Freinet:

Uma Proposta de Educação

Alunos do J.I. à 4ª série estudam segundo as práticas do pedagogo Freinet, que tinha por objetivo dar mais vida e prazer à arte de educar

Por Katia Machado

Se o professor e pedagogo Celèstin Freinet fosse vivo, certamente seria o primeiro a conferir o trabalho desenvolvido pelo Jardim Escola Com-Viver, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A escola emprega uma pedagogia que se baseia no tateamento experimental, ou seja, a criança aprende por experimentação. Desta forma, constrói seu próprio conhecimento em interação com amigos, professores e o mundo que a rodeia. "Optamos por Freinet depois de muitos estudos e concluímos que a proposta deste pedagogo facilita o aprendizado de nossa língua", conta a diretora-geral Valéria Vasconcellos.

A proposta do Com-Viver, fundado em 1994, é associar a pedagogia de Freinet às necessidades do dia-a-dia da comunidade em que está inserida a escola. Para isto, Valéria e Cristina Corais, diretora- pedagógica da escola, implantaram em todas as séries, relacionados às diversas disciplinas, pequenos projetos aliando as técnicas deste pedagogo ao conteúdo didático. Eles são desenvolvidos em períodos curtos, que variam de 15 a 20 dias, e definidos juntamente com os professores, em reuniões, nas quais estes abordam experiências e sugestões que os alunos trazem para a sala de aula

O primeiro projeto do ano é planejado de maneira que o tema seja associado à identidade, para que a garotada possa estabelecer as primeiras relações de amizade e de socialização. Segundo as diretoras, nenhum projeto é desprezado pelas professoras, que aproveitam alguns para descontrair as turmas. "Trabalhando com um projeto de literatura infantil, a professora de Matemática que irá ensinar a multiplicar, pode contar a história infantil dos 'Três Porquinhos' para dar início às operações matemáticas", exemplifica Cláudia.

Freinet em prática

Seguindo os princípios básicos de Freinet - a cooperação, a afetividade, a comunicação e a documentação - o Com-Viver vai associando aos projetos as técnicas do pedagogo, que têm sempre por objetivo tornar mais prazerosa e viva a arte de educar. Vejamos algumas:

O Livro da vida

Todas as turmas da escola têm o seu Livro da Vida, como é o caso da própria instituição. Segundo a proposta de Freinet, o livro funciona como um diário da classe, em que são registrados textos livres, desenhos e pinturas. Esta atividade permite às crianças expor acontecimentos importantes, fatos individuais ou coletivos vividos por elas.

Jornal Mural

No J.E. Com-Viver, as salas de aula não são ocupadas apenas por cadeiras e mesas. Em suas paredes, estão afixados os trabalhos produzidos pelos alunos e, na medida em que os projetos mudam, os murais se renovam.

 

Imprensa Escolar

Toda criança se sente importante quando vê seu trabalho exposto para toda a escola e para a comunidade. Por isto, a imprensa escolar se torna um dos pilares da pedagogia Freinet. O Com-Viver usa esta técnica em todas as séries, lançando mão de textos escritos livremente ou sobre temas oriundos de projetos e pesquisas.

Jornal Escolar

Fruto da imprensa escolar, é composto por textos livres, poemas, informações importantes para a turma, desenhos e pinturas. Segundo as diretoras, é um dos maiores estímulos para a aprendizagem da leitura e da escrita.

Aula-Passeio

Por acreditar que o interesse da criança não se limitava à escola, estendendo-se ao que se passava fora dela, Freinet idealizou esta atividade com o objetivo de levar motivação, ação e vida para a escola. O Com-Viver, ao realizar esta atividade, traz para dentro da escola o mundo em que as crianças vivem. Muitas vezes, a escola utiliza este tipo de técnica como o clímax dos projetos.

Correspondência

Celèstin Freinet sempre viu no texto- livre a base da livre-expressão, mesmo englobando desenho, poema ou pintura. Acreditando nisto, a escola Com-Viver, mais uma vez, vem praticar o texto livre através da correspondência entre alunos, professores e turmas. Para que as cartas cheguem a seu destino, cada turma tem um nome: a do Menino Maluquinho (3ª série), a do Sorriso (1ª série), turma da Florzinha (Jardim III), entre outros.

A avaliação de todas as atividades é sempre feita como culminância dos projetos. "No Jardim, as professoras fazem a avaliação através de relatórios e preenchem um quadro com os objetivos que a criança atingiu, ou deveria atingir. Já da 1ª à 4ª série, trabalhamos com nota, para que ela não sinta tanta diferença ao sair da escola", esclarece Cláudia.

Para Valéria, o Com-Viver é sua vida. Eis o motivo de tanta dedicação. "É muito gratificante ver as crianças descobrirem a leitura aqui, sem nenhum trauma, e terem um grande prazer em aprender", diz entusiasmada. "A gente pisa nesta escola e sente a vida pulsar", completa Cláudia Corais, com a certeza de que, com o auxílio da teoria de Freinet, a escola Com-Viver vem oferecendo um ensino sério e de qualidade a seus alunos, impulsionando-os ao progresso no processo educacional.

 

Quem foi Celèstin Freinet?

Jardim Escola
Com-Viver

Rua Francisco Portela, 415
Guadalupe - RJ