Nem só intelectual e moralmente a escola forma seus alunos. Ensina-os também a ser cidadãos, isto é, a usufruir dos direitos civis e políticos que o Estado lhes garante e a cumprir seus deveres em relação ao Estado. Neste ponto, a Escola Estadual Veralba Ferraz, localizada em Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro, e dirigida por Neuzimar Souto Pinto da Silva, segue à risca a cartilha. Alunos de 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental e do primeiro e segundo anos do Ensino Médio aprendem ali, efetivamente, a ser cidadãos conscientes e atuantes. E, ao que tudo indica, já sabem de cor a lição.

O professor João Luiz B. Eleutério, de História e Geografia, implanta desde 1998, na escola, o Projeto Direitos Humanos, Educação e Cidadania, no qual se engaja toda a equipe escolar.

Através de temas propostos, que serão pesquisados pelos alunos em jornais e revistas, o professor João leva a turma a ter noção da realidade imediata do município, do estado e do país em que está inserida. Este é um momento de tomada de consciência e reflexão. Depois, os temas são discutidos, de forma que os alunos entendam o que lhes é de direito, como reivindicar o que lhes cabe e qual deve ser o seu papel na sociedade. Atividades de teatro, capoeira e dança, jograis, desfiles, coral, música e exposições – quase sempre com o envolvimento da comunidade – servem para divulgar o que foi aprendido e propiciar melhor fixação do conteúdo.

De forma interdisciplinar, as professoras de Português aproveitam os temas das aulas de História e Geografia e, com base neles, pedem aos alunos que façam slogans, poesias, textos, estórias em quadrinhos e cartazes, para utilizarem nas apresentações. E as de Artes Plásticas ajudam os alunos a comunicar as idéias de forma visualmente atraente, impactante e clara, para enriquecer os trabalhos e aumentar o interesse por eles. O professor de História e Geografia, entretanto, articula o entrelaçamento das disciplinas.

Este ano, os temas analisados nos trimestres foram: “Brasil – 500 Anos Começam Aqui”, “Ecologia: Direito do Cidadão”, “Pluralidade Cultural: Folclore”, “Cidadania Ativa e Eleições Municipais”, “Consciência Negra: Zumbi dos Palmares” e “52º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

Os trabalhos renderam frutos como o II Seminário sobre Direitos Humanos, Educação e Cidadania e novos temas para análise: “Direitos Humanos e Família”, “Direitos Humanos e História do Brasil”, “Pedagogia de Projetos na Escola”, “Estatuto da Criança e Adolescente” e “Oficina Pedagógica – Educação e Direitos Humanos”, dentre outros.

O seminário culminou na apresentação da exposição “Fazendo Arte – Cidadania”, de Artes Plásticas e fotos; em concursos de redação cujos temas foram: “Armas da Paz” e “Ser Negro no Brasil”; em concursos de cartazes, desenhos e slogans; no lançamento do livro As Armas da Paz;; em shows musicais, jograis, coral, exposições de trabalhos manuais e no desfile “beleza negra”.

Os alunos tiveram, também, a oportunidade de vivenciar a cidadania plena. Fizeram uma caminhada ecológica pelo bairro em que a escola está situada, recolhendo e separando lixo e conscientizando a comunidade sobre a importância de tais atividades, através de cartazes educativos. Entrevistaram todos os candidatos a prefeitos, promovendo debates abertos à comunidade, e conheceram as propostas de cada um. Conversaram, também, com os moradores do bairro, principalmente os mais antigos, para saber o que melhorou ou piorou e como andava o exercício de seus direitos.

O projeto cresceu. Os alunos realizaram um concurso para escolher o símbolo de uma campanha de divulgação do projeto. Trataram de confeccionar camisetas com os dizeres “Sou cidadão e tenho direitos” e “Sou cidadão brasileiro e tenho direitos”. E, envolvendo a comunidade, divulgam o projeto cada vez mais, conquistam adeptos e exercitam a cidadania. Os esforços vêm dando certo. O projeto do professor João foi selecionado para apresentação no I Encontro Estadual de Professores de História, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Conquistado o estado, a meta é conquistar o país e ensinar aos brasileiros a serem cidadãos de verdade.

Exemplo de Atividades Interdisciplinares:

Tema 1: “Zumbi, Dia da Consciência Negra”

Tema 2: “Estudo da Declaração Universal dos Direitos Humanos”