Beatriz Dusi – enviada especial

As festividades oficiais sobre os 500 anos foram divulgadas, mas quero falar sobre o que ficou de positivo para a população fixa e itinerante. Foi o que eu observei ao participar da solene Celebração Eucarística comemorativa da Primeira Missa do Brasil e conferir o que havia sido feito a respeito de nosso aniversário.

As pessoas que moram naquela região souberam nos dar uma grande lição de cidadania. Tudo envolvia a data comemorativa, tanto nos lugares mais em evidência do sítio histórico do descobrimento (formado pelos municípios de Prado, Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália), como no atendimento aos turistas pela população local. O que se pôde constatar foi uma grande preocupação com o meio ambiente – nada de lixo nas ruas, nos rios e nos mares, nem nos pátios escolares, após o recreio... A Prefeitura de Porto Seguro desenvolveu e implanta um programa de educação ambiental, através da distribuição de seis cartilhas que abordam a diversidade biológica e os problemas ambientais da Costa do Descobrimento (E-mail: sma@popodonet.com.br). Belo exemplo de conscientização do grupo!

As comemorações foram variadas e nem sempre relatadas pela imprensa. Um evento digno de registro foi a execução da obra "Terra Brasilis", do maestro Edino Krieger, feita especialmente para a comemoração dos nossos 500 anos. A execução coube à Orquestra Sinfônica da Bahia, tendo lugar no Centro das Convenções e eventos de Porto Seguro. Foi a única obra programada e recebida com muito entusiasmo pela platéia, que lotou o auditório de 2000 lugares.

 

Nada foi escrito a respeito. Outro fato de que pouco se falou foi que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em decorrência das comemorações pelos 500 anos da 1ª Missa Católica no Brasil, promoveu um encontro de orações inter-religioso do qual participaram representantes de religiões como budismo, islamismo, judaísmo, umbanda, catolicismo, e também índios com suas crenças e cultos. A busca foi uma só – a paz.

Mas o evento mais marcante foi a restauração da antiga Casa de Câmara e Cadeia, hoje transformada no Museu de Porto Seguro, que retrata não apenas a expansão da cidade de Porto Seguro, mas também marca o primeiro contato entre portugueses e nativos brasileiros. Foi montada, ali, uma exposição que se dividiu em três segmentos distintos: "A Terra de Ibirapitanga ou Pau-Brasil", que fazia uma abordagem histórica da região de Porto Seguro; "O Fim dos Mundos Fechados", um panorama do processo de expansão marítima portuguesa que enfocava a viagem de Cabral e a Carta de Pero Vaz de Caminha, e "A Aventura do Olhar", uma coletânea de impressões e narrativas dos viajantes do século XVI sobre a natureza e os índios. A concepção, a pesquisa iconográfica e a coordenação-geral do projeto, que ainda vale a pena ser conferido, couberam a Cícero Antonio Fonseca de Almeida. O museu fica na cidade alta (ou no Centro Histórico), onde está gravada, sob a forma de mapa, num marco ao ar livre, a paisagem avistada e descrita por Pero Vaz de Caminha em 1500. (Outros marcos descritos na carta também estão destacados no mapa reproduzido acima deste texto).

Hoje, fazem parte do Museu Aberto do Descobrimento: igrejas, edifícios públicos, casario, comunidades de pescadores, aldeias indígenas, reservas naturais de mangues e da Mata Atlântica, Parques Nacionais de Monte Pascoal e do Pau-Brasil, além de estações ecológicas. As mais variadas manifestações culturais estão ali perpetuadas por festas religiosas e populares, costumes, saberes, danças e ritos de índios, brancos e negros, que se renovam no contato com moradores e visitantes, brasileiros e estrangeiros, dos mais diferentes lugares. Não foi à toa que a Costa do Descobrimento recebeu, da Unesco, o título de Patrimônio Natural da Humanidade.

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