Construtivismo:

Eficácia na Alfabetização

Professora muda na escola o conceito de alfabetização e passar a ensina segundo a teoria construtivista

Colégio em Niterói adota método de avaliação que estimula alunos a estudarem e auxilia o planejamento das aulas

Por Katia Machado

Levar o aluno a construir o próprio conhecimento, a ter a autonomia moral e intelectual. Este é o objetivo do Construtivismo, uma teoria pedagógica que surgiu com base nos estudos realizados pelo psicólogo Jean Piaget, estudioso do processo de funcionamento da inteligência e da aquisição do conhecimento. E, este foi o caminho que a professora Elaine C. P. de Souza escolheu para percorrer com os alunos da classe de alfabetização da Escola Municipal Polônia, situada em Sulacap, na Zona Norte do Rio de Janeiro. "Eu sempre percebi nas crianças a falta de criatividade e interesse pela escola. Vi no Construtivismo o meio de mudar este quadro", diz Elaine.

A professora tomou conhecimento da teoria construtivista, há seis anos, ao participar de cursos e seminários. Seguindo passo a passo os preceitos do Construtivismo aliados às necessidades do dia-a-dia de trabalho, Elaine desenvolveu o processo de alfabetização a fim de proporcionar à criança o prazer de estar na escola, aprender a ler e a escrever. "Meu objetivo não é somente o de alfabetizar, é também o de socializar a criança e ajudá-la a formar sua personalidade", diz Elaine. Assim, com histórias, dramatizações, vídeos e cartazes nas aulas, ela proporcionou aos alunos o conhecimento das diversas formas de comunicação, o que lhes facilitou a aprendizagem da escrita. "Primeiro, ouvi os alunos para saber o que era, para eles, ler e escrever e para que, em sua opinião, serviam estes conhecimentos. A partir daí, comecei a trabalhar a escrita e as diversas formas de comunicação, com base nas sugestões das crianças", completa.

O Construtivismo, então, constituiu a base da prática pedagógica de Elaine em sua experiência com 24 alunos da turma de Educação Infantil (E.I) da escola e, mais tarde, com aquele grupo e mais quatro alunos novatos, na turma da Classe de Alfabetização (C.A). Segundo Elaine, foi nessa época que passou a compreender e respeitar o desenvolvimento do processo de construção do conhecimento ocorrido nos diferentes estágios da vida da criança.

Escrever é uma atividade espontânea ou imposta?

Para Elaine Constant, o desenvolvimento da escrita acontece naturalmente, de acordo com os limites e a evolução individuais. O professor, ao impor à criança um modelo rígido de alfabetização, sem qualquer possibilidade dela experimentar outros métodos, fazer tentativas e descobertas, acaba limitando-a a executar somente cópias ou treinos manuais. Já quando a criança tem a oportunidade de escrever textos espontâneos, traz à tona conceitos pessoais, emoções , sua visão de mundo e da vida. Desta forma, torna-se agente no processo de aprendizagem da escrita.

Será que o Construtivismo é eficaz na alfabetização?

Elaine questionou-se sobre a eficácia do método, assim como os responsáveis pelos alunos. Contudo, a professora via a garotada entusiasmada relatando histórias com começo, meio e fim, tentando ler livros e, até mesmo, escrevendo textos, quando já detinha algum conhecimento da escrita. "Ainda com erros, mas escrevendo", enfatiza. Afinal, os erros devem ser considerados, segundo o teoria construtivista, como indicadores de como o aluno está desenvolvendo os seus esquemas mentais e assimilando as informações que recebe. Indicam, ainda, de que maneira o professor deve organizar sua prática, direcionando o ensino para a fixação de um conteúdo ou finalidade específica.

"A Menina que Ficou Feliz"

Era uma menina pobre que não tinha dinheiro e queria aprender a escrever e a ler e a mãe dela não tinha dinheiro para pagar a escola. Assim, a mãe dela arrumou uma vaga na Escola Polônia e ficou feliz para sempre e gostou da escola. E a mãe dela conseguiu uma vaga para trabalhar e recebeu dinheiro e ficou feliz para sempre".
(O texto foi elaborado com a participação do C.A)

 

 

 

Como aplicar as teorias construtivistas no C.A.?

Elaine dividiu o ano em quatro unidades, já que a escola se organiza em quatro semestres. Para iniciar a alfabetização segundo os métodos construtivistas, fez as crianças se reportarem à época dos homens das cavernas. Com o intuito de apresentar aos alunos as variadas formas de comunicação, mostrou-lhes réplicas de desenhos primitivos e explicou a todos que aquela era a forma de comunicação dos nossos ancestrais mais antigos. Em seguida, solicitou que cada criança fizesse o seu desenho e, depois, sentada em roda, adivinhasse as informações contidas no desenho do outro colega de classe.

O tema se desmembrou, gerando muitas outras atividades. Foram feitos um registro coletivo, oral e escrito (este com a ajuda de Elaine) a respeito dos homens das cavernas, dramatização, construção de cavernas e animais com massinha plástica e argila, grafismos em cavernas e confeccionadas em papel colorido, ensaios em escrita espontânea de palavras e trocas de idéias sobre formas de comunicação primitivas e atuais. O mesmo foi feito quando Elaine explicou à turma o que eram os hieróglifos, preparando seus alunos para conhecerem as manifestações escritas dos homens primitivos feitos através de desenhos.

A segunda unidade estudada incluiu os vários símbolos criados para facilitar a comunicação entre os homens. Assim, Elaine destacou, para os alunos, a importância da comunicação verbal. Utilizando como exemplos as placas de trânsito e explicando aos alunos o significado de cada uma, Elaine promoveu dramatizações, incentivou a leitura de jornais com notícias referentes ao trânsito, solicitou aos alunos que criassem placas de sinalização, produziu um texto coletivo sobre a importância delas, entre outras atividades.

"Quais as letras e números que vocês conhecem?" Esta foi a primeira pergunta que a educadora fez aos alunos, dando início à terceira unidade a ser estudada. Respondida a questão, Elaine mostrou aos alunos como surgiram as letras e os números em nosso mundo e como o homem cria e recria a comunicação escrita com o passar das gerações. E, foi apresentando aos alunos as primeiras letras, em cartazes, e o abecedário romano empregado até hoje e trazendo para a sala de aula músicas infantis, como o "Abecedário da Xuxa", que a professora começou a ensinar a turma a escrever as primeiras palavras.

Já conhecendo um pouco mais da escrita, ou seja, sabendo ler e escrever, os alunos passaram para a quarta unidade, em que aprenderam a reconhecer diferentes tipos de texto, tais como bilhetes, notícias de jornal, receitas, propagandas, listas de compras, histórias e outros. Um passeio que fizeram ao Supermercado Carrefour, de Sulacap, complementou as aulas. Afinal, Elaine incentivou a turma a produzir textos para encartes e propagandas em out-doors com linguagem bem simples, de acordo com a idade dos alfabetizados.

Ministrando o conteúdo de todas as unidades, Elaine nunca utilizou provas escritas para avaliar o desempenho dos alunos. As atividades realizadas serviam como indicativos de que uma ou outra criança estava apta para avançar em mais uma etapa do processo de aprendizagem da escrita. "A alfabetização se dá continuamente e não em um único ano. A criança, quando vai construindo seu conhecimento, vai descobrindo, prazerosamente, em cada momento, um detalhe da escrita. Cada atividade iniciada é um momento de alegria e construção da escrita", completa.

Atualmente, a professora Elaine ocupa o cargo de coordenadora pedagógica da escola. A regência da turma de C.A da Escola Polônia cabe, agora, à professora xxxxx, que ora utiliza os métodos construtivistas, ora o método tradicional de alfabetização. Mas a garotada sente falta da educadora que mudou na escola o conceito de alfabetização. A semente, entretanto, já foi plantada. "Agora, é possível observar as crianças escrevendo sem medo, lendo jornais e muitos outros textos", comemora Elaine, com a certeza de ter cumprido o seu dever.



Escola Municipal Polônia
Profª Elaine Constant
Tel.: (021) 401-5539