Era Uma Vez...
Uma relação de amor: o livro e eu
Beatriz Dusi

Livros e Máquinas

“Espero que meus filhos e netos utilizem o computador; porém que também leiam bons livros.” (Bill Gates)

Quem é este homem que, em plena era do computador, preocupa-se, e muito, com a leitura dos filhos e netos? Ele simplesmente é o dono da Microsoft, a empresa mais importante do ramo da computação. Não há, hoje em dia, criança ou adulto que não tenha tomado conhecimento do que seja computador, Informática, Internet, etc. Mas, para saber usar a máquina há necessidade de se decifrarem todos aqueles sinais. E o que vai levar a pessoa a saber lidar com aquele equipamento? A leitura. Daqui para frente, usaremos cada vez mais as máquinas? E quem irá fazer esta ponte de interação/integração? É você, professor! Sua responsabilidade aumentou.

E a escola como está se comportando em face de tantas inovações? Mantém as mesmas práticas educacionais de anos atrás ou está acompanhando a evolução do mundo? Cada vez mais, sofisticados computadores e máquinas surgem para que o trabalho seja mais racional e o lazer tenha mais espaço na vida. Mas tudo isto só é possível porque o homem está presente em todas as etapas desta evolução/revolução.

Estamos às vésperas do 3º milênio da Era Cristã. Insisto na pergunta: a escola está acompanhando esta evolução/revolução? Será que a sua participação termina na hora do sinal de saída? O que é melhor: uma criança na rua ou na escola? Por que não se forma um tripé fundamental para assegurar o mínimo necessário ao aluno: educação, saúde e alimentação, numa escola com horário integral? O que se vê é nenhuma vontade política para tal realização. Mais uma vez, a acomodação é geral.

Está nas mãos do profissional de ensino indicar o rumo que os alunos irão tomar, mas ele não pode estar sozinho nesta empreitada. A ajuda dos pais é imprescindível em um trabalho em parceria com a escola, implicando participação efetiva na vida escolar dos filhos. Temos que dar as mãos - família, escola e, por que não?, a comunidade - todos juntos, para a construção de uma sociedade igualitária, mesmo sabendo que nem todos terão oportunidades iguais num futuro de incertezas.

Recado

Ana Maria Machado está comemorando 30 anos de atividade literária. Além de consagrada escritora de livros infantis - são mais de 100 títulos publicados - é reconhecida, também, por sua obra para adultos, que, igualmente, premiada, tem-se revelado como uma das melhores da Literatura Brasileira contemporânea. Para celebrar tantos anos de conquistas, a editora Nova Fronteira acaba de lançar “Mas que Festa”, ilustrado por Graça Lima e dedicado ao público infantil, e “A Audácia Dessa Mulher”, para adultos.

Resenhas

Você, que já foi criança um dia, por certo escutou ou leu, maravilhado, contos de Malba Tahan tais como: O homem que Calculava, Céu de Alá, Maktub, A caixa do Futuro, etc. Agora, você tem a chance de reviver a mesma emoção. A Editora Record, além de reeditar todos os livros do autor para o público infanto-juvenil, está lançando edições para o leitor adulto. O sucesso é garantido!

Júlio César de Mello e Souza - professor de História, Geografia, Física e Matemática, além de excepcional contador de histórias - adotou o pseudônimo de Malba Tahan unindo o nome de um oásis do Iêmen - Malba - com o sobrenome de uma aluna - Tahan. Surgia, assim, o talentoso escritor de lendas e histórias do povo árabe e hábil estudioso da cultura islâmica. Basta ver por sua obra.

Lendas do Oásis, ilustrada por Myoung Youn Lee, remete-nos ao sempre encantado e enigmático mundo árabe e, ainda, à gélida Ucrânia, à imperial Viena e à misteriosa Índia. Seus personagens - monarcas, sultões, beduínos, dançarinas hindus, escravos, etc., são tentados pelo orgulho, padecem de punições injustas, mas também conhecem gestos de amizade e perdão. Os contos descritos nos remetem, de pronto, ao local da história. Logo, estamos participando do enredo. E como não sofrer com o rei Yadava, de A Recompensa de Sessa, ou divertir-se com Vladimir Kolievich, de O sábio da Efelogia? Impossível! A imaginação fértil do leitor de Malba Tahan é aguçada, também, constantemente mas há sempre grande prazer em reler os contos dele, imbatível ao associar a areia escaldante do deserto a odaliscas sensuais, tapetes voadores e minaretes.

Salim, o Mágico, ilustrado por Myoung Youn Lee, foi escrito, no início dos anos 70, quando a ditadura militar impunha uma censura opressora a toda produção cultural. Mas, Malba Tahan soube, como ninguém, mostrar, por meio da sátira política, o ridículo dos vícios do regime vigente. O leitor logo identificará pessoas que estavam em evidência naquele período, e as conseqüências - forças ocultas, tentativas de golpe de Estado, generais de pijama e, principalmente, privilégios.

O autor teve o cuidado de através de, em “Comentários e Curiosidades”, levar o leitor a se familiarizar com as palavras do livro que não são de uso corrente na nossa língua. Quanto à produção editorial, é sempre bem-cuidada. Quem assina a capa do livro é Glenda Rubinstein, e cabe a Felipe Goifman a fot da capa.

Beatriz Dusi é pedagoga, jornalista e especialista em Literatura infanto-juvenil

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