Por Rosane Carneiro

Alunos da segunda série da Escola Municipal Afrânio Peixoto, no Andaraí, apalpam Vênus, o mais quente dos planetas, que está pendurado em um barbante, alinhado com os demais astros, em uma simulação do sistema solar. Eles acabaram de descobrir que Vênus, assim como Mercúrio, Terra e Marte, são rochosos, e que Júpiter, Saturno e Netuno são mais fofos, ou gasosos, e muito maiores do que os rochosos.

O sistema solar – em escala perfeita de tamanhos – faz parte de um festival de experimentos, que acontecem todos ao mesmo tempo, com nomes muito simpáticos: foguete a álcool, guindaste, submarino, periscópio, cineminha, e feitos com materiais também curiosos, como isopor, bolas de gude, garrafas e recipientes plásticos, caixas de madeira. Em cada experiência, um princípio da ciência: combustão, óptica, gravidade, hidráulica, entre outros. Durante uma hora (para cada turma), os experimentos ficam à disposição dos alunos, revertendo a noção antiga de que, em uma feira de Ciências, os alunos devem demonstrar seus conhecimentos, e não aprender.

A exposição interativa, chamada Show de Ciência, é da Ciência Interativa (Cint), e foi criada em 1998, após pedidos de várias escolas, satisfeitas com outro projeto da empresa, o Planetário Móvel. Desde então, o evento já visitou mais de 50 escolas, alcançando cerca de 7.500 estudantes. Alunos a partir de cinco anos podem participar do Show de Ciência, tendo orientação de monitores para o manuseio e a explicação dos fenômenos mostrados, com linguagem adequada para cada faixa etária. No momento a Cint tem em seu repertório 30 experimentos, mas em cada visita são expostos dez, escolhidos de acordo com o nível das turmas – há três níveis, do CA à 1ª série, da 2ª à 4ª série e da 5ª à 8ª. Não é necessário que os alunos possuam conhecimento anterior sobre os temas dos experimentos.

“Nossa intenção é principalmente despertar o interesse pela ciência, não apenas ensinar”, afirma Gelson Sachetto, um dos sócios da Cint, que acompanha as visitas do Show de Ciência às escolas. Ele explica que muitas vezes os alunos vêem assuntos que ainda não foram lecionados em sala de aula, mas que o fato de vivenciarem a experiência científica facilitará o aprendizado depois, através da associação. “Os experimentos mexem com o lado lúdico das crianças, abrindo sua percepção. Mostramos a ciência através da emoção, do coração”, completa.

Os mais curiosos, que fazem perguntas sobre o desenrolar dos fenômenos científicos, têm também a ajuda dos monitores, normalmente graduandos em áreas científicas como Astronomia e Física. Hoje, no total, o Show de Ciência conta com 12 monitores, que se revezam nas apresentações às escolas. Ricardo Trigueiro, um dos monitores, graduando de Física, narra a experiência:

“Normalmente são os alunos de classes como a 5ª, a 7ª e a 8ª série que desejam saber mais. Os mais novos brincam”, conta.

Diversão e aprendizado

Mas quem domina mesmo o ambiente junto aos alunos é Ronaldo de Almeida, coordenador científico da Cint. Com uma garrafa plástica de refrigerante e um recipiente de desodorante, ele demonstra o princípio da combustão, no experimento chamado foguete a álcool. Os alunos assistem, maravilhados e assustados, a garrafa de refrigerante ganhar impulso e avançar veloz sobre um fio, após Ronaldo disparar o foguete com um isqueiro. Mas, numa segunda tentativa, a experiência não se repete. Dentro do recipiente, apenas vapor d’água. Ele utiliza então uma bomba para injetar ar – feita de um pedaço de mangueira e um saco plástico. Lição: a combustão só acontece com a presença de oxigênio. “O que fizemos aqui foi ciência de verdade. Tivemos que parar e pensar”, afirma ele, após o experimento.

Neste ritmo, os alunos descobrem também o princípio da imagem em movimento, quando, em um objeto feito de madeira e desenhos em papel-cartão, percebem que, quanto mais rápido giram os desenhos, mais contínua fica a imagem – é o cineminha. Já em outro canto do Show de Ciência, muitos (disputando lugar) tentam desenhar seguindo o reflexo de uma trilha através de um espelho, no desenhando pelo espelho. Mais adiante, bolhas de sabão fazem a festa de outros tantos, enquanto mais alguns se acotovelam para dominar um braço mecânico movido a tubos de água, em um experimento chamado guindaste.

É no guindaste mesmo que Daniela Oliveira dos Santos, de 10 anos, fica mais interessada. “Eu gostei dessa feira de Ciências. Dá para aprender mais”, opina. Eridan de Souza Costa, de 12 anos, apesar de declarar que sua disciplina preferida é o Português, também aprova a experiência. “É bem diferente da sala de aula, porque lá a gente escreve o que aprende, e aqui mexemos nas coisas”, justifica. Já Fernando Felismino, de 10 anos, entretido com as bolhas de sabão, é só felicidade: “O que eu mais gosto é de Ciências mesmo”, diz. E existem ainda os casos mais direcionados, como Vinicius Barros Botelho da Fonseca, de 11 anos, apontado pela professora como um “cientista jovem”: no Show de Ciência, ele busca os experimentos que mostrem princípios de eletricidade. “A experiência é boa”, sentencia.

A professora da 2ª série Myrian Guimarães e Silva Nobre elogia a feira e destaca a realização dos experimentos com objetos cotidianos. “Há experimentos que podem até ser feitos em casa. É maravilhoso que os alunos possam trabalhar sobre o concreto”, afirma. A opinião é compartilhada pela coordenadora pedagógica da escola, Adriana Aguiar Azevedo. “Acreditamos que o aprendizado deve ser através da vivência. E o lúdico não pode estar separado da aprendizagem”, explica a coordenadora, satisfeita com a experiência, antes de chamar os alunos para voltarem à sala de aula. Os estudantes, encantados, reclamam.

Cint - Ciência Interativa
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