Por Jaciara Moreira

Este foi o ingrediente principal do projeto pedagógico Cantarolando, desenvolvido pela equipe de professores da unidade III do Colégio Itapuca, localizado em Piratininga, Região Oceânica de Niterói. Criado para resgatar a cultura popular, promover a integração entre família e escola e valorizar a produção dos alunos, o Cantarolando transformou 51 estudantes da Educação Infantil (Maternal, Jardim I, II e II) em verdadeiros artistas.

Durante dois meses, canções folclóricas e infantis foram levadas para as salas de aula. O objetivo da equipe do Itapuca não era apenas ensinar às crianças, que tinham entre dois e cinco anos, as letras das músicas, uma vez que, através das cantigas, os professores visavam a trabalhar a dramatização, a expressão gráfica e, no final, gravar um CD e editar um livro com as vozes e ilustrações dos próprios discentes. A atividade foi uma das mais bem- sucedidas da escola, no último ano, e, além de agradar a pais e alunos, chamou a atenção de outros professores que já pensam em adotar a idéia.

“O projeto parecia difícil. No início foi até confuso, mas depois entramos no ritmo e percebemos o quanto seria grandioso para o nosso aluno e para nós, professores, executar tal propósito. Trabalhamos com vários materiais e atividades diversas, em momentos diferenciados. Em princípio, achávamos que os alunos iriam ficar cansados de trabalhar na elaboração do livro ilustrado, mas pudemos verificar, a todo instante, a felicidade e a realização deles por estarem desenvolvendo o projeto. Foi maravilhoso”, afirma a Professora Maria de Fátima Torrão Victor, revelando a avaliação da equipe sobre o projeto.

A idéia de criar o Cantarolando partiu da coordenadora pedagógica da Educação Infantil, Professora Eliane Nacif. No entanto, como ela faz questão de ressaltar, todo o corpo docente participou da elaboração do projeto. “A proposta foi amadurecida entre todos os professores”, enfatiza a coordenadora. Com o aval da equipe, a idéia foi levada aos alunos que, segundo a professora, logo aprovaram a nova tarefa. Em seguida, foi feita uma coletânea de músicas folclóricas e daquelas cantadas na rotina escolar das crianças. “Cada professor selecionou com a sua turma as músicas preferidas. Foram escolhidas de seis a 10 canções para cada turma”, conta.

No total, foram eleitas 34 cantigas. Para o Maternal, foram selecionadas as músicas Dona Formiguinha; Dona Aranha; Piaba; Alecrim; Sabiá na Gaiola; A Janelinha; A Canoa Virou e O Pintinho Amarelinho. No repertório do Jardim I, estavam A Carrocinha; Havia Uma Barata; Fui na Espanha; Boneca; Vai Abóbora, Vai Melão e Pirulito. A professora do Jardim II optou pelas canções Pombinha Branca; Se Essa Rua Fosse Minha; Noé; Sentidos; Macaquinho; Marcha Soldado; Quem Mora; Boa Tarde Amigos; Atirei o Pau no Gato e Hino da Olimpuca (sobre as Olimpíadas do colégio). E o Jardim III ficou com os versos de Samba Lelê; Fui ao Tororó; Doce de Batata Doce; O Cravo Brigou com a Rosa; Peixe Vivo; Brincar de Roda; Borboletinha; A Linda Rosa Juvenil.

Dramatização – O próximo passo seria divulgar as canções dentro da escola, tornando-as o mais familiar possível aos alunos. Nessa fase, além de cantar, as crianças eram estimuladas a dramatizar as músicas, ou seja, a traduzir com o corpo o que a letra dizia. “A primeira linguagem de um ser humano é feita através do corpo. Por isso, utilizamos a dramatização para que os alunos estabelecessem um contato bastante estreito com as músicas”, afirma Eliane.

O primeiro resultado concreto do projeto foi a edição do livro com as letras das canções e os desenhos dos artistas mirins. “Enquanto íamos trabalhando as canções, confeccionamos o livro”, acrescenta a idealizadora do projeto. Nas ilustrações, foram usados papéis coloridos, paetês, pinturas com guache, palitos de fósforo, macarrão, galhos secos de árvore etc. As professoras colocaram todo o material artístico disponível na escola à disposição das crianças e deram a elas a liberdade de escolher o melhor para as suas “obras”. “Aproveitamos a oportunidade para trabalhar a psicomotricidade, a criatividade, a autonomia, a livre expressão do pensamento e a produção em grupo”, esclarece Maria de Fátima, ressaltando que cada turma elaborou o seu livro, dando imagem e “vida” às letras das músicas selecionadas. A encadernação ficou por conta da gráfica da escola. Livro na mão, a missão seguinte era preparar a turminha para entrar em estúdio e gravar o tão esperado CD. Eliane Nacif relembra que a expectativa foi grande no colégio. “As crianças não falavam em outra coisa. Todos estavam muito ansiosos para conhecer o estúdio e gravar as canções. Eles estavam se sentindo verdadeiros artistas”, conta a professora.

No relatório sobre o projeto, elaborado pelo corpo docente, foram registrados alguns comentários feitos pelas crianças às vésperas da gravação do CD. “Mamãe vai ficar feliz e vai dizer: vocês viraram artistas”, comentou, na ocasião, Amanda Schwarz de Assis Farias, quatro anos, do Jardim II. O colega de turma, Rafael Souza Santos, também com quatro anos, completou: “Mamãe vai levar um susto quando ver eu no retrato do CD”(sic).

O disco foi produzido em dois estúdios. No primeiro, foi feita a gravação das vozes. As professoras acompanharam os alunos em todas as 34 canções. “Levamos cerca de duas horas para gravar todas as músicas. Cada turma gastou, em média, 30 minutos”, conta Eliane. Enquanto um grupo estava gravando, o outro era levado para conhecer o estúdio. “Eu achei muito legal gravar um CD. A parte que mais gostei foi a do estúdio. É muito legal. Tem um monte de instrumentos, microfones, um monte de botão. Quando chegamos lá, sentamos em rodinha e ficamos cantando. Foi muito divertido. Gostei muito, também, de ilustrar o meu próprio livro de músicas. Nós usamos lápis de cor, canetinhas e outros materiais. Cada um livrinho é diferente do outro”(sic), sintetiza a experiência Igor Benadeli, seis anos, atualmente na Alfabetização.

 

No segundo estúdio, o disco passou pela masterização – processo no qual os eventuais ruídos ocorridos durante a gravação são eliminados. Apenas os professores participaram desta fase, que levou cinco horas para ser concluída. “Nós ficamos dois meses – setembro e outubro – envolvidos no projeto. Mas foi muito gratificante. Recebemos agradecimentos e parabéns de todos os pais” afirma, emocionada, Eliane.

Foram produzidos 80 discos, que foram entregues aos alunos como presente de Dia das Crianças. As professoras tiveram a preocupação de dispor as músicas em quatro seqüências diferentes, a fim de que cada turma encontrasse, logo nas primeiras faixas do CD, as músicas que gravou. “Nossa preocupação era tornar o trabalho o mais personalizado possível. Além disso, a expectativa dos alunos era muito grande e não queríamos que, ao chegarem em casa, eles tivessem de ouvir quase todo o disco antes de poderem mostrar o seu trabalho para a família”, explica a coordenadora.

E engana-se quem pensa que a iniciativa fez com que cada criança valorizasse apenas o seu próprio trabalho. Segundo os professores, elas conheciam todas as canções selecionadas e fizeram questão de ouvir todo o disco. “Achei legal as músicas de todos os colegas no CD”, afirmou Gabriela Wander de Almeida, quatro anos, aluna do Jardim III.

Com base nas informações que recebeu dos pais, Eliane Nacif afirma que os alunos escutam o CD diariamente. “Isso valoriza a criança e a escola dentro da família”, avalia. Aproximação – Quando pensou em desenvolver o Cantarolando, a coordenadora pedagógica tinha em mente um questionamento: Como podemos inserir a família na atividade diária da escola? Assim, surgiu a idéia de produzir o CD, já que, na opinião da professora, “a música seria uma demonstração viva do dia-a-dia escolar das crianças ”. O projeto não só alcançou o objetivo como também chamou a atenção de professores de escolas vizinhas. Eliane conta que falou de sua proposta para os colegas e muitos demonstraram o interesse de realizar uma atividade semelhante com os seus alunos. “Acho muito bom. O projeto não é apenas do Itapuca e é muito importante que os colégios estejam, cada vez mais, buscando a integração aluno-escola-família”, opina.

Para a professora, as agendas lotadas que a maioria dos pais possuem, hoje em dia, os impedem de fazer um acompanhamento maior da vida escolar dos filhos, o que, segundo ela, é prejudicial para a formação da criança. “Com a vida atribulada que levamos, muitas vezes, deixamos de perceber o quanto é importante para os nossos filhos que paremos e conversemos com eles sobre o seu dia na escola, mostrando interesse pelos seus trabalhinhos e por sua vida no período escolar. Esse interesse torna-se um estímulo para eles”, adverte Eliane.

Devido ao sucesso, o projeto foi incluído na programação de atividades anuais da escola. Este ano, a equipe do Itapuca vai desenvolver o Cantarolando I – o primeiro foi um projeto experimental. As músicas ainda não começaram a ser selecionadas. No entanto, a professora Eliane adianta que os novos CDs e livros seguirão a mesma linha do ano passado. “Trabalhando com músicas folclóricas, estamos resgatando a nossa cultura que anda um pouco adormecida no universo infantil, por conta dos ‘pokemons’ e ‘digimons’ que viraram moda”, analisa.

Pelo cronograma da escola, as novas canções começarão a ser trabalhadas com as turmas a partir de agosto. A novidade deste ano é o fato de que os professores vão organizar uma festa de lançamento do projeto com a participação dos pais. Mais uma vez, a expetativa é grande no colégio. “Tenho certeza de que os alunos não vêem a hora de recomeçar o projeto. Além de estreitar a relação aluno-escola-família, o Cantarolando dá às nossas crianças a oportunidade de expressarem, através da arte, da música, do corpo e da imaginação, todos os seus desejos e conhecimentos. Ele é uma porta para o mundo desses pequenos seres humanos que pensam, sentem, agem e, sobretudo, sonham”, conclui a coordenadora.

Colégio Itapuca III
Telefone: 609-5777