

Por
Solange Ramos
No
último dia 22 de novembro, o Espaço de Formação do Educador Infantil (Efei),
em parceria com a gravadora de CDs infantis Angels Records, deu início,
em um seminário, à campanha de mobilização nacional Diga não à Erotização
Infantil.
O seminário, cujo tema recebeu o mesmo nome da campanha, reuniu, entre
participantes e apresentadores, professores, psicólogos, pedagogos, pediatras
e profissionais ligados à formação da criança.
A
discussão girou em torno das principais causas da má influência da mídia
e da música de forte apelo erótico nas crianças e das possíveis soluções
para o problema. “Hoje em dia, quando ligamos a televisão, as cenas de
sexo são banalizadas, exibidas todo o tempo para quem quiser ver. Nas
rádios, o bundamusic prevalece. E nossas crianças são obrigadas a digerir
todo esse lixo. Pior é existirem pais que batem palmas quando vêem suas
filhas com roupas sensuais, rebolando como mulheres”, indigna-se Silvia
Klain, coordenadora da campanha.
Tendo
em vista este quadro, o principal objetivo da campanha é não incentivar
ou permitir que as crianças falem, vistam-se ou dancem como adultas. “Presenciar
tais cenas seria como observar passivamente os menores que trabalham nos
fornos de carvão ou nos canaviais do Nordeste”, compara Silvia.
Segundo
especialistas sobre o assunto, a maioria das crianças é influenciada pelo
que vê e ouve devido, muitas vezes, à negligência dos pais. “A família
que é contra este tipo de ‘cultura’ e mostra para o filho que não é correto,
o faz desenvolver uma autocrítica sobre tudo o que passar a ver e ouvir.
Este é um processo natural na formação de um ser humano”, explica Maria
Fernanda Borges, psicóloga especializada em Educação Infantil.
Iniciação
Sexual Precoce
Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, já dizia que “toda criança possui
sua própria sexualidade” e não é de hoje que se sabe que ela deve ser
respeitada e desenvolvida naturalmente, na hora certa. O que acontece,
entretanto, é o contrário. A sexualidade natural da criança está sendo
despertada precocemente. Quem garante é a pedagoga Maria Lúcia Lara. Ela
explica o porquê: “Os grandes culpados são as cenas de sexo e músicas
que falam sobre sexo”, diz ela.
Uma
pesquisa organizada pelo Efei, divulgada durante o seminário, revela a
real dimensão do problema. Crianças de nove e 10 anos já começam a namorar.
Aos 11 e 12 anos, têm sua primeira experiência sexual. Quanto à prevenção,
o uso de preservativos, por exemplo, para não contrair doenças ou gravidez,
é ignorado praticamente por todas as crianças. Diante deste resultado,
a pediatra Cristina Reis defende um papel mais ativo na escola: “Sou mais
a favor ainda de a escola falar abertamente com os alunos sobre sexo.
Eles já o presenciam a todo o momento. Nas ruas, vendo outdoors; em casa,
vendo televisão e ouvindo música”.
A
Cultura do Consumo
A coordenadora da campanha aponta outro problema grave em nossos dias.
“Ao contrário do que muitos pensam, os canais de comunicação não têm o
menor compromisso com a cultura ou a formação dos indivíduos. Seu único
propósito é vender. Daí a manipulação infantil”, afirma Silvia Klain.
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A psicóloga Maria Fernanda Borges completa: “A criança que é erotizada
precocemente será uma grande consumista quando pequena e depois de adulta
também. Ela não aprenderá a desenvolver e praticar sua autocrítica para
saber se o que deseja comprar será realmente importante ou não. Simplesmente
vai comprar! Quantas vezes nos flagramos comprando coisas ou produtos
de que não precisamos?! Imaginem uma criança moldada para ser consumidora
inconsciente desde cedo?”, alerta Maria Fernanda.
A
Música e as Estórias na Formação Infantil
Segundo os especialistas presentes ao evento, a música é a grande responsável
pela formação infantil, principalmente na fase pré-escolar, pois ajuda
a criança a aperfeiçoar conceitos e aptidões, influenciando diretamente
seu desenvolvimento psicossocial. As estórias infantis também têm um importante
papel na formação da personalidade e do caráter da criança. Daí a contribuição
dos contos de fadas ser essencial ao desenvolvimento da imaginação da
criança e à superação dos conflitos humanos que se manifestam desde cedo
em seu universo. Por isto, é preciso garantir que a formação das crianças
não dê lugar à deformação e programas e músicas infantis sejam, de fato,
direcionados às crianças, o que só será obtido mediante um amplo esforço
de conscientização. Esta foi a conclusão do evento.
Como
Aderir à Campanha
Quem
quiser aderir à campanha e ser um “soldado voluntário contra a erotização
infantil” deve contactar o Efei, que está formando profissionais para
darem palestras em instituições, empresas, escolas públicas e particulares
no estado do Rio de Janeiro sobre o tema, alertando pais e educadores
sobre os perigos da cultura às avessas transmitida a seus filhos na atualidade.
Os participantes podem ser estudantes ou profissionais das áreas de Psicologia,
Pedagogia, Medicina, Música, entre outras. Para se inscrever, basta ligar
para os telefones (21) 535-3865 ou 286-0879 ou ir até o Efei.
Os
participantes serão treinados gratuitamente, durante um mês, em aulas
ministradas uma vez por semana durante três horas. Após o término do curso,
os alunos estarão aptos a ministrar palestras e propagar o extermínio
da erotização precoce, formando multiplicadores em cadeia.
Vale lembrar que a parceria do Efei com a gravadora Angels Records não
conta com patrocínios. Portanto, interessados serão bem-vindos. “Estamos
nesta batalha sozinhos. Se tivéssemos um patrocinador, tudo seria mais
fácil”, lamenta a psicóloga Maria Fernanda.
Espaço
de Formação do Educador Infantil – Efei
Rua São Clemente, 214/Cobertura. Botafogo.
Tel. (21) 286-0879
Gravadora
Angels Records
Rua Barata Ribeiro, 391/301. Copacabana.
Tel. (21) 547-2208
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