Por Rosane Carneiro

Carteiras enfileiradas, imitando a forma de um trem, crianças utilizando as mochilas como “cintos de segurança”. Vai começar a viagem e todos cantam a música de partida. Cada um leva o que quiser para o passeio pela “estrada de ferro”: lápis, brinquedo, biscoito. As vogais também são convidadas a viajar no trem e, da mesma forma, escolhem o que levar. Eva traz sua escova, Ivo seu ímã, Oto carrega o cão e seu osso, e Uli embarca com o ursinho dela. Já o Amor fica por conta de cada aluno escolher o que o personagem deseja levar.

É assim, em forma de história, com muitos personagens, que, há cinco anos, a professora e pedagoga Sandra Martins alfabetiza os alunos da Educação Infantil do Jardim-Escola Trenzinho Alegre, na Pavuna, zona norte do Rio de Janeiro. Mais do que um jeito diferente de ensinar, Sandra, diretora do colégio, há 15 anos, criou um novo método de alfabetização, no qual o nível de aproveitamento é 100% superior ao antigo, que era realizado apenas por silabação. Através do método chamado Uma Viagem Encantada no Trenzinho Alegre, hoje, eles iniciam o aprendizado pelos fonemas, buscando os sons durante a “viagem” com vogais e consoantes. O próximo passo são as sílabas, passando, logo em seguida, às palavras e frases.

“Os alunos não se envolviam com o aprendizado”, conta ela. A necessidade de criar o método veio com a disseminação do construtivismo. “O projeto foi, na verdade, uma ponte na busca pelo equilíbrio entre a forma tradicional de Alfabetização e a forma moderna, com base no construtivismo”, completa. Sandra criou um bloco de atividades no qual os alunos são apresentados às letras, através dos sons. Os professores, utilizando a expressão corporal e recursos como fitas k7, fazem os alunos se sentirem verdadeiros personagens. Depois desta imersão, reconhecendo as letras nos objetos do cotidiano, eles passam, então, a treinar a escrita (em letra script e cursiva) e desenhar e pintar os objetos iniciados com a letra estudada.

O método é composto de nove fases. A cada etapa, um novo grupo de letras é apresentado – cada início de fase corresponde a uma parada em alguma estação, com a apresentação de novos personagens, que representam as letras. Após as vogais, as consoantes v, d, l e m são apresentadas na primeira parada, e assim por diante: p, t, r e c; n, b, j e s; g, z, x e f; e, finalmente, h e q.

 

“Os alunos aprendem de a a z até o final do primeiro semestre. Em agosto, já podemos abordar as dificuldades, como dígrafos e separação de sílabas”, conta a professora Fátima Inácio dos Santos, que, até o ano 2000, aplicou o método nas turmas de CA. Em outubro, as crianças já iniciam a construção de frases. Fátima conta que um aspecto importante no aprendizado é o uso de livros paradidáticos, clássicos como Branca de Neve e os de Monteiro Lobato, ou mais recentes, como os de Ruth Rocha. Jornais e revistas também são utilizados, quando, em sala de aula, a turma procura por objetos com os sons dos fonemas ensinados.

Neste ritmo, maiúsculas e minúsculas, feminino e masculino, plural e aumentativo, entre outros, são passados às crianças, através de desenhos, ditados, lacunas para preencher e diversos exercícios, apresentados no bloco. Cada letra ensinada possui uma folha-cartaz, ao final do material, que os alunos destacam para pintar e levar para casa, com orientação dos professores, para serem pendurados no quarto, de forma bem visível.

“Minha mãe me ajuda, eu coloco em qualquer lugar”, conta, orgulhoso, Luiz Cláudio de Oliveira Júnior, seis anos. Ele divide a felicidade de conhecer “um montão de letrinhas” com o colega Igor Moura Campos, da mesma idade, que declara adorar as viagens de trenzinho. “Cada letra tem um barulhinho”, diz, anunciando a predileção pelo j. A explicação está no som do qual ele mais gosta.

Sandra Martins divulga o método em escolas interessadas na criativa proposta de alfabetização. A viagem encantada já foi aplicada com sucesso para adultos, segundo a diretora, que chegou a propor a edição do material – bloco de atividades e manual do professor – para quatro editoras, mas não obteve resposta satisfatória, e passou a editar os cadernos sozinha. “É quase humanamente impossível produzir tanto material para a demanda, que descobri existir, após lançar o método. Mas eu tento”, conta ela. Afinal, a viagem pelo conhecimento não tem volta.

Jardim-Escola Trenzinho Alegre
Diretora Sandra Martins
Telefone: 474-5454