Por Rosane Carneiro

Uma onça faminta avança sobre um galho, em direção a um macaquinho, em outro galho.
“Desculpe-me, esta é a lei da selva”.
Ao passar para o galho do símio, a onça o quebra com seu peso e cai. O macaquinho não perdoa:

“Desculpe-me, mas esta é a lei da gravidade. Infalível!”

Entendeu? Pura Física. Lançando mão de situações e histórias leves como esta, o físico Francisco Caruso expõe conceitos de Física, ilustrados com o traço alegre da estudante Luísa Daou, de 17 anos, aluna do Ensino Médio do Colégio Bennett.

Pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Francisco Caruso lançou, em julho de 2000, as Tirinhas de Física, caixinhas com histórias em quadrinhos que abordam desde conceitos clássicos de Mecânica, Óptica e Calor, a questões da Física moderna, como antipartículas e expansão do universo.

“Era uma idéia antiga, nascida da necessidade de experimentar uma nova linguagem no ensino da Física”, diz ele. O pensamento tomou corpo quando o professor conheceu Luísa, que, ao tentar uma vaga no programa Vocação Científica do CBPF, revelou ao mestre sua habilidade para o desenho. A estudante, que planeja cursar Desenho Industrial, aprovou a idéia e garante que também se beneficiou com o novo método. Além de uma compreensão melhor dos conceitos físicos, obteve progresso em Matemática. “A Física é experimental, como a Química, e os quadrinhos nos ajudam a alcançar o entendimento mais rápido”, afirma ela, satisfeita por sua participação fundamental no projeto.

A série de desenhos já está no terceiro volume – cada um equivale a uma caixinha, com 12 tiras – e a dupla pretende lançar o quarto ainda este ano. Feitas em lápis de cor, aquarela, canetas hidrográficas, criadas em computador ou resultantes de colagens, as tirinhas são boladas em conjunto, a partir de observações do cotidiano ou de questões que Luísa traz muitas vezes da sala de aula. Uma história pode surgir em minutos ou levar alguns dias para amadurecer, mas o tempo de passá-la para o papel é de cerca de duas horas.

As fontes de inspiração são muitas. Uma cena de levantamento de peso nas últimas Olimpíadas inspirou uma tirinha que corrige a falsa impressão de que o peso aumenta com o tempo, alardeada por um comentarista esportivo. Já a cena clássica do coiote que, em um desenho animado, sempre cai em um desfiladeiro ao perseguir o Papa-Léguas, gerou uma tira que corrige o erro – também clássico – de que os objetos caem em linha reta.

Sucesso

Cada volume é vendido a R$ 10,00 e impresso em edição independente de mil exemplares. Francisco Caruso contabiliza entre 500 e 600 caixas vendidas e revela que a venda financiará a edição das Tirinhas de Física – Volume 4. Ainda em fase de divulgação, após o lançamento na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Brasília, as tirinhas foram compradas e estão sendo planejadas para o ano letivo de 2001 por escolas como o Centro Educacional Anísio Teixeira e o Instituto Metodista Bennett, no Rio de Janeiro, embora instituições de outros estados também tenham interesse no material.

Os desenhos são indicados para turmas de nível médio, como complementação à cadeira de Física, explica Caruso. Mas o método utilizado para aplicá-lo em sala fica a critério do professor. “Eu, particularmente, utilizaria as historinhas como motivação, antes dos livros didáticos. Elas são lúdicas, despertam a curiosidade para o conteúdo da disciplina”, sugere o pesquisador, ressaltando que podem ser aproveitadas de muitas formas. “O professor pode também pedir aos alunos que criem seus próprios quadrinhos”, sugere.

“Para os alunos, a resposta é sempre inesperada”, comenta Rosângela Pinheiro, professora de Física da Sociedade Educacional Fernando Alves (Méier) e das escolas estaduais Antônio Maria Teixeira Filho (Leblon) e Inácio Azevedo do Amaral (Jardim Botânico). Ela adota as tirinhas em todas as turmas em que leciona mas, antes, prefere ensinar o conteúdo aos alunos. Distribuídos em pequenos grupos, eles devem relatar o conceito exposto na tirinha e interagir para discuti-lo. “Eles montam perguntas que eles mesmos respondem, dando aula uns aos outros”, conta. Depois, a professora os corrige e acrescenta o que é necessário.

Já no Instituto de Física da Uerj, as Tirinhas de Física são apresentadas aos futuros mestres da disciplina para que sejam montados projetos de aula com o material. As aulas dos formandos serão ministradas aos alunos do Colégio de Aplicação da universidade. “A idéia é fascinante”, elogia Maria Cristina da Silva Ferreira, professora da Uerj e do Colégio de Aplicação responsável pela utilização das tirinhas em sala. “Os futuros professores devem aprender a desenvolver, através dos quadrinhos, a crítica e a criatividade dos alunos, corrigindo distorções conceituais”, explica.

Francisco Caruso e Luísa Daou agora inserem, nas próximas histórias, conceitos ligados à cidadania. Têm planos, também, de montar uma homepage com os quadrinhos e publicar as Tirinhas de Física em livro, por alguma editora. A julgar pela boa aceitação das tirinhas, atingir tais objetivos parece tão certo quanto as leis da Física.

Francisco Caruso
Tel: (0xx21) 586-7287
E-mail: caruso@lafex.cbpf.br