Métodos de Ensino:

Uma Introdução às Várias Correntes Pedagógicas

Eduardo Viana

Educar não é uma tarefa simples. Envolve muita responsabilidade. Afinal, é através da educação que se forma o adulto do futuro. As alternativas pedagógicas são várias. Algumas se preocupam com o conteúdo a ser passado ao aluno, outras com a formação de uma personalidade participativa e outras, ainda, com a formação do espírito. Escolher entre elas também não é fácil. Às vezes, são bem divergentes. Tudo vai depender de como o professor e a escola acham que devem preparar suas crianças para o mundo.

Escola Tradicional

A forma mais conhecida de educação é a tradicional, com ênfase no conteúdo. Na verdade, boa parte das escolas ditas tradicionais absorve, também, um pouco das novas metodologias de ensino. Mas, em geral, esta corrente caracteriza-se por uma relação hierárquica em que o professor é responsável pela transmissão do conhecimento de forma acabada ao aluno. O conteúdo a ser passado é pré-definido de acordo com o que a tradição julga mais importante.

Uma crítica que se faz a este tipo de escola em que o professor fala e o aluno ouve é que ela se preocupa mais com a variedade e a quantidade de informações de que com a formação do pensamento reflexivo. Paulo Freire chegou a chamar este procedimento de “educação bancária”, segundo a qual simplesmente se depositam conhecimentos no aluno. O fato é que esta “educação bancária” tem rendido juros, com um alto índice de aprovação no Vestibular.

Também não é para menos: a forma de avaliação é semelhante à do Vestibular. Verifica-se o sucesso do ensino pela quantidade e exatidão de informações que o aluno consegue reproduzir. As provas e os exames certificam se o mínimo exigido para cada período foi atingido.

Behaviorismo

Não muito diferente da abordagem tradicional é a da escola comportamentalista, inspirada na psicologia behaviorista. Nela, a avaliação também tem um papel fundamental: no início, para que o professor possa estabelecer estratégias para atingir os objetivos; durante o processo de aprendizagem, para controle e replanejamento; e ao final, para verificar se os resultados desejados foram obtidos.

Como ocorre na escola tradicional, estes objetivos são pré-definidos, sem a participação do aluno. Para atingir os objetivos são usados “reforçadores”, como notas, prêmios, status, reconhecimento de professores e colegas e promessa de vantagens sociais futuras. O professor deve elaborar um sistema para que o desempenho do aluno seja maximizado de acordo com os objetivos traçados.

A diferença básica da metodologia compormentalista para a tradicional é que a compormentalista considera o homem como produto do meio e, portanto, julga que o conhecimento é resultado direto da experiência. No entanto, a “descoberta do mundo”, a experiência, deve ser orientada pelo professor.

Piaget e Construtivismo

Para o psicólogo suíço Jean Piaget, o meio também é importante. É da interação entre o homem e o mundo que advém o conhecimento. A ênfase do método piagetiano é nos processos cognitivos, ou seja, nas formas pelas quais o estudante lida com os estímulos, organiza dados, adquire conceitos e resolve problemas. O erro é considerado como parte do processo de elaboração do conhecimento e, portanto, aquele que o comete não deve ser punido. Segundo Piaget, a inteligência é uma conjunção de fatores genéticos e ambientais.

Um desdobramento do método cognitivista de Piaget é a escola construtivista. De acordo com ela, o professor deve dar autonomia para que o aluno produza seu próprio conhecimento, limitando-se a ser um “propositor de problemas”, estimulando a curiosidade do aluno para que ele faça suas descobertas. A educação deve levar em conta tanto o lado intelectual quanto o afetivo, moral e social. Para cognitivistas e construtivistas, a avaliação não deve se estabelecer por métodos quantitativos, mas por uma análise da evolução qualitativa conseguida pelo aluno.

Montessori

Permitir à criança formar seu próprio conhecimento é também uma prerrogativa da escola montessoriana. Para a fundadora da escola, a italiana Maria Montessori, as crianças são talentosas, curiosas e criativas quando trabalham com algo que prende seu interesse e que elas mesmas escolheram explorar. Os professores devem ser guias que ajudam o aluno a aprender como aprender por si só, estimulando-o a desenvolver seu potencial humano. O espaço escolar deve ser o “reino da criança”, onde ela tem autonomia para agir e responsabilidades com que arcar. Desta forma, a proposta montessoriana é que a criança aprenda a viver em comunidade, de modo maduro, ajudando os menores, guardando os brinquedos depois de brincar, limpando o que sujar, respeitando e sendo respeitada. A sala de aula montessoriana é um pequeno “meio ambiente” com o máximo de recursos possível, pois acredita-se que a criança constrói seu conhecimento por meio da percepção, explorando e manipulando objetos com liberdade, trabalhando sozinha ou em grupo, sem prejudicar os outros nem estragar nada, e devolvendo o material que estiver usando ao seu devido lugar após finalizar seu trabalho.

Freinet

O francês Célestin Freinet também acreditava que a criança devia estar no centro de tudo, sendo tratada pelo adulto em condições de igualdade. Era contra o autoritarismo sob qualquer aspecto, sendo contrário à avaliação quantitativa e à imposição de castigos e sanções. Isso não significa que, de acordo com a corrente pedagógica que criou, não deva haver ordem e disciplina em sala de aula. Ao contrário, o respeito mútuo entre professor e aluno é fundamental. O método Freinet é eminentemente participativo. O conhecimento é adquirido pela experiência e o aluno deve ser motivado a experimentar tudo quanto queira. Um dos princípios deste método é despertar, na criança, a afetividade, o senso de responsabilidade, o senso cooperativo, a sociabilidade e a autonomia reflexiva. Recursos como a aula-passeio e a imprensa escolar são usados para motivar o interesse dos alunos. De acordo com a pedagogia Freinet, o aluno deve escolher as estratégias de desenvolvimento dos conteúdos previstos no currículo e ser capaz de se auto-avaliar.

Pedagogia Waldorf

Outro europeu que resolveu dar sua contribuição à Pedagogia foi o austríaco Rudolf Steiner, criador dos estudos antroposóficos, que deram origem ao método Waldorf. Para Steiner, a vida escolar também é, como para Freinet e Montessori, uma vida em conjunto, de respeito, distribuição de responsabilidades e afeto. O professor deve ser o mesmo da 1ª à 8ª série, permitindo um conhecimento profundo do aluno. Segundo a teoria antroposófica, o desenvolvimento humano se dá em diversos estágios, todos com duração aproximada de sete anos. O ensino deve respeitar estes estágios desenvolvendo-se de forma diferenciada em cada um. A experimentação, aqui, também é fundamental para o aprendizado. O método de avaliação das escolas Waldorf também é qualitativo, no sentido de dar retorno ao professor sobre o grau de desenvolvimento do aluno. Não há repetições de ano e nem atribuições de notas no sentido usual.

Abordagem Humanista

Carl Rogers é mais radical. Para ele, a única avaliação possível é a auto-avaliação. O indivíduo deve ser capaz de construir seu próprio conhecimento bem como de se auto-avaliar. O professor apenas cria condições que facilitem a auto-aprendizagem, de forma que seja possível o desenvolvimento intelectual e emocional do aluno. O método de ensino é “não-diretivo”: o professor se abstém de intervir diretamente no campo cognitivo e afetivo do aluno. Cada professor deve elaborar seu repertório próprio para facilitar a comunicação do estudante consigo mesmo, de modo que o próprio aluno possa estruturar seu conhecimento. A abordagem humanista entende que o mundo é “criado” em cada indivíduo com base em suas percepções, estímulos e experiências. Por isto, deve-se permitir ao aluno criar sua própria noção de mundo calçado em suas experiências.

Logosofia

De todas as correntes pedagógicas, a logosófica é a que mais se preocupa com o lado espiritual da educação. Conhecida como “pedagogia da felicidade”, ela se preocupa em transmitir valores morais para a vida em sociedade. A Logosofia defende o autoconhecimento como base de toda evolução. O aluno deve participar ativamente do processo de autoconhecimento e deve ser respeitado de acordo com sua realidade física, psicológica e espiritual. A idéia de um mundo espiritual e da existência de Deus é fundamental para a filosofia logosófica.

O Professor e os Rumos da Educação

Cabe ao professor/educador avaliar que linha pedagógica deve seguir. Alunos bem-formados e malformados saem de todos os tipos de escola, sendo difícil avaliar se uma é melhor do que outra. O próprio conceito do que seja um bom ou mau aluno é extremamente subjetivo. Alguém com maiores conhecimentos de disciplinas usuais não é, necessariamente, mais bem preparado para a vida do que aquele que estudou numa escola cujo enfoque dado é na sociabilização. Um futuro artista plástico talvez esteja melhor ambientado em um lugar onde sua criatividade seja melhor desenvolvida. Um futuro militar pode ser melhor preparado numa escola que incentive a competição e o trabalho em equipe. Mas é difícil prever o que ocorrerá no futuro. A educação é um longo caminho a ser percorrido. O melhor que se pode fazer, então, é fazer o melhor possível. Seja em que escola for.

 

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