Simone de Azevedo

Todos os dias, milhares de jovens de 10 a 16 anos conhecem, pela primeira vez, o poder alucinógeno das drogas. Lícitas ou ilícitas, elas transformam o individuo nos âmbitos familiar, profissional e social. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), geralmente quatro entre 10 famílias brasileiras têm, em seu histórico, algum dependente químico. Alcoólatra, adepto do tabagismo ou dos narcóticos, tal indivíduo, se não obtiver ajuda de familiares ou amigos, provavelmente não conseguirá convencer-se de que é dependente e, consequentemente, não buscará ajuda especializada.

Governo e entidades de apoio à vida gastam, anualmente, milhões de dólares em campanhas publicitárias antidrogas e em projetos de apoio e aconselhamento a dependentes adictos. Mas onde estão estes centros? Como é realizado o trabalho de recuperação destes dependentes? Para responder às perguntas das famílias que procuram auxílio para seus familiares, a equipe de jornalismo do Jornal Educar visitou algumas destas instituições e constatou que só o convívio com profissionais treinados e conhecedores do problema pode livrar um dependente de seu vício.

Mantendo terapias diferenciadas e suporte religioso ou não para o tratamento, as clínicas ou os centros de recuperação para dependentes químicos oferecem-lhes internação por tempo limitado, atendimento médico e psicológico ou psiquiátrico, alimentação condizente com quaisquer deficiências nutricionais e oficinas de estímulo ao convívio social. Cada tratamento é personalizado e os custos variam entre R$ 2 mil, uma pequena contribuição em dinheiro, ou o compromisso firmado de ajudar no resgate do dependente. As etapas do tratamento consistem no reconhecimento da dependência, na desintoxicação do corpo e da mente, na recuperação da auto-estima e no retorno gradativo ao convívio em meio a parentes e amigos.

Em todas as instituições, a ação começa com base em uma triagem que visa a detectar as necessidades de tratamento ou internação do dependente. O tempo de internação vai variar de acordo com a resposta aos estímulos do tratamento escolhido. Segundo o Pastor Vitor Diniz, da 1º Igreja Batista de Nilópolis, responsável por uma instituição de recuperação de dependentes químicos localizado em Itaoca, São Gonçalo, e ex-dependente do álcool há 16 anos, o período mínimo para uma possível recuperação é de 7 meses, embora varie a cada caso. O importante, no entanto, para que qualquer tratamento obtenha sucesso é que a família, passo a passo, reintegre o dependente dando-lhe oportunidade de compreender que é possível ser feliz longe do vício.

A rotina de uma instituição de apoio

Escolhemos uma unidade terapêutica evangélica, situada em Itaoca, São Gonçalo, e o Centro de Atenção e Socialização de Adictos, em Botafogo, para conhecer o dia-a-dia de uma instituição de recuperação, pois as instituições diferem quanto à medicação, à forma de encarar a religiosidade, ao caráter social e à conceituação de "dependente".

A instituição de Itaoca é filantrópica e enxerga o interno como uma pessoa que não teve a mesma sorte que outras; portanto, trilhou caminhos errados. No local, a desintoxicação é feita de maneira natural. Aconselhamento médico psicológico e chás são as bases do tratamento, que alia a palavra de Deus e a alimentação natural, em quatro refeições; tarefas para preenchimento do dia; palestras sobre o uso da droga; futebol; passeios na praia; visitas a igrejas evangélicas da região e apresentação de testemunhos de ex-dependentes sobre suas vitórias. A grande preocupação dos funcionários é contribuir para a recuperação física e espiritual de cada interno.

A clínica de Botafogo é particular e trata seus internos como pacientes que precisam de tratamento e não de paliativos. Para tanto, conta com acompanhamento diário de um psiquiatra ou psicológico, que ministra medicamentos e calmantes aos internos, para evitar crises nervosas ou rebeldia. A alimentação, que inclui quatro refeições, é balanceada e segue rigorosamente as prescrições médicas. As oficinas de lazer estimulam a leitura e a confecção de trabalhos manuais. A clínica possui um espaço ecumênico cristão para os internos que desejam refletir e orar.

A religião como apoio

O aprendizado e a prática religiosa têm importância considerável como parte do tratamento dos dependentes químicos. Geralmente, as famílias dos dependentes buscam suporte em alguma crença, o que as fortalece, mas nem sempre o dependente é adepto de alguma doutrina. E como o vício o coloca à margem da sociedade, a religião o auxilia, na maior parte das vezes, a vencer a descrença, a agressividade, a desconfiança.

Segundo o Pastor Vitor Diniz, não é imprescendível que o dependente siga uma religião específica, mas é importante mostrar-lhe que a fé pode ajudá-lo nas horas difíceis. "Seria interessante que as igrejas próximas à residência do dependente deixassem as portas abertas para que, durante e depois da recuperação, ele encontrasse ali um local onde a segurança e o apoio de amigos fosse permanente", completa.

 

Centros de Referência e Tratamento