Uma Fraca Educação para uma Geração de "Sangue Fraco"

Ednaldo Carvalho

Segundo dados do Ministério da Saúde, 50% das crianças de até 2 anos de idade são anêmicas no Brasil. Os números são preocupantes. Ainda mais se relacionados aos dados do IBGE que mostram que, em 1999, tínhamos, em nosso país, 2.896.997 crianças de até 1 ano de idade e 12.086.970 de até 4 anos. Os que sobrevivem à mortalidade infantil são vítimas da desnutrição e da anemia, problemas popularmente definidos como "sangue fraco", causados por uma alimentação precária, que acarreta, muitas vezes, danos irreparáveis à saúde física e mental desta neocomunidade de brasileiros.

Cuidar da saúde destas crianças cansadas, de crescimento inadequado e com dificuldades de concentração no aprendizado escolar, é dever incondicional dos pais, mas, também, obrigação inquestionável do Estado, que deveria garantir aos responsáveis renda mínima para a manutenção alimentar de suas famílias. É vergonhoso sabermos que os índices de anemia destes pequenos brasileiros são semelhantes aos encontrados em países como a Índia (53%), enquanto os EUA, o Chile e a Inglaterra registram o índice de apenas 3%.

Imaginemos que, nos próximos 10 anos, quando as crianças dos países de 1º mundo estiverem ingressando no mercado de trabalho, exercerão tarefas resultantes do montante de empreendimentos tecnológicos e econômicos de seus países, que investiram na infância, em uma alimentação adequada para crianças e adolescentes e na qualidade da Educação, formando homens e mulheres saudáveis e capazes de comandar o progresso de suas nações. Enquanto isso, nossas crianças, desnutridas e anêmicas, acabarão por se evadirem das escolas ou se capacitarão em escolas deficientes, descontextualizadas em relação a novos modelos de produção e à realidade do mercado de trabalho.

 

Esperamos que, dentro de algumas décadas, não contemplemos a América do Norte ainda mais desenvolvida, rica, oferecendo a seus povos excelente qualidade de vida, tornando suas crianças fortes e líderes da economia mundial, e constatemos o oposto na América do Sul. Continuemos a ver o Brasil sem desenvolvimento, endividado, legando a seu povo fome e miséria, tornando as crianças de ontem raquíticas e fracas, fazendo delas trabalhadoras sem qualificação, integrantes de uma "sub-raça", a exemplo do que ocorre hoje no Nordeste, subordinadas ao imperialismo econômico imposto por seus contemporâneos nascidos nos países ricos, países que "enxergaram longe" ao investir na criança, na boa alimentação e na educação de qualidade.

Diante da inexorável globalização da economia e do novo modelo de produção, o Brasil está diante do grande desafio de preparar as gerações futuras, herdeiras da nossa história contemporânea. Portanto, a melhoria do preparo educativo e tecnológico e a reversão do quadro de anemia de nossas crianças e jovens são fatores preponderantes para que o Brasil entre, de fato, na disputa para afirmar-se como um país que busca desenvolvimento compatível com as imperativas necessidades de justiça social, qualidade de vida para seu povo e evolução.

Ednaldo Carvalho
Editor

 

Editorial Appai

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