Jogo de interpretação de papéis ajuda alunos a compreenderem conteúdos de História

Simone Garrafiel

Você consegue se imaginar em plena Idade Média, em meio a uma invasão bárbara, ou sendo um artista da Era Renascentista? E se tivesse uma máquina do tempo para se reportar a essas épocas? Imagine o quanto aprenderia se pudesse vivenciar, por algumas horas, os acontecimentos daqueles tempos. Os alunos da 7ª série do Colégio Andrews, no Humaitá, estão tendo a oportunidade de viajar nesta máquina do tempo e sentem, na pele, o que foi viver nessas fases da História. Isto é possível através da imaginação de cada um, somada a dados, fichas, algumas regrinhas e um pouquinho de esforço mental e criativo. O RPG invade as aulas de História.

A idéia de utilizar o RPG (Role Playing Game) no ensino de História foi da Coordenação de Permanência, dirigida pela professora Tânia Luzia Diniz Ferreira, da orientadora pedagógica Denise Azevedo Ferreira e da professora de História Maria Goretti, que leciona para a 6ª e a 7ª séries. “Achamos interessante quando o Flávio Andrade e o Carlos Klimick, mestres de RPG, vieram apresentar o trabalho deles na biblioteca do colégio e disseram que o jogo poderia ser relacionado à Educação, auxiliando todas disciplinas” – diz Tânia. Mas, a escolha de aliá-lo à História veio da dificuldade que os alunos estavam tendo em contextualizar os conteúdos da disciplina.

Pensando na formação do aluno e procurando conscientizá-lo de que estudar é muito mais do que realizar tarefas, Tânia e Denise, através do regime de permanência, no qual alunos ficam na escola, na parte da tarde, fazendo trabalhos, buscam sempre projetos que complementem o que está sendo estudado e despertem a curiosidade do aluno. “Com este trabalho de RPG, o grupo da permanência passou a ter maior interesse pela matéria e conseguiu perceber melhor o momento histórico que está sendo trabalhado” – assegura Goretti. “É uma forma lúdica de os alunos encararem os estudos. O sucesso do jogo foi tão grande que os alunos pediram que continuássemos com esta atividade. E foi o que fizemos” – orgulha-se Tânia.

O primeiro passo do trabalho é a montagem da história que será “pano de fundo” para abordagem do conteúdo. Para isto, Flávio e Carlos se reúnem com a professora Goretti, que lhes passa o material que está sendo estudado em sala de aula, indica livros para pesquisa e diz quais principais assuntos devem ser abordados. “O primeiro jogo que montamos referiu-se à Idade Média. Criamos os personagens e, com base em suas características, montamos uma trama que os envolveu. Resumimos 200 anos de História em oito sessões, de 50 minutos cada” – explica Flávio.

A seleção dos personagens é feita de acordo com o assunto que será estudado. “No trabalho sobre Idade Média, o jogo transcorreu simultaneamente às aulas da professora Goretti. Eu e o Carlos criamos os personagens e os alunos escolheram quais queriam incorporar. Mas, quando trabalhamos com o Renascimento, eles já haviam feito um trabalho sobre o assunto. Então, demos liberdade de criação a todos e fizemos uma sessão só para escolha e montagem dos personagens” – esclarece Flávio.

 

Na história, cada personagem tem características físicas (alto, magro, moreno...), habilidades (artísticas, de montaria, de atirar...) e atributos (força, destreza, intelecto, presença, vontade...) classificados por níveis (regular, bom, ótimo, forte, etc), de acordo com a sua condição na trama. Sendo assim, um pintor da Renascença, por exemplo, terá que ser perito na sua arte, poderá ser aprendiz de Cavalaria e ter intelecto mediano, mas, de maneira alguma, poderá ter todas as suas características classificadas como ótimas e possuir um telefone celular. “Além de estarmos criando um super-homem, isto não condiziria com a realidade da época” – brinca Carlos.

Os personagens precisam estar de acordo com a ambientação. E a sua ação na trama precisa ser verossímil. Apesar de o intuito do jogo ser proporcionar ao aluno um aprendizado de maneira lúdica e divertida, é preciso que haja parâmetros que definam o que é possível ou impossível de ser feito. Depois de prontas a história e a caracterização dos personagens, Flávio e Carlos, que atuam como mestres (narradores) do jogo, dividem os alunos em grupos, segundo a atuação de seus personagens na trama, e começam a narrativa. Os mestres estão sempre atentos ao desenrolar do enredo, para que não haja desvio no que precisa ser explicado, já que não há como saber o que irá acontecer durante a história. “Não possuímos um script da história. Tudo depende do que os alunos vão criar”- diz Carlos. Mesmo que os alunos incorporem somente um personagem, o fato de eles assistirem ao que se passa com os outros permite que tenham uma noção geral do que está sendo abordado. E, ao final, todas as tramas paralelas convergem para uma só. Carlos exemplifica melhor: “Para que eles assimilassem o conflito de classes que culminou no fim da Idade Média, dividimos os grupos em nobreza e camponeses e, no final, conseguimos misturá-los quando o assunto era rebelião camponesa”.

O grande atrativo de uma aula de História com RPG é a diversão. Quanto mais divertido for o aprendizado, mais os alunos terão vontade de estudar, vivenciarão o que está sendo abordado e exigirão mais do professor, pois começarão a ter “sede” de conhecimento. “Nós bolamos uma história que seja ao mesmo tempo descontraída, tenha elementos que dinamizem os personagens e, neste ínterim, transmita o conteúdo com clareza. Em uma aula sobre Renascimento, por exemplo, fiz um mecenas retrucando: ‘Vocês, artistas, estão irritantes desde que passaram a assinar suas obras e aderiram a esta mania de valorização do homem. Antigamente, tudo era melhor’. Assim, os alunos perceberam a mudança na postura artística” – explica Carlos. Nesta mesma linha, outras disciplinas podem ser ministradas através do RPG. “Na disciplina de Geografia, pode-se criar uma história na qual os personagens fazem uma viagem e, ao longo do percurso, abordar aspectos geográficos. Quanto a Física e Matemática, a trama pode ser baseada em uma aventura de suspense e enigmas e sua continuação pode depender da resolução de fórmulas. Para o estudo de Literatura, ambienta-se a aventura na época de Machado de Assis e abordam-se as questões vistas em suas obras. Temos infinitas possibilidades de aplicação do RPG na Educação” – exemplifica Flávio. O jogo é um excelente trabalho de estímulo ao raciocínio e à imaginação e, por isto, torna-se um excelente auxilio à aprendizagem das crianças de todas as séries.

Desenvolvido com excelentes resultados no Colégio Andrews, o estudo de História através do RPG é uma forma de se passar para os alunos um número maior de informações e instigá-los a pesquisar sobre o assunto que está sendo abordado. Eles encontram prazer na busca pelo conhecimento. Reportar-se a épocas passadas da História, vivenciando-as de maneira divertida e didática é, sem dúvida, uma fórmula de sucesso no processo ensino-aprendizagem.

 

Colégio Andrews
Tel:539 1022
Tânia
Coordenação de Permanência
Flávio Andrade / Carlos Klimick
Tel: 447 0503 ou 447 1221