Organização Curricular em Foco
Seminário discute novos rumos da Educação no Brasil


Da esquerda para a direita, os palestrantes Regina de Assis e Carlos Roberto Jamil Cury. Ao término do evento, uma certeza: "as Diretrizes Curriculares Nacionais vieram garantir a unicidade da Educação no Brasil"

Temos que ser desafiados a modificar o ensino em nossas escolas. Para isto, precisamos de profissionais determinados, vocacionados e prontos para cumprir seu papel". Com estas palavras, Luiz Fernando Conde, representante do Núcleo de Desenvolvimento e Promoção Humana (Nudeph), abriu o seminário Organização Curricular da Escola Básica Brasileira, ocorrido dia 31 de agosto, no Rio de Janeiro. O evento contou com a presença de mais de 200 profissionais de ensino, tais como professores e diretores de escolas, que tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais e sua aplicações, e de ouvir relatos de experiências pedagógicas bem-sucedidas em outros estados. O palestrante Carlos Roberto Jamil Cury, professor e membro do Conselho Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Fundef, abordou as referências ao currículo escolar na legislação brasileira, ao longo dos anos e a redescoberta da sua importância na Educação brasileira. "A escola é o lugar em que se concentra, nas propostas pedagógicas, toda a riqueza curricular incentivada nas Diretrizes Curriculares Nacionais. O currículo é o ponto de partida da Educação" - afirmou Cury. Complementando o discurso de Carlos, a relatora do parecer e da resolução sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental, professora Regina de Assis, falou aos presentes sobre a necessidade de união entre os profissionais de ensino na busca pela melhor maneira de transformar as Diretrizes em verdadeiras práticas pedagógicas. "É um desafio que coloca nas mãos de cada equipe pedagógica, em cada unidade escolar, a autonomia de redescobrir, recriar e transformar o que é de direito de alunos e professores no exercício de sua cidadania, que são as Diretrizes Curriculares Nacionais" - disse Regina. Regina destacou, ainda, a importância de se pensar no papel fundamental da Educação Básica, na sua qualificação e na necessidade de transfomá-la, visto que os alunos têm chegado no ensino superior muito despreparados. "É neste cenário que as diretrizes se inserem, buscando a inclusão de crianças, adolescentes e jovens brasileiros em uma Educação de qualidade e, também, proporcionando aos professores condições viáveis de trabalho para executarem e transformarem nossa Educação" - lembrou Regina. O professor Antenor Manoel Naspolini, Secretário de Educação do Estado do Ceará, ressaltou a importância da formação dos educadores brasileiros e falou de suas conquistas educacionais no Ceará. Segundo ele, a escola precisa ser um "rio perene", ponto de chegada de três "afluentes" - o pedagógico, que dá curso ao rio; a participação e a administração. O professor ainda acrescentou que "a garantia de uma Educação de qualidade está na valorização do magistério, através de cursos de formação, da criação de planos de carreira, da elaboração de um Estatuto do Magistério e da abertura de condições de ingresso em concursos", o que, segundo ele, está sendo feito no Ceará. Por conta da nova concepção de ensino, o Secretário explicou que, no Ceará, foram realizadas algumas ações decisivas para a capacitação dos professores, viabilizando uma sucessão de experiências pedagógicas bem-sucedidas nas regiões do estado. "Informatizamos as salas de aula, criamos licenciaturas com tempo reduzido e instituímos um concurso único para professores. Na rede pública, a formação dos professores do ensino fundamental passou a ser continuada, contando com o auxílio de fascículos semanais, divididos por disciplinas, e o de material audiovisual, e a formação docente de nível superior passou a ser por área e não mais por disciplina" - explica o Secretário. Exemplificando o esforço que deu certo em prol de uma Educação de qualidade, a Escola Municipal Santa Isabel, de Carazinho, no Rio Grande do Sul, trouxe a público seu projeto "Da escola real para a ideal", através do qual foram implantados programas de qualificação de professores e controle de evasão escolar, foram realizados projetos interdisciplinares e foi reconstruída a proposta pedagógica da escola.

 

Em outro momento, a diretora Shirley, da Escola Municipal Vargem Grande, no Rio de Janeiro, mostrou, a todos, como é possível ensinar sem o uso de livros didáticos. Em sua escola, todas as disciplinas são ministradas com base em pesquisas e projetos. E o resultado é tão bom quanto o das instituições que os adotam, ou melhor. "Para que a exclusão do livro didático seja eficaz, basta se criar um projeto pedagógico bem-elaborado. Foi o que fizemos" - explicou Shirley. Ao final do evento, os participantes foram para casa com algumas certezas: as Diretrizes Curriculares Nacionais foram formuladas para organizar a Educação e assegurar, à criatividade e ao empenho dos professores, a possibilidade de múltiplas e necessárias orientações institucionais e curriculares inovadoras. E, para bem aplicá-las, é preciso que os profissionais de ensino se conscientizem de que o país só se desenvolve com base em uma Educação de qualidade e o papel do educador, nesta jornada, é fundamental. As Diretrizes Curriculares Nacionais vieram garantir a unicidade da Educação no Brasil. Vale a pena lutar por isto!


"A garantia de uma Educação de qualidade está na valorização do magistério"
Antenor M. Naspolini, Secretário de Educação do Ceará

 



O que dizem as Diretrizes Curriculares Nacionais...

... a respeito da Educação Infantil:

- É preciso proporcionar um ambiente propício ao aprendizado;
- Todo aluno é especial e deve ser ouvido e respeitado; - É preciso deixar que as crianças cresçam de acordo com suas potencialidades;
- Natureza e indivíduo devem constar no aprendizado das crianças;
- O jogo e a brincadeira são importantes para o conhecimento e a descoberta;
- Propostas pedagógicas devem ser criadas e avaliadas por educadores com, pelo menos, curso normal de nível médio concluído;
- Multidisciplinaridade é essencial para educar.

... a respeito do Ensino Fundamental:

- É necessário combinar a Educação e cotidiano;
- Descobrir as potencialidades dos alunos;
- Devemos reconhecer a identidade dos alunos e dos professores, mostrando-lhes que é preciso ser o que somos e não o que os outros querem que sejamos;
- É preciso estabelecer diálogo e trocar idéias com os alunos;
- Todos alunos devem ter acesso aos mesmos conteúdos;
- Combinar áreas de conhecimento (interdisciplinaridade).


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