professora do curso de Formação de Professores, saiu entusiasmada da oficina
de Biologia “Vivenciando Ciências”, baseada na teoria de Jean Piaget em
relação à estruturação e ao desenvolvimento dos níveis mentais, e na teoria
de Vygotsky, no que se refere à interação social do indivíduo, na qual
é enfatizada a interatividade entre seres vivos e o meio ambiente, assim
como a evolução do conhecimento biológico e as relações com a tecnologia.
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A
observação de vários fenômenos científicos, além de oferecer o lazer,
a brincadeira e a admiração de sua beleza, é o que proporciona a oficina
“Ciência da Bolha de Sabão”, cujo tema tem caráter multidisciplinar, uma
vez que congrega conceitos de química, física, matemática e aspectos de
interesse da Biologia, no que se refere à formação das bolhas de sabão.
São observados fenômenos relacionados à luz, à composição química da água
e à tensão superficial. O “Planetário Inflável”, através de uma cúpula
enfunada, na qual são projetadas imagens do céu noturno e de onde os espectadores
podem observar e compreender os movimentos celestes, visa a despertar
a curiosidade para os aspectos relativos ao universo, simulando o céu
de cada estação e abordando temas básicos de astronomia, como a distribuição
das estrelas e as características de alguns planetas. Em “Artematicando”,
a partir da leitura e dramatização de um tema apresentado em forma de
poesia, os participantes são motivados a construir uma maquete, com materiais
coletados em jardins e ruas, como sucatas e argila, e a desenhar e escrever
textos relativos à maquete e à poesia. Conteúdos matemáticos, como localização
espacial e noção de direção são explorados a partir da poesia.
Em meio
a experimentações químicas, físicas, científicas e matemáticas, a arte
também tem sua vez. É o que mostra a “Oficina de Arte/Oficina de Barro”,
em que a proposta, segundo a professora Adriana Rettori, pós-graduada
em História da Arte pela PUC, é discutir e fazer as pessoas refletirem
sobre a arte, indagando de que forma a mesma pode contribuir na formação
do indivíduo. “A intenção do artista é chegar no outro. Se o espectador
não tem uma concepção do que é a arte, não adianta, porque ele não vai
entender. O observador tem que interagir com a obra. A idéia é preparar
o aluno para um olhar imaginativo”, explica Adriana. É nesse momento que
o aluno começa a ter o conhecimento da História da Arte, ou seja, quem
é o artista e a qual obra e período ele pertence. Primeiramente, os alunos
falam o que é arte para eles. A partir daí, surgem várias palavras e é
feito o levantamento das linguagens artísticas, como a pintura, a gravura
etc. Ao passar para a prática, eles desenham o que é pedido e, finalmente,
a argila é utilizada para dar forma ao que, antes, era apenas um esboço.
Segundo a professora Adriana Rettori, sua preocupação não é avaliar se
um trabalho é bonito ou não; o que conta é o empenho do aluno e o seu
esforço em realizar a atividade. A intenção é mostrar que o aluno é capaz
de produzir artisticamente. “A arte amplia o horizonte a partir do momento
em que o indivíduo se torna consciente do seu imaginário e de seu potencial
criador”, afirma Adriana.
No momento, as coordenadoras do Praça da Ciência Itinerante comemoram
a repercussão do projeto. Os representantes das instituições de ensino
envolvidas, assim como os professores, participarão da 9.ª SBPC Jovem
(que faz parte da 53.ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência), de 13 a 18 de julho, em Salvador. O congresso anual reúne
representantes de instituições e pesquisadores de todo o Brasil, incluindo
cientistas de todo o mundo. Os organizadores do evento conheceram o projeto
e foi feito o convite.
A
união de inventividade, técnica, dedicação e arte do Praça de Ciência
Itinerante já comprovou o seu êxito: em apenas dois anos, já ultrapassou
10 mil atendimentos a estudantes e professores em todas as regiões do
Estado. O sucesso do projeto tem feito com que municípios mais populosos
do interior fluminense solicitem repetidas visitações. “É uma oportunidade
muito grande de gerenciar pessoas com entusiasmo pela Educação de diferentes
áreas e instituições com uma proposta concreta de influenciar e colaborar
para uma melhor prática dos profissionais e de futuros professores”, enfatiza
Oneida Enne
Cecierj
Tel.: (0xx21) 284-3716
Coordenadoras: Oneida Enne e Maria da Penha Jacobina
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