Por Jaciara Pereira


A presença do orientador educacional e do pedagógico não é mais uma constante no cotidiano das escolas. Principalmente nas da rede estadual, que, desde 1996, em função da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, deixam de ser obrigadas a manter tais profissionais em seus quadros. Perdem, com isto, alunos e escolas. Em algumas instituições de ensino, segundo a superintendente de Planejamento e Desenvolvimento curricular da Secretaria Estadual de Educação, Maria Nazareth Gomes de Souza, embora não haja concurso público para o cargo há anos, o orientador educacional ainda está presente. O orientador pedagógico, porém, é praticamente um profissional em extinção no estado.

“Na rede pública, nós entendemos que a função de orientador pedagógico deve ser exercida preferencialmente por um pedagogo, mas não necessariamente. Nada impede que um professor com anos de carreira exerça o cargo”, diz Nazareth, apontando uma solução para os problemas de muitas escolas.

Hoje, na realidade, é significativo o número de professores que atuam como orientadores pedagógicos, embora o procedimento seja criticado por muitos educadores. Um ponto, porém, é consenso: eles têm importância fundamental para o trabalho desenvolvido nas escolas. A professora e vice-presidente regional da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais de Educação (Anfope), Maria Felisberta Baptista da Trindade, diz que, eliminando a figura dos orientadores pedagógicos, “liquidam o trabalho vivo da escola”. Ela explica o porquê: “Eles são os profissionais responsáveis pelo planejamento curricular e devem trabalhar em conjunto com os professores, não em sistema de concorrência. O orientador pedagógico, junto com o professor, estabelece diretrizes para que o currículo seja o melhor possível e o desenvolvimento do ensino seja adequado ao aluno”, afirma Felisberta.

Para a professora, embora a legislação não determine a presença do orientador pedagógico nas escolas, não descarta a formação profissional de qualidade nem a adoção de medidas que garantam a qualidade do ensino. “Considero essencial que cada escola tenha, pelo menos, um orientador em cada turno”, reitera Felisberta.

Maria Felisberta também lamenta a ausência dos orientadores educacionais, que têm um trabalho mais voltado para o corpo discente da escola: “O orientador educacional é quem conduz o aluno à cidadania. Estimula o aluno a se organizar. Sem a pretensão de ser um psicólogo, ele se preocupa com as relações interpessoais dentro da escola, identifica problemas e, se necessário, faz o encaminhamento a outro profissional. Tem um papel muito importante dentro de uma instituição de ensino. Não pode ser excluído”.

A estrutura adequada para uma escola, na opinião da vice-presidente regional da Anfope, é aquela em que o orientador pedagógico e o educacional “caminham juntos”. O quadro ainda é melhor se o professor é mais consciente de seu papel. “No dia em que o professor se tornar mais educador, as coisas vão melhorar”, antevê.

Atualmente, a maioria dos orientadores está concentrada nas escolas particulares. Um exemplo é o do colégio São Vicente de Paulo, em Niterói. Religiosa e tradicional, a instituição ainda mantém o Serviço de Orientação Educacional (SOE), com 11 orientadoras, e uma coordenação pedagógica. Todos os 3600 alunos da escola, da Educação Infantil ao Ensino Médio, são assistidos pelos profissionais. Conforme explica a coordenadora geral pedagógica da escola, Maria Antônia Delduque Quintes, os orientadores educacionais e pedagógicos trabalham em conjunto, dando apoio aos processos de ensino e aprendizagem. “Nós entendemos que o aluno é um ser global, não segmentado. Ele não estará bem na sala de aula se não estiver bem emocionalmente. A função dos orientadores é buscar o equilíbrio entre a razão e a emoção do aluno. Não estamos preocupados em formar apenas seres humanos competentes e com habilidades profissionais, mas também com valores morais e cristãos”, enfatiza Maria Antônia.

No São Vicente de Paulo, a Orientação Educacional tem status de disciplina e, como nos velhos tempos, os educadores vão para a sala de aula, uma vez por semana, desenvolver atividades junto aos alunos. Muitas coisas ainda podem mudar neste cenário. De acordo com Maria Nazareth Gomes, a secretária de Educação do Rio de Janeiro, Lia Faria, tem se reunido com subsecretários e coordenadores para definir novas regras para o corpo técnico pedagógico e administrativo das escolas públicas estaduais. “O objetivo é resgatar a imagem do educador, embora a prioridade seja colocar professores nas salas de aula. Depois disto, vamos definir a equipe técnica”, adianta a superintendente. O resultado das discussões será transformado em resolução, que trará novas propostas para os profissionais que atuam em escolas de Ensino Médio e Fundamental do Estado.

 

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