Por Cláudia Sanches

No Clube Escolar, as crianças podem aprender a tocar instrumentos...

Juliana Lopes tem onze anos e é aluna da 7a série da rede municipal de ensino. Seu sonho é ser professora. No horário em que não está freqüentando a escola, pela manhã, participa de oficinas de violão, Artes Cênicas e vôlei. E já pensa em como aplicar tudo o que aprender, ao fim das oficinas.

“Não pretendo ser atriz ou violonista profissional, mas quero utilizar as duas formas de Arte para ensinar meus alunos. Estas aulas terão grande valor na minha profissão. Por enquanto, uso o que aprendi nas apresentações da minha igreja”, conta entusiasmada a estudante, que faz parte de um grupo jovem evangélico.

De origem humilde, Juliana não poderia pagar pelos cursos que faz. Mas seus sonhos e os de outras crianças da rede pública municipal se tornam realidade graças ao projeto Clube Escolar, criado pela Secretaria Municipal de Educação e supervisionado pelos profissionais engajados no Projeto de Educação Física e Lazer.

O clube existe há sete anos e beneficia cerca de 20 mil estudantes, que têm acesso a várias modalidades esportivas e a oficinas de arte. Sua filosofia é ocupacional. “A idéia principal é tirar a criança da rua, acabar com o seu tempo ocioso, ampliar seus conhecimentos, dando ênfase aos conteúdos que aprende na escola e à integração e à socialização em sala de aula”, conta Vera Moderno, coordenadora da sede da Praça Seca.

Segundo Vera, o Clube, além de permitir ao aluno praticar um esporte ou fazer uma oficina de Arte pela qual ele nunca poderia pagar, está sendo um incentivo para que as crianças freqüentem as aulas, porque elas precisam estar matriculadas na escola e freqüentá-la para se inscreverem nas oficinas.

As oficinas são sempre em horários em que o aluno não tem aulas, para não prejudicar os estudos. E, ao contrário, contribuem para estimulá-los. “ Segundo a secretaria municipal de Educação, que avalia os resultados do programa e está comparando o rendimento escolar dos alunos, o acesso ao esporte e às Artes diminuiu bastante a evasão e as notas melhoraram” – comemora Vera.

O projeto, inicialmente implantado em oito sedes espalhadas por vários bairros do Rio de Janeiro, já conta com a adesão de onze clubes, situados em locais como Jacarepaguá, Ilha do Fundão, Campo Grande, Engenho de Dentro e Cascadura, entre outros. E cada um atende cerca de 1500 a 2000 estudantes de sete a 17 anos.

Os interessados podem escolher até três atividades. Na área de esportes, há oficinas de basquete, handebol, futebol de salão, judô, natação e vôlei. Na área de Artes, as disponíveis são dança, teclado, violão, flauta e canto. Pode-se aprender também jogos como xadrex, pingue-pongue e vareta, entre outros.

 

A atividade mais procurada, segundo a coordenadora-adjunta do projeto em Jacarepaguá, Andréa Sieiro, é a natação: “Uma das razões da grande demanda se deve ao fato de a natação ser um dos esportes mais completos e caros, além de ser recomendada por médicos para as crianças alérgicas ou com problemas de coluna” – conta ela.

 

Parcerias entre a Secretaria de Educação e clubes ou associações próximos aos clubes facilitam a implantação do projeto Clube Escolar. “Temos parcerias com o Jacarepaguá Tennis Club e o Valqueire Tennis Club, no caso das aulas de natação, futebol de salão, e vôlei, pois não possuímos nem quadra e nem piscina próprias. O clube recebe uma verba anual de R$ 2000 para a manutenção destes espaços e a compra de uniformes”, explica Vera.

O material desportivo e o utilizado nas aulas de arte são doados pela Prefeitura. Consistem em dezenas de bolas de vôlei, basquete, bombas, redes de quadra, tabelas, quimonos, pranchas para a natação, violões, flautas e aparelhos de som.

Para Ney Felippe Cocchiarale, professor de Educação Física especializado em judô, oferecer oficinas de esporte e Arte a estudantes, além de formar cidadãos, é um meio de democratizar tais atividades, ainda muito elitizadas no país:

“As Olimpíadas foram um retrato da falta total de política desportiva no país. Afinal, todos os atletas foram formados dentro de clubes. Com o projeto Clube Escolar poderá surgir, no futuro, a possibilidade de prospectar talentos e formar equipes fora do âmbito dos clubes. O esporte também faz parte da formação do cidadão, porque é disciplinador. Por ser direcionado por regras, o aluno vai aprendendo quais são seus limites. O judô, por exemplo, mesmo sendo uma luta, tem um caráter educador, porque é apresentado à garotada associado à filosofia da não-violência, e isto é importante porque eles já vêm de casa trazendo uma bagagem de agressividade muito grande”.

O programa da Prefeitura também pode, indiretamente, proporcionar ao Brasil dias melhores nos jogos olímpicos futuros, apesar de não ter o propósito de formar atletas, mas sim, uma preocupação muito mais ampla: “O Clube busca a formação do indivíduo como um todo. O objetivo é criar cidadãos e não atletas. Mas, eventualmente, encontra-se aqui algum talento de maior destaque e aí ele pode ser encaminhado a um clube onde encontre maior estrutura desportiva para fazer carreira no esporte e competir”, esclarece o professor de vôlei, José Caetano.

A receptividade dos estudantes não poderia ser melhor. “A parceria com clubes e agremiações cresce muito porque precisamos de espaço físico para atender à demanda, que não pára de crescer. Temos crianças na fila de espera para fazerem natação porque não temos muitas piscinas, por exemplo” – conta o professor José Caetano.

O comportamento dos alunos que integram o projeto também tem sido exemplar. “Ainda não houve caso de mau comportamento, talvez porque os próprios estudantes escolham o que querem praticar. Eles escolhem por gosto e não porque são obrigados. Isto contribui para uma convivência pacífica”, diz o professor, que se reúne com professores que integram o projeto em todas as áreas, para avaliar o trabalho e estudar os resultados, todos os meses.

A coordenadora-adjunta do projeto em Jacarepaguá, Andréa Sieiro, há um ano no Clube da Praça Seca, está encantada com o retorno advindo do trabalho: “É uma ação inteligente. Ver os alunos se esforçando para se tornarem melhores é gratificante. A integração deles também impressiona. Se houvesse projetos similares talvez tivéssemos uma sociedade melhor, porque as crianças ficariam longe da ociosidade e, teoricamente, da droga, dos delitos, da violência. Graças à ação, elas têm a oportunidade de se tornar cidadãs de verdade, vencedoras em suas vidas, e construir um Brasil melhor, mais decente e humano”.

 

Clube Escolar
Vera Moderno
Tel: (0xx21)450-3238