Por Rebeca Carvalho

Anualmente, aumenta o número de famílias que aderem à Home School (escola em casa ou casa-escola). Independente da melhor tradução para a compreensão em nossa língua, esta nova modalidade de transmitir conhecimentos e informações surgiu com o advento do novo modelo de civilização.

Nos Estados Unidos, onde o sistema mais se desenvolve, atualmente, cerca de 450 mil a 1 milhão de crianças são educadas numa escola doméstica promovida pelo próprio núcleo familiar ou por uma estrutura criada para que o ensino acadêmico seja dado no próprio lar.

Os adeptos da Home School afirmam que, dentro de 20 anos, as atuais escolas poderão estar escondidas, uma vez que não serão capazes de atender às necessidades impostas pelos novos tempos. Prognosticam, também, que a figura central do professor no processo ensino-aprendizagem terá sua importância diminuída e suas tarefas no processo serão, aos poucos, substituídas por tecnologias avançadas e pela virtualidade das informações. Acreditam que, num futuro breve, as escolas de hoje serão como pequenas repartições nas quais o professor assumirá apenas um papel de conselheiro.

A idéia já chegou ao Brasil e a imprensa noticia o caso da família de um alto funcionário da República que argüiu, junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), o direito de promover a Educação de seus filhos em casa, encaminhando-os à escola apenas para fazerem as provas de avaliação.

O argumento da família, de certa forma, baseia-se na visão dos seguidores da homeschooling nos Estados Unidos, que sustentam que retirar as crianças de uma atmosfera escolar convencional acarreta resultados positivos e, também, as protegem dos efeitos negativos de um ambiente de competição, interdependência e/ou rivalidade com outras crianças.

O tema é polêmico e divide-se entre adeptos e opositores. Países como a Inglaterra, Austrália e Estados Unidos integram uma comunidade que se organiza, cada vez mais, na defesa do direito de adoção de um sistema de ensino que possa ser realizado em casa. As autoridades educacionais subordinam a autorização deste método ao cumprimento de requisitos que devem ser cumpridos pelas famílias. São exigidos, por exemplo, qualificação dos instrutores (pais ou responsáveis); carga horária de aulas compatível com a das escolas, ou seja, 900 horas no período elementar e 990 horas no secundário, de acordo com legislação em vigor, nos Estados Unidos; apresentação do currículo, temas diversos, textos, equipamentos educacionais e um planejamento de avaliação consoante às escolas convencionais.

Os americanos do Norte já contam com centenas de organizações privadas que incentivam os pais a se agregarem a este modelo. Outras assessoram juridicamente aqueles que se somam à Home school. As Massachussets Home School Organizition of Parents Educators ( http://www.masshope.org) e a Home School Legal Defense Association – HSLDA ( http://www.hslda.org) são exemplos de organizações que demonstram a convicção deste movimento, o qual, a cada mês, faz com que mais de cem crianças deixem as salas de aula.

Naturalmente, existem também aqueles que são contra a Homeschooling, acreditando que a restrição à convivência familiar poderá afetar as relações destas crianças com outras, inibindo, por conseguinte, as suas capacidades básicas de socialização. Tal análise é contraposta pelos defensores do Homeschooling, que dizem haver outros ambientes capazes de propiciar a interação da criança com a sociedade, como clubes, igrejas etc., não prejudicando, assim, o seu relacionamento social.

Mas o que diriam Paulo Freire, Pestalozzi, Jean Piaget, Emília Ferreiro e outros pensadores a respeito da Homeschooling?

Paulo Freire, em uma de suas obras, diz que “ninguém se conscientiza separado dos demais... e a consciência se constitui como consciência do mundo. Se cada consciência tivesse o seu mundo, as consciências se desencontrariam em mundos diferentes e separados – seriam nômades e incomunicáveis...”.

Pestalozzi, por sua vez, argumenta que “o lar é a melhor instituição de Educação, a base para a formação política, moral e religiosa” e, segundo ele, “a instituição educacional deveria se aproximar de uma casa bem organizada”. Juntos no Construtivismo, Emília ferreiro e Jean Piaget, dizem que “o conhecimento é construído a partir da interação entre os indivíduos e o meio em que eles vivem, e através de hipóteses que vão sendo continuamente testadas”. Para Froebel, a “Educação deve ter como fim o desenvolvimento pleno das possibilidades do homem, para seu benefício e da sociedade”. No seu ponto de vista, cabe à escola o desenvolvimento pleno da criança e sua integração social.

E você o que pensa a respeito da Homeschool?

Seria esta proposta educacional uma realidade nos países desenvolvidos, onde a sociedade já considera mais barato e mais eficiente educar seus filhos em casa, e onde esse tipo de ensino se transformou num novo e grande filão do “Businness” Americano? Ou seria, nos países do Terceiro Mundo e nos emergentes, um sistema de ensino segregacionista, em função da má distribuição de rendas, que possibilitaria apenas a uma elite privilegiada adotá-lo, beneficiando uma pequena camada social com uma Educação seletiva e exclusivista, que acentuaria, ainda mais, a desigualdade social?

Cedo ou tarde, esta polêmica ganhará maiores proporções entre nós brasileiros e é bom começarmos, desde já, a pensar no assunto. Dê a sua opinião a respeito.

 

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