Por Andréia Brilhante

O ensino à distância ainda é encarado com reservas por parte de muitos professores. Mas há que se reconhecer o seu valor. Afinal, como bem define o presidente do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação (Ipae), João Roberto Moreira Alves, “é uma metodologia de transmissão do conhecimento que objetiva democratizar a educação de boa qualidade e não exclui o professor”. Ao contrário, amplia o mercado de trabalho para o educador, que precisa, porém, adequar-se a este novo modelo de educar do mundo moderno. Internet, CD-ROMs e um maior acesso à informação fazem com que os alunos de hoje, em geral, sejam melhor informados do que os de antigamente. “Muitos deles impressionam o professor fazendo perguntas cujas respostas já sabem para mostrar que conhecem mais do que ele” – diz João Roberto.

Neste contexto, a falta de preparo de muitos educadores constitui um problema. Uma pesquisa do Ipae, realizada em escolas públicas e particulares de seis cidades do Brasil, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo, revelou que a maioria dos professores não tem assinatura de jornal e, quando o lê, compra o mais barato. O professor não tem o hábito da leitura arraigado, o que dificulta o atendimento às necessidades do aluno de hoje, além de ser um problema nacional. Some-se a isto o fato de que o Brasil tem menos livrarias do que Buenos Aires, apesar de sua extensão territorial ser maior. Além do mais, “o professor não é o único detentor do conhecimento. O foi até a invenção da imprensa” – diz João Roberto. É preciso, portanto, que a Educação acompanhe os novos tempos, entre na Era Digital.

Nova forma de educar

A educação à distância surgiu por volta de 1850 na Suécia. Em 1904, chegou ao Brasil por intermédio de escolas internacionais, ministrada por correspondência e se mantendo sob essa forma até 1923, quando surgiu o rádio. A Rádio MEC foi a primeira do país e também a pioneira em implantar a educação à distância. Depois, com o advento da televisão, produziram-se programas educativos nas emissoras TVE, TV Cultura, TV Escola e Rede Globo, tendo esta criado o Telecurso. Hoje, quase não há investimentos na Educação pelo rádio e pela TV. O presidente do Ipae lamenta que não haja interesse em incentivar a educação pelo rádio, já que é um veículo de fácil acesso, que pode ser ouvido em qualquer lugar.

A grande virada no ensino à distância aconteceu com a Internet, que chegou ao Brasil na década de 80. O meio é amplo, prático, interativo e, por isto, tem sido utilizado por várias universidades.

Reforço on-line

Muita gente já aprovou e adotou a educação à distância e não se arrepende. É o caso do professor Antônio Jorge dos Santos Béze, que ministra aulas de reforço sobre Direito do Trabalho on-line pela Universidade Estácio de Sá.

A disciplina faz parte do currículo dos alunos na educação presencial (que implica a presença do aluno em sala), mas eles fazem o curso de aprimoramento com Antônio Jorge, durante um mês. Não há avaliação de presenças: o estudante entra na Internet quando tem disponibilidade. Não existe limite de horas. Mas, segundo o professor, pelos trabalhos que a turma faz, ele tem como saber se o aluno pesquisou e foi aos locais indicados.

 

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Quase diariamente, Antônio Jorge responde aos e-mails da turma, esclarecendo dúvidas. Além disto, há um mural de avisos que implementa a comunicação entre os alunos e o professor.

Para enriquecer o ensino, são realizados debates em que a turma expressa sua opinião sobre determinados assuntos. “O objetivo do curso é possibilitar a atuação dinâmica, em que o professor e o aluno interagem direto pela Internet”, diz.

O conceito leva em consideração a realização dos trabalhos, o desempenho neles e a participação nos debates.

Antônio não concorda com as críticas à educação à distância. Não vê motivos para tanto. “O que alguns chamam de massificação do ensino chamamos de democratização da educação” – diz, citando uma professora amiga. E acrescenta. “O professor nunca vai deixar de existir no novo cenário, mas tem que possibilitar a troca com o aluno, orientando-o na pesquisa e rompendo com a pedagogia tradicional, que é ditadura da Educação.Termina o tempo em que o professor transmite o conhecimento ao aluno e este não pode criticar nada”, afirma.

Outro entusiasta da educação à distância, o presidente do Ipae, vai mais além. “Num país com a dimensão do Brasil, só é possível levar educação de qualidade a todos por intermédio do ensino à distância. Pode-se reunir os melhores professores e tê-los à disposição de todo o país. Eles serão elementos multiplicadores. Formarão outros agentes de conhecimento nas regiões” - diz Jorge Roberto. E não haverá barreiras à democratização do conhecimento, essencial para o progresso de um país onde convivem, lado a lado, analfabetos e doutores - diz ele.

Universidade Estácio de Sá
Professor Antônio Jorge Béze

e-mail: ajbeze@openlink.com.br
IPAE João Roberto Alves
Tel: (0xx21) 233-6201

Novas vantagens

A educação à distância abre mercado para o deficiente, que, muitas vezes, é discriminado no ensino presencial. Há cegos dando aula pela Internet. Outra vantagem é que o professor satisfaz melhor o aluno em caso de dúvida: se não sabe responder à questão, tem tempo de pesquisar a resposta em livros ou na Internet. “Ele não precisa ser o detentor de todo o conhecimento, mas saber onde encontrar as informações”, explica o presidente do Ipae, João Roberto. Os chats, por sua vez, possibilitam a comunicação interativa.

Dependendo da instituição que implanta a educação à distância, há professores 24h de plantão ou, no caso da educação por correspondência, geralmente existe uma linha telefônica pela qual os alunos podem tirar dúvidas.

Quanto aos preços dos cursos à distância, geralmente são menores e o conteúdo é equivalente ao dos cursos presenciais