A Formação do Professor Leitor e Escritor

Rona Hanning

A caminho de Macapá -AP, para realizar uma oficina pelo PROLER, resolvi divulgá-la para um público mais amplo do que aquele com o qual irei vivenciar esta experiência. Mencioná-la neste espaço tem, então, a finalidade de colocá-la em diálogo com um número maior de pessoas que faz da prática pedagógica um caminho para a transformação da Educação brasileira.

A escola necessita, cada vez mais, urgentemente, resignificar a linguagem, devolver-lhe seu caráter dialógico, para que esta deixe de ser apenas instrumento de trabalho, e volte a ser eixo das relações humanas. Resgatar a linguagem significativa, a meu ver, pode ser um caminho possível para reverter o quadro sombrio de isolamento humano a que a escola está, há tanto, acostumada. Professores e alunos precisam fazer parte de um mesmo processo e percurso. Ambos deveriam estar construindo juntos suas narrações, dando significado a essa linguagem que sentido, história, experiência, afeto e é por eles constituída.

Portanto, buscar entender este espaço escolar como espaço de trocas, de construções coletivas e individuais, espaço de recuperação do sujeito como ser histórico, social e cultural, parece-me algo necessário para se tentar fazer da escola um lugar de possíveis transformações.

Se entendemos que é nesta escola, em busca de uma relação dialógica entre professores e alunos, que nos encontramos hoje, e que nela buscamos encontrar uma formação mais crítica e criativa, devemos, então, pensar em como trabalhar com a Literatura em sala de aula, para que os pressupostos apontados acima não se desfaçam.

Aliar teoria e prática no campo pedagógico sempre foi, e continua sendo, um desafio, mas o que seria da Educação se não fossem os desafios? Então, resta-nos traçar um percurso de leitura em que tanto alunos quanto professores estejam inseridos na jornada de construir conjuntamente uma leitura significativa, entendendo o ato de leitura como de produção de sentido. E, como tal, resta-nos entender que ler pressupõe um sujeito cognitivo que pensa e pode pensar sobre o próprio pensamento, ou seja, o sujeito-leitor que se reconhece e se constitui com base no que foi lido. A leitura ainda pressupõe uma diretividade metodológica. Ou seja, não basta que o professor dê o livro ao aluno, é necessário ter em mente o que se pretende atingir com esta leitura, para que, nesta busca incessante, o "professor possibilite ao aluno atribuir um pouco mais de sentido às atividades que a escola o leva a realizar. Então, o aluno também realiza um esforço, mas um esforço calcado no processo metacognitivo, capaz de produzir sentido e permitir aprendizagens."

Portanto, a leitura se dará naturalmente e construtivamente se alunos e professores percorrerem, juntos, este caminho, por um processo de interação. Como disse uma vez o escritor Bartolomeu Campos Queirós, "ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já decifrado."

Enquanto temos que estar atentos para esta interação, este dialogismo entre alunos, professores e linguagem, temos, também, que reescrever esta nova prática. Temos que devolver ao nosso cotidiano pedagógico a narração, ou, como dizia Walter Benjamin, a capacidade de intercambiar experiências. Neste coletivo que se constrói, as práticas individuais e coletivas precisam estar cada vez mais registradas para que, no fio do tempo, nada as possa romper. A história se faz com homens que, ao longo do tempo, registram suas experiências. Eis aí a necessidade de trazer para o âmbito escolar a escrita de vida, de trabalho, de afetos, de vivências.

Retornando a Bartolomeu Campos Queirós,"escrever é dividir-se". É fragmento de um sujeito que, somado a outros fragmentos, vai bordando histórias, experiências que, embora diferentes, sempre têm a nos ensinar. Compartilhemos!

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