Garantia de Desenvolvimento Emocional, Físico e Ético Por Simone Garrafiel
Se há dispersão da turma, Adriana (no alto, à direita) propõe à turma uma atividade específica que a reúna, geralmente utilizando panos ou cordas, que sugerem agrupamento Brincar à vontade. Esta é a orientação dada aos alunos da Educação Infantil do Centro Educacional Estação do Aprender, em Niterói, assim que entram na chamada “Sala de Estimulação” da escola. Ali, o ambiente é descontraído, o chão é emborrachado e existem brinquedos como piscina de bolas, cavalinho, balanço, jogos de montar com peças gigantes, almofadas e panos coloridos espalhados por toda parte. A proposta é fazer com que a garotada sinta a interação entre corpo, movimentos, relações humanas. Mais do que um espaço para recreação, a sala de estimulação, na verdade, é lugar em que ganha corpo um trabalho de Psicomotricidade que, através da dinâmica do movimento, busca fazer com que a criança descubra seu ritmo, seu tempo e suas necessidades corporais, afetivas e cognitivas. Coordenadas pelos psicomotricistas Álvaro Rodrigo e Adriana Pinto Gomes, as atividades realizadas com as crianças têm como objetivos prevenir e detectar possíveis distúrbios de afetividade, pensamento, linguagem e comunicação, incentivar a brincadeira como formadora do “eu” e avaliar o processo de crescimento e desenvolvimento das crianças. Neste contexto, os brinquedos funcionam como objetos facilitadores, ou relacionais, sendo explorados pelas crianças e permitindo a elas interagirem com eles e, também, com as demais crianças que participam da atividade. O trabalho começa com uma conversa informal entre as crianças e os psicomotricistas, que se sentam no chão neste momento. “O primeiro contato serve para que Adriana e Álvaro percebam como está o movimento da turma e, assim, proponham a ela uma atividade ou deixem cada criança livre para escolher o que quer fazer” – explica Luiz Gustavo Vasconcelos, professor de Educação Física especializado em Psicomotricidade. Cada turma é permanentemente observada e, posteriormente, todos os relatos são esmiuçados para uma avaliação da singularidade de cada criança.
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Ao todo, são quarenta minutos de atividades diárias. Durante este tempo, os psicomotricistas procuram intercalar atividades diretivas (pré-determinadas) e não-diretivas (livres), de acordo com as ações do grupo. “Para não inibir o compromisso da criança com a brincadeira, os psicomotricistas procuram administrar a aula de maneira coerente, saudável e produtiva, estreitando relações em grupo e individuais. Para tanto, deixam que a criança explore livremente o espaço e brinque como quiser. Mas, se percebem que há dispersão, propõem à turma uma atividade específica que a reúna, geralmente utilizando panos ou cordas, que sugerem agrupamento. A toda hora, a dinâmica é revista e adaptada às necessidades da turma” – diz Luiz Gustavo. O trabalho intercala posicionamentos como “estar perto – estar longe”, ou seja, o psicomotricista se faz presente quando necessário, oferecendo seu corpo, seu colo e seu carinho à criança, ou deixa que ela descubra sua própria organização espacial e relacional, sem estar no comando da situação. No primeiro caso, a intervenção não tem o propósito de apaziguar ânimos ou julgar atitudes, mas sim, possibilitar à criança entender o que está acontecendo e refletir a respeito. São muitos os benefícios decorrentes do trabalho de Psicomotricidade. É inegável a mudança de comportamento das crianças que participam das atividades. “Observamos que as que vivem desde cedo a experiência psicomotricista tornam-se mais expressivas, lidam melhor com as dificuldades e os limites, encontram mais prazer ao fazer as coisas” – afirma Fernanda Pintas, diretora pedagógica da escola. Segundo Luiz Gustavo, outra vantagem da vivência destas atividades é o melhor controle do processo de desenvolvimento da criança, já que, estimulada sempre pela Psicomotricidade, ela não sofre com a aceleração no processo de crescimento cognitivo, o que prejudica a assimilação de conteúdos. A criança passa a pensar com mais clareza e, assim, aprende com mais facilidade. Atitude,
corpo e movimento são as palavras-chaves da Psicomotricidade. O espaço
e a liberdade reservados para esta prática permitem à criança, de seu
mundo imaginário, estabelecer relações com objetos e outras crianças,
o que gera um amadurecimento maior. “O movimento de cada criança é uma
sinfonia que produz diversos tipos de canções, às vezes agudas, graves,
roucas ou ocas. Seja como for, tentamos potencializar cada criança para
que possa ser ela mesma” – finaliza Luiz Gustavo.
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