Simone Garrafiel

"Nas caixas gramaticais, as crianças encontram diversas frases para estudo e os símbolos, em formato bidimensional, para classificação dos elementos de uma construção frasal"O estudo da Língua Portuguesa pode significar, para muitos, horas e horas folheando centenas de páginas de uma gramática, na tentativa de entender o conteúdo do livro. Mas, para os alunos de 1ª a 4ª série(*) do Colégio Ágora, em Niterói, estudar Português requer o uso das mãos, de forma diferenciada – para manusear o material de caixas gramaticais, utilizadas no ensino de Análise Morfológica, segundo a metodologia criada por Maria Montessori.

As escolas montessorianas adotam tal material, partindo dos pressupostos de que é por meio da atividade que as crianças constroem o conhecimento e de que as mãos são instrumentos da inteligência. "Utilizando as caixas gramaticais, as crianças aprendem com facilidade e tomam gosto pelo estudo gramatical" – afirma Maria de Fátima Cortez, coordenadora pedagógica do colégio. Afinal, afirma, "a criança não pode, em momento algum, ser passiva na aprendizagem".

"Nas caixas gramaticais, as crianças encontram diversas frases para estudo e os símbolos, em formato bidimensional, para classificação dos elementos de uma construção frasal"Por meio das caixas gramaticais, é possível mostrar aos alunos que cada parte de uma frase tem uma função específica, e cada uma é representada por um símbolo em particular. Esta simbologia é apresentada através de "famílias" e tem por finalidade fixar a função na memória, sensorialmente. Montessori convencionou distinguir, numa frase, uma parte estática (o nome – significando matéria permanente, representada por uma pirâmide preta, símbolo visual desta estabilidade) e outra dinâmica (o verbo – significando energia, ação, e representado por uma esfera vermelha, símbolo visual de movimento). Os outros símbolos foram agrupados ao redor destes, segundo as relações entre eles.

A preparação para a aprendizagem da Gramática começa na Educação Infantil, por meio de jogos intuitivos. Nesta etapa, os professores transmitem às crianças o nome das coisas e suas características. Assim que elas começam a se expressar, passam a compreender a relação entre as palavras de uma frase e, por observação, começam a usar os tempos verbais. Quando percebem que existe esta relação, os professores começam a solidificar tal conhecimento.

Em uma segunda etapa, dá-se a formalização do que foi intuído. São apresentadas, aos alunos, as famílias do nome (artigo, substantivo, adjetivo) e do verbo (advérbio, pronome, verbo). Para tanto, os professores utilizam símbolos tridimensionais confeccionados em madeira, contam a história destes símbolos, explicam o porquê da representação e qual é a função de cada elemento em uma frase. A partir daí, seguem-se os trabalhos com as caixas, nas quais se encontram diversas frases para estudo e os símbolos, em formato bidimensional, para classificação dos elementos de uma construção frasal.

"Para o estudo de nomes e verbos, os professores utilizam símbolos tridimensionais confeccionados em madeira, contam  a história destes símbolos, explicam o porquê da representação  e qual é a função de cada elemento em uma frase"O estudo propõe a análise da frase pela decomposição e recomposição das palavras que a formam, segundo as categorias gramaticais. À medida que o aprendizado se dá, são estudados os detalhes das funções em suas classificações, flexões e casos especiais (coletivos, sinônimos, gênero, etc).

 

 

Os alunos fazem, também, classificação por meio de colagem dos símbolos. Eles retiram as frases das caixas gramaticais, copiam-nas em folhas de papel e, em seguida, fazem a classificação colando os símbolos abaixo do elemento a que se referem. Quando se trata da turma de 4ª série, ela também desenha estes símbolos. "Neste caso, também é desenvolvida a destreza das mãos, pois os alunos não podem sujar de cola a folha de papel que está sendo utilizada" – acrescenta Fátima.

O fim deste trabalho com as caixas gramaticais dá-se quando as crianças passam a registrar em folha o conteúdo estudado. Nesta fase, elas lançam mão das caixas gramaticais e criam as próprias frases, para serem analisadas. Em seguida, agrupam os elementos de cada uma das frases, em colunas, de acordo com sua função (artigo definido ou indefinido, adjetivo pátrio, pronome pessoal ou de tratamento).

Para o avanço na aprendizagem, os enxovais, como são chamados os conteúdos das caixas, são trocados de quinze em quinze dias, dependendo de como a turma está desenvolvendo o trabalho. "Às vezes, precisamos deixar o material mais tempo à disposição, porque a assimilação não foi concluída por alguma criança" – explica Fátima. Assim, em uma determinada quinzena, por exemplo, a professora trabalha os substantivos próprios e comuns e, na outra, os concretos e abstratos. Estudado o conteúdo programado para cada trimestre, todas as frases são misturadas, para fixação dos conteúdos.

"Os alunos da 4ª série desenham os símbolos que classificam os elementos de uma frase" Outra metodologia utilizada para assimilação do que está sendo estudado é a construção de pequenos livros, os quais são feitos juntamente com as crianças e cujo conteúdo traz as definições dos elementos (substantivo, adjetivo etc), dos símbolos e dos casos especiais.

Um fator importante do aprendizado por meio das caixas gramaticais é que não existe a obrigatoriedade de os alunos estudarem individualmente. Eles trabalham em duplas. O progresso, segundo Fátima, é percebido pelo professor através da observação de como a dupla desenvolve as atividades. "Os alunos trocam informações entre si e as dúvidas são tiradas com o professor ou o próprio colega" – diz ela. É um trabalho conjunto, em que o aluno pensa e organiza seu conhecimento.

"Utilizando as caixas gramaticais, as crianças aprendem com facilidade e tomam gosto pelo estudo gramatical" (Mária de FátimaSe a criança não tiver um estudo de Gramática prazeroso e boa compreensão dos conteúdos, sentirá dificuldades quando for estudar Função Sintática. Daí os primeiros anos da escola serem fundamentais para o desenvolvimento intelectual da criança e as caixas gramaticais úteis, pois tornam o ensino de Análise Morfológica extremamente fácil e agradável. "Quando damos oportunidade às crianças de entenderem a relação que existe entre os elementos de uma frase, elas aprendem com maior facilidade. Ainda mais se respeitamos o período sensível para aprendizagem de cada um e a necessidade de uso das mãos e da vivência sensorial nesta etapa do desenvolvimento" – finaliza Fátima.

Colégio Ágora
Maria de Fátima Cortez
Tel: 620-4011


As Famílias e seus Símbolos
A Organização do Trabalho Pedagógico

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