Alunos da 6ª série viajam no tempo para resgatar a Matemática envolvida na história do país

Engana-se quem pensa que entre a Matemática e a História do Brasil não nada em comum. A professora Elaine de Andrade, que leciona para a 6ª série do Centro Educacional Serra dos Órgãos (CESO), em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, comprova o contrário. Motivada pelos 500 anos de descobrimento do Brasil, ela desenvolveu com seus alunos da, um trabalho simulando uma viagem no tempo de resgate à Matemática envolvida em meio século de história.
Por conta do projeto “Brasil, Mais de 500 anos. Uma Visão Matemática da História”, a professora e seus alunos foram além dos limites do descobrimento e resgataram mais de 2 bilhões de História. A idéia de estudar vários milênios surgiu como desdobramento das pesquisas feitas fora e dentro de sala. “Percebemos que tínhamos em mãos dados importantes nvolvendo um período histórico muito amplo, que não podiam ser desperdiçados”, explica a professora.
A participação não foi obrigatória. Elaine idealizou um trabalho extraclasse para a série na qual leciona. Pelas dimensões que tomou, a atividade acabou envolvendo as disciplinas de História, Geografia, Ciências, Português e Informática, já que compreendeu a análise de fatos históricos, posições geográficas, população, instrumentos científicos utilizados na época e a confecção de slides no computador. Partindo do início da formação do território brasileiro até chegar à época atual, o projeto permitiu também a Elaine revisar conteúdos matemáticos já estudados pelos alunos, como escala de tempo, conversão de horas, cálculo de volume e de área e construção de gráficos.

Criando uma Escala de Tempo

Para tornar mais claros os intervalos de tempo envolvidos no estudo, a história de nosso país foi incluída em uma escala de tempo de um ano, ou seja, 365 dias. Foi escolhido, arbitrariamente, um período que, na escala, daria início à análise associado ao princípio da formação do território brasileiro, há dois bilhões de ano. Portanto, a viagem começou na primeira hora do primeiro dia de um ano fictício, em 1º de janeiro, a zero hora, e terminou, nos tempos atuais, no último dia de 1999, ou seja, em 31 de dezembro, às 24 horas. Para contar dois bilhões de anos numa escala de tempo de uma hora, foi necessário fazer conversões de hora em minuto e em segundos. Assim, no desenvolvimento do trabalho, constatou-se que o descobrimento do Brasil pelos portugueses ocorreu nos últimos 8 segundos da escala. Ao usar tais conteúdos, a garotada ainda percebeu que cada um, na história do país, representa um grão de areia na praia. “Já que 500 anos eqüivalem a 8 segundos de História, imaginem só a nossa vida!”, exclamou um dos alunos durante a desenvolvimento do trabalho.

Calculando a Área e o Volume

O porte das embarcações era avaliado em tonéis, recipientes em que eram acondicionados a água, o vinho e o vinagre a serem consumidos pelo pessoal a bordo. Para fazer os cálculos sobre o número de tonéis era necessário saber o volume ocupado por um tonel. Assim, os alunos raciocinaram para entendendo, na prática, como faziam todos na época de Pedro Álvares Cabral. Cientes de que as dimensões de um tonel eram de 0,75m de diâmetro de tampa, 1,50m de altura e 1,00m de diâmetro de bojo, a garotada concluiu que o volume ocupado era de 1,50m3. Bastou multiplicar as três medidas.

Calculando a área e o volume das embarcações, os alunos montaram um gráfico mostrando o porte e a quantidade de homens que compunha a tripulação de cada frota. Para se ter uma idéia, a Nau Capitânia, de Cabral, era constituída por 10 naus e 3 caravelas. Seu porte era de 250 tonéis e sua tripulação reunia 190 homens. Já a Naveta de Mantimentos, frota de Gaspar de Lemos, e a Caravela Redonda, de Bartolomeu Dias, tinham um porte de 100 tonéis e 80 homens.

Além do porte, foi também calculada a autonomia de uma nau ou caravela, ou seja, o número de meses em que ela poderia permanecer no mar sem se reabastecer com mantimentos líquidos. Para tanto, foi utilizada a fórmula A = 10T/L, em que T representava o porte da embarcação em número de tonéis e L, a lotação normal. Fazendo os devidos cálculos, os alunos descobriram que a Nau Capitânia possuía autonomia referente a 12 meses.

Construindo Gráficos:

Para analisar desde os mares em que navegavam as naus portuguesas até as marés de crises do Brasil de hoje, em termos matemáticos, vários gráficos foram construídos. Sabendo-se que de 1842 a 1852 foram importados muitos escravos, cerca de 330 mil, o crescimento e a queda desta prática, em cada ano, foram analisados em um gráfico desenhado pelos alunos. E, para se analisarem as crises econômicas pelas quais o país já passou, a garotada construiu um gráfico indicando a dívida externa brasileira entre 1946 e 1996. Notou-se que o Brasil procura a estabilidade econômica há várias décadas.

O Início e o Fim Desta Viagem

A viagem teve início em março, incluindo pesquisas divididas por fases pelas quais passou o país - Brasil Colônia, Império e República. Os alunos utilizaram livros de História e Geografia, enciclopédias, revistas de Educação e Informática, Internet, e navegaram por páginas sobre assuntos como a preservação da Mata Atlântica, índios brasileiros e a comemoração dos 500 anos. “Na pesquisa, os alunos descobriram, por exemplo, que quando os portugueses chegaram à ‘Terra Brasilis’, a população indígena era oito vezes maior”, revela a professora Elaine.

Recolhidos inúmeros dados históricos, geográficos e matemáticos, a professora auxiliou o grupo a selecionar o que interessava ao projeto, ou seja, fatos marcantes envolvendo a Matemática. “No princípio, eu pedia aos alunos que trouxessem o máximo de informações possível, independentemente da disciplina envolvida. Depois, separava o que mais interessava”, diz Elaine. Quantos aos conteúdos matemáticos que iam aparecendo durante o desenvolvimento do trabalho, a professora os reforçava nas aulas e tirava dúvidas que os alunos ainda tivessem.

Para consumar a finalização do trabalho, ocorrida em agosto, o grupo de alunos e a professora puseram no computador, resumidamente, todos os fatos históricos e matemáticos selecionados para o computador, resumidamente. Usaram o programa Microsoft Power-Point, o projeto. E o projeto, que, até então, estava no papel, transformou-se numa programação multimídia (slides), dividida em sete etapas e apresentada na Sala Multimídia da Fundação Serra dos Órgãos (FESO).

As Etapas do Projeto

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