Ciente
de que toda instituição de ensino deve formar cidadãos reflexivos, a Escola
Estadual Marvia da Glória Borges Leite, em São Gonçalo, no Grande Rio,
criou e pôs em prática o projeto São Gonçalo com a Cara e a Coragem. O
projeto levou os alunos a analisarem as carências do município, o que
oferece à população, e despertou neles a consciência de cidadania. “Os
estudantes refletiram sobre a cidade, a ação dos políticos, a participação
social de cada um. Através da ação, estamos contribuindo para a formação
de cidadãos críticos, capazes de lutar e modificar o meio onde vivem”
afirma, orgulhosa, a idealizadora do projeto e diretora da Escola, Lucilia
Pontes dos Santos.
A
idéia do projeto surgiu durante os preparativos para a festa dos 110 anos
de emancipação política de São Gonçalo, comemorados no dia 22 de setembro.
“Queria questionar o que acontece na nossa comunidade e, ao mesmo tempo,
comemorar o aniversário do município”, disse Lucilia.
As
Fases do Projeto
O projeto foi dividido em duas partes: A cara – o que temos; a coragem
– o que queremos. Os alunos da 3ª série do Ensino Fundamental receberam
a missão de mostrar aos colegas a “cara” de São Gonçalo, ou seja, retratar
história, cultura, população, obras públicas e atividades econômicas do
município. Para os estudantes da 1ª, da 2ª e da 4ª séries, a tarefa foi
definir do que a cidade precisa. Mais cultura? Escolas? Lazer? Solidariedade?
Paz? A imaginação das crianças não teve limites. As professoras perguntavam
aos alunos o que eles queriam ver na cidade onde moravam e o que eles
respondiam ia sendo colocado em um mural. A participação dos alunos no
projeto contou pontos, que foram somados às notas dos trabalhos realizados
durante o quarto semestre.
Pérola Guimarães Barbosa, de 6 anos, aluna da Alfabetização, comentou:
“Queria que as pessoas tivessem mais amor”. Marluce da Silva, 12 anos,
matriculada na 4ª série, chamou a atenção para a violência e para direitos
dos cidadãos que não vêm sendo cumpridos. “Falta paz, educação e mais
emprego”, lamentou.
Os resultados da primeira fase do projeto foram satisfatórios. Ana Paula
Souza, 14 anos, estudante da 4ª série, resumiu bem o quanto os alunos
lucraram com a atividade. “Aprendi que paz e amor são sentimentos que
precisam ser cultivados. O trabalho levou a gente a pensar mais nos problemas
da cidade, na violência. Por que as pessoas são tão más?”, questionou
a adolescente.
Debates
na Escola
A direção da escola aproveitou a oportunidade para debater com crianças
e adolescentes da 2ª e da 4ª séries temas como prevenção contra doenças
sexualmente transmissíveis, como a Aids, drogas, preservação do meio ambiente,
reciclagem de lixo, respeito aos idosos e campanha de combate ao uso de
armas.
Para que os alunos entendessem mais sobre a Aids, após esclarecimentos
sobre prevenção, contágio e características da doença no colégio, foram
organizadas visitas ao Hospital Menino Deus, próximo à escola, e entrevistas
com os médicos dali. “Nós temos muitos alunos adolescentes que já estão
namorando e não podemos deixar que vivenciem uma situação de risco por
falta de informação”, esclareceu a diretora Lucilia Pontes.
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Filmes
e reportagens de jornais e revistas sobre acidentes ecológicos e reciclagem
foram mostrados aos alunos no dia em que os professores abordaram o tema
“a preservação do meio ambiente”. Na ocasião, discutiu-se como muitos
desastres ecológicos poderiam ter sido evitados e quem seria responsável
pelos danos.
Nas
turmas de 1ª série e da Alfabetização, os professores enfocaram respeito
aos idosos e desarmamento. Para que todos entendessem bem a importância
de cada tema, os professores não se restringiram a ensinamentos morais.
Estimularam as crianças a organizarem duas campanhas, uma para arrecadar
produtos de higiene pessoal para os idosos internados em um dos abrigos
públicos de São Gonçalo, e outra para incentivar os colegas a trocarem
armas de plástico por brinquedos educativos. “As duas campanhas foram
um sucesso. Além de conseguirmos arrecadar muitos sabonetes, desodorantes
e perfumes para os velhinhos, destruímos muitas armas de brinquedo, que
só serviam para estimular a violência entre as crianças”, enfatiza a diretora
da escola.
O
prêmio pela dedicação dos alunos foi uma tarde de lazer na piscina do
Clube Esporte Mauá, um dos principais da cidade, e uma visita ao Centro
Cultural Joaquim Lavoura, também sediado no município. “Demos aos estudantes
a oportunidade de terem um contato maior com a cultura e o lazer de qualidade
para que percebam aquilo que lhes falta. Afinal, só podemos criticar,
de verdade, aquilo que conhecemos”, ressalta Lucilia.
Os
Frutos do Projeto
O
legado do Colégio Estadual Professora Maria da Glória Borges Leite para
São Gonçalo foi que, apesar de ainda haver muito a ser feito, o aniversário
do município foi comemorado com amor, crença em dias melhores e desejo
de arregaçar as mangas para concretizar as mudanças necessárias.
Desde
o final do projeto, em outubro, a escola promete ser cada vez mais engajada
na comunidade em que está inserida na realidade do país, e prepara-se
para discutir questões sociais através de canções da MPB. Letras de música
como Xi Bom Bom, do grupo baiano As meninas, serão levadas à sala de aula
para discussão. “O refrão da música diz que o de cima sobe e o de baixo
desce, numa alusão às vantagens que o rico costuma obter em detrimento
do pobre. Certamente, as crianças que ouvem a canção nunca param para
pensar em como a sociedade funciona. Simplesmente dançam ao som da melodia.
Mas vamos levá-las a pensar mais sobre a realidade retratada na letra”,
adianta a diretora. O projeto, que deve ser colocado em prática no início
do próximo ano letivo, já foi batizado de Educanção.
Escola
Estadual Maria da
Glória Borges Leite
Diretora Lucilia Pontes
Tel: (0xx21) 712-0101
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