A Literatura Infantil na escola: Um espaço do prazer

Rona Hanning

 

Receber esses livros significa, para a escola brasileira, uma grande conquista, pois poderá se iniciar um trabalho com livros de qualidade literária. Não quero dizer com isso que as escolas não tenham realizado, até então, bons trabalhos com bons livros. Apenas gostaria de ressaltar a importância de a escola brasileira estar recebendo livros que vão além dos didáticos e paradidáticos. Garantir aos alunos acesso a um material efetivamente literário me parece essencial para se iniciar uma virada no processo de formação de leitores.

Sabe-se que há diversos fatores influenciando esta árdua tarefa de formar leitores. Fatores que vão desde o alto custo dos livros, a falta de bibliotecas e salas de leitura, até o precário hábito de leitura das famílias e dos professores. E, ainda, quando disponível o livro na escola, há ,basicamente, aqueles que têm como objetivo transmitir uma mensagem informativa ou formadora; ou seja, livros que, através de uma história ficcional, pretendem chegar a um mesmo ponto conclusivo.

Diferente, o livro de Literatura não cerca o sentido do texto limitando-o a apenas uma conclusão, como fazem os textos paradidáticos; nem tem a intenção de informar e ser útil com aquela informação, como fazem os textos didáticos. A Literatura, ao contrário, pretende sempre enriquecer a visão de mundo do leitor, ampliando-a a partir de diversos referenciais. Portanto, em vez do útil (no sentido utilitário), a literatura busca o poético, o belo, o lúdico, e, principalmente, o prazer do leitor.

“A partir do fim de 1999, já não se poderá mais dizer que a literatura infantil está ausente das bibliotecas das escolas públicas brasileiras. A aquisição de 4,9 milhões de livros realizada pelo Ministério da Educação – que, até então, só repassava às escolas livros didáticos e de literatura geral – vai ajudar a formar o acervo básico das bibliotecas de 45 mil escolas públicas. Realizada com recursos do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação), a compra será baseada na seleção de 106 títulos feita pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e 4 indicados pelo Departamento de Educação Especial do MEC.”

 

A partir da breve e sucinta distinção feita sobre o texto didático, o paradidático e o literário, procuro apontar para a necessidade que tem a escola, enquanto instituição de ensino, em não se restringir somente à transmissão de conhecimentos, mas em formar pessoas capazes de refletir sobre as informações adquiridas e, portanto, produzirem seus próprios conhecimentos. É nesse sentido e com essa intenção que a literatura se torna material importante para a construção do conhecimento, pois ela possibilita a todos o convívio com as questões humanas, vistas pelo ângulo da subjetividade e da poeticidade.

Cabe à escola, diante da conquista de 4,9 milhões de livros, estar preparada não apenas para receber esses livros, mas também para trabalhar com eles numa perspectiva de conquista afetiva. Acredito ser fundamental, num primeiro momento, trazer os livros às pessoas, e não levar as pessoas ao livro, porque sobre esta metodologia já se tentou trabalhar e o resultado permaneceu nulo no que tange à formação de leitores. Portanto, proponho que, com a chegada desses livros, as escolas construam suas propostas de leitura baseadas no despertar de interesse dos sujeitos envolvidos no ensino-aprendizagem. Tanto alunos quanto professores precisam estar dispostos a entrar no mundo encantado da literatura infantil e, assim, começar a construir seus projetos de formação de leitores.

Como em qualquer percurso, os caminhos, muitas vezes, parecem sem fim. Mas atenção professores: não desistam perante as dificuldades. Elas são inerentes a todas as novas jornadas e é a partir delas que crescemos. Portanto, quando aparecerem dúvidas do tipo: como conseguir que os alunos se interessem pelos livros? E, como trabalhar com os livros?, parem para refletir e se coloquem como alunos, deixando sentir como gostariam de se aproximar dos livros e trabalhar com eles. O processo é mesmo criativo, e depende de cada professor, mas vai uma dica... a melhor forma é a de proporcionar liberdade para que cada um se aproxime do material e escolha com qual mais se identificou. A partir daí, o trabalho se desenvolve com mais prazer. Bom trabalho a todos!