O professor é o principal estimulador do hábito de leitura e hegemoniza o livro como fator fundamental na Educação

Por Rosane Carneiro

O Brasil comemora o aumento da escolarização na última década, revelado recentemente por pesquisas realizadas pelo IBGE. Hoje, a taxa de crianças entre sete e 14 anos no Ensino Fundamental é de 97%, contra 87% em 1992. No entanto, tal constatação não torna o país uma nação de leitores, pois a média de leitura do brasileiro ainda está em dois livros por ano, segundo o Ministério da Educação, sendo um deles de cunho didático, o que indica a prioridade dos livros na Educação. Os livros didáticos representam cerca de 55% do movimento do mercado editorial brasileiro, que, em 2000, demonstrou sinais de recuperação, após ligeira queda em 1999. Os dados são do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), que realiza, no momento, pesquisa sobre o hábito de leitura no país. O Snel é filiado à International Publishers Association (IPA) e ao Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc). O Sindicato realiza estudos sobre suas áreas de interesse e faz a coordenação de atividades editoriais, representando a categoria de editores de livros e publicações culturais em todo o Brasil.

“Investimos na difusão do ato da leitura”, enfatiza Paulo Rocco, Presidente do Snel e da Editora Rocco. Ele explica que uma das principais estratégias da entidade é a defesa das bibliotecas escolares e públicas. “É necessário que haja renovação do acervo das bibliotecas”, diz.

O governo brasileiro é o maior comprador da produção do mercado editorial brasileiro, através da aquisição de livros didáticos, representando, em média, 40% das compras do segmento, que, em 1999, chegou a negociar um montante de aproximadamente um bilhão e oitocentos mil reais – informação da Câmara Brasileira do Livro (CBL), instituição também promotora do livro e da leitura no país.

As editoras de livros didáticos tornaram-se, então, as maiores do mercado, e, recentemente, despertaram o interesse de grupos internacionais, como os casos da Editora Ática, que teve metade de seu controle acionário vendido para o grupos Vivendi, da França, e Abril, e da Editora Moderna, adquirida pelo grupo espanhol Santillana. A realização da Bienal, que acontece no Rio de Janeiro desde 1983, e em São Paulo desde 1970, é uma prova da força do mercado editorial brasileiro. “Eventos como as Bienais são grandes vitrines, que estimulam muito o hábito de leitura no país”, afirma José Carlos Venâncio, vice-presidente do Snel, Presidente da Editora Ground e um dos diretores da CBL. José Carlos, no entanto, alerta para a ação de comissões, nestas instituições, de fomento às pequenas e médias editoras e livrarias brasileiras, de caráter independente. “A entrada do capital estrangeiro só não pode acarretar a pasteurização da produção editorial, pelo estreitamento do espaço dos pequenos. Estes são necessários porque refletem a cultura do país”, diz, acrescentando também a importância da campanha em favor das bibliotecas públicas. Segundo José Venâncio, o governo ainda não possui uma política firme em relação ao assunto.

Bienal: O Grande Encontro

A X Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro acontece entre os dias 17 e 27 de maio, no RioCentro, onde são esperados mais de 500 mil visitantes. O número de expositores cresceu em 20% em relação à última feira e deve ficar em torno de 500 participantes.

Mas a grande novidade desta edição é a participação externa. Esta é a Bienal com o maior número de expositores estrangeiros. Argentina, China, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Jamaica e Portugal estarão mostrando suas produções literárias, tornando a X Bienal a mais internacional de todas. Para a Espanha, nação homenageada nesta edição, serão disponibilizados aproximadamente 500 m2. Os visitantes poderão contar, ainda, com a presença de autores espanhóis consagrados, como Carmen Posadas e Manuel Montalbán.

“Os espanhóis estão muito entusiasmados”, conta Paulo Rocco. A escolha da Espanha, segundo o Presidente do Snel, foi a forma encontrada para dar continuidade à discussão sobre a influência ibérica na cultura brasileira, a exemplo de Portugal, país homenageado na última edição do evento. A Espanha é também um dos países que mais edita livros no mundo, com forte tradição literária, e um dos melhores parceiros do Brasil no segmento editorial: as traduções de títulos para a Língua Portuguesa cresceram aproximadamente 7% (dados de 1999). Para professores e alunos, a Bienal reserva atrações especiais: o III Encontro de Profissionais do Ensino e a Visitação Escolar. No III Encontro de Profissionais do Ensino, dedicado exclusivamente aos professores, a Bienal oferece um espaço para reciclagem e reflexão sobre ensino, escola e o educador na atualidade. Educação a distância e no campo, ecologia, psicologia em sala de aula e técnicas de escrita são alguns dos temas presentes em oficinas, palestras, mesas-redondas e workshops do Encontro, que oferece também atividades como dança de salão e tai-chi-chuan.

Já a Visitação Escolar, com inscrições quase esgotadas, promove o encontro de alunos e mestres com autores, contadores de histórias e ilustradores. A estimativa é que se inscrevam 220 mil participantes, entre alunos e professores. Ao chegarem, os alunos devem adquirir as notas da Bienal (R$ 2,00 cada), que nos stands podem ser utilizadas na compra dos livros escolhidos. As escolas têm, ainda, acessos exclusivos, equipe de monitores treinados e atividades infantis, nos stands, especialmente planejadas para os estudantes. A Visitação Escolar ocorre no dia 18 de maio e na semana de 21 a 25 do mesmo mês, das 9 às 18 horas.

“O professor é o agente dinamizador da leitura em salas de aula e no evento. A ele caberá consolidar os interesses despertados na feira. Este trabalho é dos mais importantes na formação do caldo cultural que produz a Bienal”, afirma José Carlos Venâncio.

Enquanto isso, o interesse pelos livros e sua consolidação para as novas gerações – um dos tópicos suscitados pela Bienal – acontece, na prática, em iniciativas como a do Colégio Alfa Recreio, que realizou, em abril, a II Feira do Livro.

Mais informações sobre a X Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro no site: www.bienaldolivro.com.br

 

Esforços pela leitura

O Ministério da Educação promete lançar, durante a Bienal, o programa Leitura na Escola, que prevê suporte na formação de professores direcionados ao incentivo à leitura, com parceria nos estados e forte campanha de mídia. Entre vários programas de formação de leitores encampados pelo Ministério, destaca-se o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), coordenado pela Fundação Biblioteca Nacional. Criado em 1992, o Proler hoje está presente em 78 comitês espalhados pelo país, estimulando a leitura com o auxílio de aproximadamente 19 mil educadores-leitores.


Nova geração interage com o mundo dos livros