Por Cláudia Sanches

Problemas respiratórios, digestivos, má dicção, dores de cabeça e até mesmo dificuldades de aprendizagem são alguns dos problemas que podem se manifestar como conseqüência da má formação da arcada dentária. Esta, entretanto, pode ser corrigida com o auxílio da ortodontia.

De acordo com Dra. Maria Cristina Botelho, dentista do Centro Odontológico Carioca especializada em Ortodontia, a má oclusão, isto é, o fechamento anormal da boca, pode ser de origem hereditária (genética ou etiológica), adquirida por hábitos, dificuldades respiratórias ou traumatismos causados por acidentes. Entre os principais problemas ortodônticos estão os “dentes trepados”, diastemas (espaços ente os dentes) e dentes superiores muito à frente dos da arcada inferior. A maioria das pessoas desconhece, entretanto, a relação destes problemas com diversas doenças.

“Muitas vezes, os fonoaudiólogos não conseguem ter sucesso no tratamento das crianças porque as dificuldades da fala delas estão relacionadas à dentição. Encaminhadas então a um ortodontista, fica diagnosticada a má oclusão dos dentes”, explica Dra. Maria Cristina.

Entre as causas etiológicas do problema, está, principalmente, a perda prematura dos dentes-de-leite. “Não se tem a cultura de dar a devida importância aos dentes-de-leite. Entre 6 e 12 anos, acontece a troca de dentes, e se a criança perde antes ou até mesmo após esse período algum dente-de-leite, vai haver má oclusão”, explica a dentista, alertando os responsáveis sobre a necessidade de observar os dentes-de-leite dos filhos.

Segundo a dentista, hábitos como chupar dedo ou chupeta, por tempo prolongado, podem ser extremamente danosos para a arcada. Problemas que obstruem as vias respiratórias da criança, como alergias, bronquites, adenóides e desvio de septo, e fazem com que ela durma de boca aberta também são prejudiciais: “A musculatura fica amolecida e a harmonia da face é comprometida. Estes hábitos desarmonizam toda a musculatura, podendo acarretar má postura e, conseqüentemente, sérias doenças de coluna”. Já os traumatismos também podem gerar abcessos que desviam o dente permanente. “O trauma muito forte pode alterar a posição dos outros dentes da arcada, assim como a perda de um dente faz com que os outros se movam na boca”, esclarece.

A especialista chama a atenção dos pais para uma das conseqüências mais graves da má oclusão para o aprendizado, o baixo rendimento escolar: “A criança dorme de boca aberta todos os dias e todas as impurezas penetram em seu pulmão. Assim, não há a devida oxigenação do cérebro, a criança apresenta sonolência e desconcentração e não utiliza todo o seu potencial”, diz a dentista Maria Cristina, acostumada a receber crianças, no consultório, que passam a render melhor na escola após o término do tratamento ortodôntico.

 

A má oclusão, que gera, ao longo dos anos, problemas de mobilidade dentária, aliada ao acúmulo excessivo de tártaro, acarreta, por sua vez, dificuldades na mastigação de alimentos e dores nas articulações mandibulares, porque os dentes não estão bem encaixados, e problemas periodontais (gengivites).

Fatores hereditários ou genéticos, como o tamanho das bases ósseas, isto é, a mandíbula pequena ou os maxilares pronunciados, têm solução. Basta ver o histórico familiar da criança e tratá-la enquanto ela está crescendo. Em adultos esses tratamentos, geralmente, devem ser cirúrgicos.

Segundo a Dra. Maria Cristina, cresce muito o número de adultos que querem “recuperar o tempo perdido” e procuram os ortodontistas. “Isto ocorre porque as pessoas estão descobrindo que, nos dias de hoje, a imagem é determinante no sucesso profissional. Como não existe coisa pior do que engolir um sorriso, nunca é tarde para se corrigir”, revela a dentista, que tem pacientes com mais de 40 anos.

Diagnóstico e conversa garantem o sucesso do tratamento

Após a radiografia panorâmica do crânio e a confecção de modelos das arcadas, começa o tratamento, que pode durar, em média, de três a quatro anos. Mas, para que seja eficaz, o dentista deve conhecer a história clínica do paciente. Este procedimento é o grande diferencial num trabalho de Ortodontia, que depende muito da colaboração do atendido.

“O diálogo é essencial. No caso da criança com problemas ortodônticos, o sucesso depende também muito da mãe porque cabe a ela incentivar o filho a seguir as instruções do ortodontista. Se o problema da criança é também esquelético e ela tem que usar um extrabucal, aí entra a habilidade da mãe, sua capacidade de persuasão. Mas, hoje em dia, a Ortodontia não é a mera colocação de aparelhos corretivos. Portanto, o diagnóstico deve ser bem elaborado, de modo a harmonizar boca e face”, diz a doutora Maria Cristina.

Existem várias técnicas de tratamento, que se diferenciam pelo tipo de força empregado para movimentar cada dente das arcadas. Daí ser imprescindível conhecer bem o diagnóstico para mover cada dente segundo a mecânica correta e harmonizar dentes e face. “Este é o diferencial entre quem trabalha certo e quem apenas sabe colocar braquetes, isto é, peças do aparelho fixo nos clientes”, explica a Dra. Maria Cristina.

Para ela, a Ortodontia já evoluiu muito. Mas ainda tem que ser mais acessível à população: “Os benefícios da Ortodontia não podem ser privilégios de uma pequena parcela de pessoas, porque cuidar dos dentes é cuidar da saúde. Mesmo quem só se preocupa com a estética não está de todo errado, pois estética também é saúde. Este é o melhor investimento que se faz, porque a imagem está ligada à auto-estima, e ao desempenho nas relações interpessoais”, finaliza.