Uma relação de amor: o livro e eu

Beatriz Dusi

Aproxima-se o mês dedicado ao folclore. Nada mais justo do que ouvir o que Fernando Lébeis tem para dizer. Ele é professor de folclore da Faculdade de Musicoterapia do Conservatório Brasileiro de Música e da Escola de Música Villa-Lobos, ambas no Rio de Janeiro, além de ministrar oficinas e cursos pelo Brasil, na Universidade do Sudoeste da Bahia, na Universidade de Passo Fundo, na UniverCidade (RJ), entre outras instituições, sempre tendo boa acolhida por parte dos alunos. No momento, ministra o curso Culturas populares no Centro Cultural Viva, no Rio de Janeiro (telefone 0xx21 – 286-6383).

Nossa conversa foi muito prazerosa e proveitosa. De tudo o que falamos, e não foi pouco, passo para vocês alguns itens tratados.

O folclore que é ensinado aos alunos sempre é via de mão única, não se dando importância à troca de saberes. Os professores comemoram o folclore trazendo pronto o produto, esquecendo, muitas vezes, de que as crianças já trazem enraizados costumes, superstições, folguedos etc., herdados de pais e avós – temos que dar atenção às correntes migratórias no nosso país –, e nem sempre são incentivadas a mostrar o que sabem.

O educador deve ficar atento às manifestações culturais da criança. Há que se dar ênfase ao que é de agrado dos alunos. Muito há para ensinar nesta área: vamos ressuscitar os trava-línguas, as parlendas, as brincadeiras de roda... E vamos deixar para um público mais maduro a mitologia indígena, já que os mitos indígenas são maus, perversos.

A nossa cultura popular é muito valiosa. Reúne costumes, canções e ritmo, culinária, religião, lendas, mitos herdados de portugueses, africanos e índios. Esta mistura só veio a enriquecer a nossa alma coletiva.

Conversamos, ainda, sobre alguns folcloristas brasileiros: Luís da Câmara Cascudo, autor do Dicionário do Folclore Brasileiro; Sílvio Romero, historiador, advogado, autor de obras como Os Cantos e os Contos Populares do Brasil e Estudos sobre a Poesia Popular do Brasil; e Mário de Andrade, poeta e ficcinonista que tinha uma visão ampla do Brasil e publicou, por exemplo, Danças Dramáticas do Brasil (3 v.) e Música de Feitiçaria no Brasil.

Para finalizar o agradável bate-papo, Fernando comentou os festejos folclóricos que a cidade de Olímpia, em São Paulo, promove todos os anos, incluindo as já tradicionais disputas de provérbios e trava-línguas, dentre outras brincadeiras, e um concurso culinário de doces e salgados.

Vamos até lá?

 

 

 

Resenha

Lendas Brasileiras. Cascudo, Câmara. Il. de Poty

Rio de Janeiro: Ediouro, 2000

Esta obra reúne as mais expressivas lendas do nosso folclore. O autor as dividiu por regiões. Vejamos algumas: do Norte –Cobra Norato – fala da cobra que, à noite, larga seu couro e vira um belo rapaz que vai visitar a mãe; do Nordeste – A Cidade Encantada de Jericoacoara – retrata a princesa encantada – metade mulher, metade serpente – à espera de um herói, para salvá-la; do EsteO Frade e a Freira – conta a história de religiosos que levavam a palavra cristã aos indígenas e do grande amor proibido que ali nasce, fazendo surgir, às margens do Itapemirim, dois blocos de granito, o Frade e a Freira; do SulFonte dos Amores - a lenda se passa no Rio, atualmente está praticamente esquecida, e tem como cenário o Passeio Público, onde nascem paixões; do CentroOs Tatus Brancos – a lenda enfoca o agreste de Minas Gerais, passa-se no tempo das Bandeiras, e, nela, como ocorre desde que mundo é mundo, o amor salva o herói. As ilustrações de Poty dão bom suporte ao texto.

Que delícia é ler estas lendas...

O mestre Câmara Cascudo, além de nos brindar com este livro, escreveu Contos Iradicionais do Brasil, Geografia dos Mitos Brasileiros, Vaqueiros e Cantadores, Trinta Estórias e Iradição Ciência do Povo, cada obra trazendo, em suas páginas, manifestações coletivas de cultura popular conservadas pela tradição. São contos, fábulas, crendices, usos e costumes, lendas e saberes populares.

Sobre o Dicionário do Folclore Brasileiro, que levou 30 anos para ser feito, Carlos Drummond de Andrade, quando tinha alguma dúvida sobre folclore, perguntava "já consultou o Cascudo? Cascudo é quem sabe. Me traga aqui o Cascudo"

O nosso poeta maior sempre o consultava. Vamos nós, também, fazer o mesmo!

Outros livros sobre folclore:

•Ciranda de Anel e Céu. Orthof, Sylvia. Al. Claudia Acatamacchia. SP: Global, 1997.

•Lendas Indígenas. Araújo, Antoracy Tortolero. SP: Brasil, 1999.

•Na Ponta do Arco-Íris. Behrendt, Mila. Il. Gilberto Yamamoto. Curitiba, Arco-Iris.

•Cadê o Docinho que Estava Aqui? Resende, Maria Ângela. Il. Elizabeth Teixeira. BH: Formato.

 

Índice Ediçao 18