E-BOOK REVISTA APPAI EDUCAR - EDIÇÃO 172

2 E-book Revista Appai Educar Iniciada, geralmente, ainda na infância, a alfabetização desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das crianças, tornando-se um verdadeiro divisor de águas para sua trajetória acadêmica e o exercício pleno da cidadania. Mais do que aprender a decodificar palavras, a alfabetização é a porta de entrada em prol do conhecimento, contribuindo na propagação do pensamento crítico, da criatividade e da autonomia. É nesse processo que as crianças começam a construir as bases, a fim de compreenderem o mundo ao seu redor e se tornarem participantes ativas na sociedade.

3 E-book Revista Appai Educar Entretanto, o dia a dia tem nos mostrado que cada vez mais crianças não estão sendo alfabetizadas na idade certa. E o que fazer para mudar essa realidade? Na perspectiva de abordar o tema e trazer insights, a Revista Appai Educar convidou Luciana Maia – professora, especialista em Alfabetização, Educação Especial e Inclusiva e Avaliação Educacional, palestrante e coautora do livro “Guia de Letramento e Alfabetização”, pela Wak Editora – para nos conduzir na jornada desse e-book especial sobre O “tempo certo” na alfabetização. Nem antes e nem depois.

4 E-book Revista Appai Educar Desafios e soluções no processo de alfabetização no Brasil É de ciência de todos os atores envolvidos que o processo de alfabetização, essencial na evolução acadêmica das crianças, envolve uma série de etapas que começam na Educação Infantil e seguem até o 3º ano do Ensino Fundamental. No entanto, diversos desafios pedagógicos, estruturais e sociais ainda dificultam o sucesso da alfabetização no Brasil. Fatores como a falta de métodos pedagógicos eficazes, turmas superlotadas, escassez de materiais adequados e desigualdades socioeconômicas prejudicam o progresso dos pequenos. Neste contexto, a especialista Luciana pontua a importância de uma abordagem mais personalizada, da melhoria da formação docente e do engajamento familiar para superar essas barreiras e garantir que todas as crianças tenham acesso a uma alfabetização de qualidade. “No Brasil se considera a alfabetização na idade certa geralmente até o final do 3º ano do Ensino Fundamental. Mas completar o processo nessa série não significa que ela aconteça apenas nesta etapa. A trajetória da alfabetização se inicia na Educação Infantil quando se desenvolvem nas crianças as habilidades e competências que elas vão precisar para a alfabetização. No 1º ano, acontece o domínio do princípio alfabético, da leitura e da escrita de sílabas, palavras, frases e pequenos textos. No 2º são desenvolvidas a fluência de leitura e a autonomia de escrita, bem como a ortografa e noções de gramática. Já no 3º ano, a alfabetização se consolida e a leitura e a escrita são utilizadas para a aquisição de novos conteúdos. Infelizmente, o sucesso nesse processo ainda é um desafio significativo no Brasil, reflexo de fatores pedagógicos, estruturais e sociais”, sentencia Luciana.

5 E-book Revista Appai Educar Ainda segundo ela, do ponto de vista pedagógico, muitos professores continuam a usar métodos que frequentemente não atendem às necessidades individuais dos alunos, priorizando a repetição mecânica em detrimento da construção de significado. Além disso, na visão da especialista, a falta de diagnósticos precoces, em dificuldades como dislexia ou outros transtornos, impede que crianças recebam intervenções adequadas a tempo, comprometendo habilidades básicas como decodificação e compreensão de textos. “Esse cenário é agravado por uma formação docente inicial que nem sempre prepara os educadores para enfrentar esses desafios e por uma formação continuada ainda limitada”, frisa.

6 E-book Revista Appai Educar Um ensino mais próximo e individualizado A professora segue relatando que os currículos rígidos, que não consideram as diferenças individuais no ritmo de aprendizado, forçam os alunos a acompanharem cronogramas padronizados, muitas vezes ignorando suas reais necessidades. No campo social, garante que a desigualdade socioeconômica priva muitas crianças de experiências enriquecedoras antes da escola, enquanto o envolvimento limitado de algumas famílias no processo de alfabetização se reflete em menos estímulos à leitura e à linguagem oral, e que a pandemia de Covid-19 apenas ampliou as lacunas já existentes. E quando se pensa em superar esses desafios o que fica evidente é que esse conjunto de ações exige esforços coletivos, que vão desde melhorar a formação inicial e continuada dos professores, com foco em métodos baseados em evidências e estratégias de identificação precoce de dificuldades, até a aquisição de recursos adequados para as escolas e condições que permitam um ensino mais próximo e individualizado. “Além disso, o engajamento familiar é importante, podendo ser promovido por meio de orientações práticas e acessíveis que incentivem hábitos de leitura em casa. A flexibilização do currículo, com intervenções adaptadas ao ritmo de cada criança, e políticas públicas direcionadas, que priorizem a educação básica e ofereçam apoio pedagógico estruturado, são ações indispensáveis para garantir que todos os alunos tenham a oportunidade de alcançar a alfabetização no tempo certo”, completa. Imagem de freepik

7 E-book Revista Appai Educar O “tempo certo” na alfabetização. Nem antes e nem depois tica, ciências e história, que dependem dessas habilidades a caminho de um avanço eficaz. “Além disso, a sobrecarga cognitiva é uma realidade para as crianças que começam a alfabetização mais tarde, pois elas precisam aprender rapidamente habilidades básicas enquanto enfrentam conteúdos mais complexos, o que pode resultar em um processo exaustivo e desmotivante”, sublinha. Quando se fala em consequências, estamos indo na direção de resultados que podem ser avaliados como positivos ou negativos. Negligenciar o “tempo certo” na alfabetização, tanto para crianças que começam precocemente quanto aquelas que iniciam tardiamente, pode ter efeitos desastrosos não somente no progresso infantil, mas na vida adulta desse cidadão. Quando, por exemplo, a alfabetização ocorre após o período ideal, normalmente entre os 5 e 7 anos, as dificuldades acumuladas podem afetar várias áreas da vida da criança. Um dos principais impactos é a defasagem no aprendizado, onde atrasos na leitura e na escrita prejudicam o desempenho em disciplinas como matemá-

8 E-book Revista Appai Educar Um outro tema tratado por Luciana diz respeito aos impactos emocionais na vida daqueles que não conseguem acompanhar a evolução da aprendizagem de seus coleguinhas de turma. Crianças que se sentem “atrasadas” em relação aos colegas tendem a desenvolver baixa autoestima, o que pode afetar sua confiança em suas habilidades. “Essa situação frequentemente leva à desmotivação escolar, onde a dificuldade de acompanhar os conteúdos pode gerar desinteresse pela escola e, em casos extremos, até o abandono escolar. Socialmente, crianças com alfabetização tardia podem ser estigmatizadas e vistas como “problemáticas” ou “atrasadas”, o que afeta sua aceitação e integração com os colegas. Sem falar que a falta de habilidades básicas pode limitar sua participação em atividades coletivas, prejudicando seu crescimento social”. A especialista deixa claro que, para evitar esses impactos e garantir um aprendizado saudável, é fundamental respeitar o “tempo certo” para a alfabetização. “Isso envolve a realização de avaliações diagnósticas que identifiquem se a criança está pronta para iniciar o processo de alfabetização, além de intervenções precoces para lidar com dificuldades antes que se tornem problemas maiores”, afirma. Outros pontos também são colocados como primordiais na busca do respeito desse tempo, por exemplo, um currículo flexível que respeite as diferenças individuais e permita que cada criança avance em seu próprio ritmo, aliado ao engajamento das famílias.

9 E-book Revista Appai Educar Formação continuada dos professores x alfabetização Muito se fala na importância da Educação Continuada para o bom desempenho de nossos docentes, mas o que pouco se comenta, ou se debate, é o quanto a formação inicial e continuada dos professores influencia a eficácia do ensino da alfabetização. Na opinião de Luciana Maia, essa formação é fundamental, pois capacita os educadores com conhecimentos teóricos e práticos essenciais na mediação, ensino, leitura e escrita. “A formação inicial deve oferecer uma base sólida, abrangendo teorias sobre desenvolvimento infantil, métodos de ensino diversificados, que possam ser adaptados ao ritmo e estilo de aprendizagem da criança, passando por uma instrução fônica e global, e habilidades pedagógicas que permitam aos professores planejarem aulas e lidarem com dificuldades de aprendizagem. No entanto, uma formação inicial insuficiente pode resultar em falta de conhecimento prático diante de desafios, como alunos com defasagem e dificuldades específicas, levando à aplicação de métodos ineficazes que prejudicam o processo de alfabetização”, revela.

10 E-book Revista Appai Educar Qualidade da formação docente Por outro lado, essa continuidade na formação também permite que os educadores acompanhem novas metodologias e tecnologias, além de desenvolver habilidades para lidar com turmas heterogêneas e promover a inclusão, além de incentivar a reflexão sobre as práticas pedagógicas, levando à adoção de estratégias inovadoras, como, por exemplo, o uso de jogos pedagógicos. “Sem essa formação contínua, os professores correm o risco de se tornarem obsoletos, dificultando a motivação e o engajamento dos alunos, além de ampliar as desigualdades educacionais”, frisa. Os efeitos de uma alfabetização tardia Quais são os impactos emocionais e cognitivos de iniciar o processo de alfabetização fora do tempo ideal à expansão infantil? Sob a perspectiva de Luciana Maia, trata-se de algo que pode gerar consequências significativas que afetam o progresso emocional e cognitivo da criança. “A falta de prontidão para as demandas de leitura e escrita pode levar a frustrações e dificuldades em acompanhar os colegas, comprometendo a experiência escolar. Quando a alfabetização é iniciada precocemente, a criança pode enfrentar sentimentos de inadequação, ansiedade e desmotivação, uma vez que suas habilidades motoras e cognitivas ainda não estão totalmente desenvolvidas. Essas experiências negativas podem prejudicar o seu bem-estar emocional e criar barreiras que dificultam o envolvimento com o aprendizado ao longo de sua vida escolar”, assegura.

11 E-book Revista Appai Educar Mas, por outro lado, quando a alfabetização é iniciada precocemente, a criança pode enfrentar sobrecarga cognitiva e lacunas no aprendizado, resultando em memorização sem compreensão. As dificuldades de coordenação motora fina podem fazer com que a escrita se torne um desafio, gerando desinteresse pelo ato de escrever, além de provocar uma sobrecarga cognitiva ao lidar com conteúdos mais complexos, dificultando o aprendizado em outras disciplinas que dependem da leitura e da escrita”, assegura. Na análise de Luciana, iniciar o processo de alfabetização no momento adequado é capital ao aprimoramento das habilidades emocionais e cognitivas da criança. Quando isso não ocorre, os desafios enfrentados podem impactar não apenas o aprendizado, mas também a confiança e a motivação dos pequenos. Diante disso, é indispensável adotar estratégias que minimizem esses efeitos e garantam uma trajetória escolar mais positiva.

12 E-book Revista Appai Educar O impacto das diferenças individuais no início do letramento Muito se fala no amadurecimento cognitivo, mas de que maneira as diferenças individuais influenciam o período certo para iniciar o letramento? “Habilidades cognitivas fundamentais, como a consciência fonológica, a memória de trabalho e o processamento visual e auditivo, influenciam diretamente a capacidade da criança de aprender a ler e escrever. Além disso, as habilidades motoras finas são essenciais para a escrita e dependem do amadurecimento neurológico e da prática. Assim, é fundamental considerar esses aspectos ao planejar o início do letramento”, adverte. Em sua observação, Luciana relata que diversos fatores afetam a capacitação intelectual, como a maturação neurológica, o ambiente familiar e a qualidade do ensino. Crianças que amadurecem mais cedo podem estar prontas para o letramento antes de seus colegas, enquanto aquelas que enfrentam condições específicas de aprendizagem, como TDAH ou dislexia, podem apresentar dificuldades que exigem abordagens diferenciadas. Ignorar essas particularidades pode resultar em sobrecarga cognitiva, atrasos acumulados e desigualdade no aprendizado, comprometendo a experiência escolar da criança.

13 E-book Revista Appai Educar Abordagens bem-sucedidas Para respeitar as diferenças no avanço da compreensão e raciocínio, a especialista em alfabetização explica que é importante adotar estratégias como avaliações personalizadas, práticas pedagógicas flexíveis e engajamento da família. “Aplicar instrumentos de diagnóstico, identificar o nível de prontidão da criança e monitorar seu progresso ajudam a ajustar o ritmo e as estratégias de ensino. Fazer uso de atividades diferenciadas, com apoio individualizado e ferramentas digitais, pode proporcionar um aprendizado mais adaptado às necessidades de cada aluno. Além disso, envolver os familiares no processo de alfabetização e capacitá-los a estimular a expansão cognitiva em casa pode reforçar os aprendizados escolares”, declara. Conforme observa Maia, alguns exemplos de abordagens bem-sucedidas incluem o uso do ensino multissensorial, que combina diferentes modalidades de aprendizagem, a divisão da turma em grupos de acordo com as habilidades cognitivas e o acompanhamento psicopedagógico para crianças com dificuldades persistentes. “Essas estratégias promovem um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e eficaz, permitindo que cada criança avance em seu próprio ritmo”.

14 E-book Revista Appai Educar Estruturando o currículo para respeitar o tempo de maturação A construção de um currículo escolar eficaz exige atenção às etapas, especialmente no que diz respeito às habilidades de leitura e escrita. Respeitar o tempo de maturação das crianças, sem comprometer o aprendizado, é um desafio que demanda estratégias bem planejadas e flexíveis. Mas como o currículo escolar pode ser estruturado para respeitar o tempo de maturação das habilidades de leitura e escrita sem comprometer o aprendizado? Na opinião de Luciana, o currículo escolar deve ser organizado de forma a equilibrar o respeito ao tempo de maturação das crianças com o progresso necessário nas habilidades de leitura e escrita. “Essa estrutura exige flexibilidade e personalização, alinhando o ensino às etapas do curso infantil, evitando pressões inadequadas e promovendo uma aprendizagem significativa. Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o currículo seja adaptável às diferentes fases cognitiva, motora e emocional das crianças, organizando as atividades de maneira progressiva, onde cada etapa construa habilidades fundamentais para a próxima”, destaca.

15 E-book Revista Appai Educar Na Educação Infantil, conforme revela Maia, é essencial focar na evolução oral, promovendo interações verbais ricas que ampliem o vocabulário e a consciência fonológica, além de estimular a motricidade por meio de atividades que desenvolvam habilidades motoras finas. A exposição à leitura também deve ser introduzida de forma lúdica, com livros e brincadeiras que envolvam palavras e letras, respeitando o ritmo natural da criança. No ensino fundamental, nos anos iniciais, o letramento formal deve começar com o trabalho de consciência fonológica e a associação entre grafemas e fonemas, progredindo para a leitura de palavras e frases e a produção de pequenos textos, conforme a maturação da capacidade de organização das ideias. “À medida que as crianças avançam, é importante ampliar a habilidade de interpretação de textos e a produção escrita, integrando outras disciplinas ao processo”. *

16 E-book Revista Appai Educar Estratégias pedagógicas personalizadas Para que o currículo atenda às necessidades individuais de cada aluno, é necessário implementar métodos e estratégias pedagógicas diferenciadas, além de planejar atividades que considerem a diversidade na sala de aula e criar grupos de aprendizagem por níveis, o que permite que as crianças sejam atendidas conforme suas necessidades específicas. A professora Luciana reforça algumas estratégias, entre elas, a avaliação contínua e formativa, com foco em avaliações qualitativas, como observações e portfólios, que ajuda a monitorar o progresso individual e ajustar o ensino sem criar ansiedade ou pressão. O uso de tecnologias educacionais, como ferramentas digitais e jogos educativos, pode facilitar o aprendizado de forma lúdica e personalizada. “A formação docente desempenha um papel supremo na eficácia do currículo. Os educadores precisam ser capacitados para identificar sinais de maturidade cognitiva e aplicar estratégias inclusivas que atendam alunos em diferentes estágios de melhorias. Além disso, devem saber mediar conflitos de ritmo para ajudar crianças que estão adiantadas ou atrasadas a se sentirem parte do grupo”, evidencia. Fica claro, na perspectiva de Luciana Maia, que os benefícios de um currículo que respeita o tempo de maturação incluem a redução do estresse escolar, além de um ambiente mais acolhedor que diminui a ansiedade e aumenta a motivação das crianças. Atividades alinhadas ao florescimento criam experiências mais significativas e prazerosas, resultando em um aprimoramento das habilidades. “Em suma, um currículo escolar bem estruturado deve alinhar o ensino das habilidades de leitura e escrita às etapas do melhoramento infantil, garantindo que todas as crianças possam alcançar seu máximo potencial sem comprometer o aprendizado ou a saúde emocional”, atesta a professora.

17 E-book Revista Appai Educar Famílias e educadores desempenham papéis complementares O processo de alfabetização é uma fase essencial na vida de uma criança, e sua eficácia depende de uma abordagem conjunta entre famílias e educadores. Reconhecer o momento certo para iniciar esse processo exige uma observação cuidadosa e uma colaboração contínua entre ambos, de modo a garantir que a criança se desenvolva de forma saudável e significativa. Sendo assim, é importante salientar qual o papel das famílias e dos educadores em identificar o momento certo para a alfabetização, e como essas decisões impactam o futuro acadêmico das crianças. Como explica Luciana, as famílias e os educadores realizam papéis complementares e essenciais na identificação do momento adequado para a alfabetização, um processo que requer sensibilidade, conhecimento e colaboração. “As decisões tomadas nessa fase são primordiais, pois afetam diretamente não apenas o sucesso inicial da criança na leitura e na escrita, mas também sua maturação acadêmica, emocional e social ao longo da vida. As famílias, em posição privilegiada, podem observar os primeiros sinais de prontidão para a alfabetização, como o interesse por livros e histórias, a curiosidade sobre letras e palavras e a capacidade de prestar atenção e seguir instruções simples. Além disso, a criação de um ambiente estimulante em casa, que inclua a leitura regular de livros e atividades lúdicas com letras e sons, é fundamental para preparar a criança para a alfabetização”, adverte. Na outra extremidade da situação, constata a docente, os educadores desempenham um papel vital na avaliação da prontidão da criança para a alfabetização, identificando sua maturidade cognitiva, emocional e social. Isso envolve diagnosticar a consciência fonológica e habilidades pré-leitoras, observar o interesse e a motivação da criança e identificar possíveis dificuldades de aprendizagem, sugerindo avaliação e intervenção especializada. “Os professores também devem adaptar suas metodologias, oferecendo abordagens personalizadas que respeitem as diferenças individuais e integrem leitura e escrita com outras áreas do conhecimento. Além disso, é importante que eles orientem e apoiem as famílias, educando os pais sobre como participar ativamente do processo de alfabetização em casa”, enfatiza.

18 E-book Revista Appai Educar Desafios cognitivos, frustrações e experiências negativas Que as decisões sobre o momento da alfabetização têm impactos significativos no futuro acadêmico da criança é fato. Todavia, é necessário se questionar quando o momento é ideal, a fim de que a criança aprenda de forma mais fluida, consolidando habilidades essenciais para etapas posteriores, o que eleva sua autoestima e promove o avanço social. No entanto, quando a alfabetização é iniciada de forma precipitada ou atrasada, a criança pode enfrentar desafios cognitivos, frustrações e experiências negativas que afetam sua motivação e confiança. Crianças que começam tarde podem ter lacunas acadêmicas e dificuldades para acompanhar o ritmo dos colegas, o que compromete seu progresso escolar. Na opinião de Luciana, a parceria entre famílias e educadores é fundamental para garantir que as crianças tenham uma experiência de alfabetização positiva e bem-sucedida. “A comunicação eficaz entre os dois grupos permite a troca constante de informações sobre o desdobramento da criança e decisões conjuntas sobre estratégias de ensino. O alinhamento de expectativas é essencial para evitar pressões excessivas e criar um ambiente acolhedor e motivador. A intervenção precoce também é fundamental para identificar rapidamente sinais de dificuldades e implementar planos que evitem lacunas no aprendizado”, observa.

19 E-book Revista Appai Educar De maneira semelhante, a professora acrescenta que o momento certo para a alfabetização é um ponto chave na ascensão infantil, e a colaboração entre famílias e educadores é indispensável. Decisões acertadas, fundamentadas em uma compreensão integral das necessidades e potencialidades da criança, impactam positivamente seu desempenho acadêmico e contribuem O impacto do TOD no processo de alfabetização e letramento para uma experiência escolar enriquecedora. Por outro lado, decisões inadequadas podem gerar desafios que influenciam o futuro da criança, reforçando a importância de um diálogo aberto e uma parceria sólida entre casa e escola. “Sim, a falta de percepção ou conhecimento sobre o TOD pode impactar significativamente o processo de alfabetização e letramento. Trata-se de um transtorno comportamental caracterizado por padrões persistentes de comportamento desafiador, oposição a figuras de autoridade e dificuldades na autorregulação emocional. Quando não é identificado e gerido adequadamente, ele cria barreiras que afetam a aprendizagem da criança, incluindo o aperfeiçoamento das habilidades de leitura e escrita”, assegura. A compreensão e o manejo adequado de transtornos comportamentais são fundamentais para o sucesso acadêmico das crianças, especialmente em fases iniciais de aprendizagem. Quando o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) não é devidamente reconhecido, suas consequências podem prejudicar o processo de alfabetização e a integração escolar. Na avaliação de Luciana essa falta de percepção ou conhecimento fora e dentro de sala de aula acerca do TOD pode impactar as relações sociais e a adaptação das crianças, também refletindo no retardamento da alfabetização e do letramento.

20 E-book Revista Appai Educar Como aponta, as dificuldades que crianças com TOD enfrentam em relação à autoridade dificultam o engajamento em atividades pedagógicas essenciais. A resistência às instruções dos professores pode resultar em uma relação conflituosa, criando um ambiente de tensão que afeta negativamente a aprendizagem. Isso sem mencionar a baixa atenção e concentração, que são desafios comuns, impactando a aquisição de habilidades básicas, como a consciência fonológica e o reconhecimento de letras. Muitas dessas crianças também apresentam baixa tolerância à frustração, o que pode levar à rejeição de atividades desafiadoras, criando lacunas no aprendizado e atrasando o letramento. “O impacto do TOD no ambiente escolar é visível nas relações sociais, que podem ser prejudicadas pela oposição frequente. Isso pode levar ao isolamento social e à dificuldade de trabalhar em grupo, limitando a interação com colegas e oportunidades de aprendizado colaborativo. O comportamento desafiador pode ser mal interpretado como indisciplina, resultando em punições ou exclusão de atividades educativas, o que compromete ainda mais a otimização da criança. Quando o TOD não é identificado, a falta de planejamento individualizado impede a aplicação de estratégias pedagógicas que poderiam ajudar a criança a superar barreiras de aprendizado”, alerta.

21 E-book Revista Appai Educar Impacto do TOD na alfabetização e abordagens para superação Luciana Maia ressalta que as consequências do TOD se refletem diretamente na alfabetização e no letramento. A resistência a práticas pedagógicas limita o acesso a estímulos que desenvolvem habilidades cognitivas essenciais, e as crianças com o transtorno podem avançar mais lentamente no processo de letramento devido às interrupções causadas por questões comportamentais. Isso gera lacunas no conhecimento que se acumulam, dificultando a progressão para níveis mais complexos de leitura e escrita.

22 E-book Revista Appai Educar “Para minimizar os impactos do TOD, é essencial capacitar educadores para identificar seus sinais e diferenciá-lo de outros transtornos, como o TDAH. Estratégias como rotinas estruturadas e apoio emocional ajudam a reduzir a ansiedade e melhorar o foco. A colaboração entre professores, psicólogos, pedagogos e famílias é crucial para desenvolver um plano de ação personalizado. Quando abordado corretamente, o TOD pode ser superado, permitindo à criança alcançar seu pleno potencial na alfabetização”, garante. Quando não identificado, critica Luciana, o TOD pode retardar a alfabetização e o letramento, afetando a aquisição de habilidades essenciais e comprometendo a experiência escolar. “No entanto, com estratégias pedagógicas individualizadas e apoio integrado entre escola e família, é possível minimizar esses impactos e garantir o sucesso no processo de alfabetização”, explana. Alfabetização na era digital Na era digital, a alfabetização envolve mais do que desafios e oportunidades trazidos pelas tecnologias, abrangendo inclusão digital, filtragem crítica de informações e ensino personalizado. Esses aspectos são realmente considerados na prática diária da alfabetização? O que pode ser feito para aprimorar esse processo? Na sua opinião, Luciana pondera que, na era digital, a alfabetização transcende os desafios e oportunidades apresentados pelas novas tecnologias, englobando aspectos cruciais como inclusão digital, filtragem crítica de informações e ensino personalizado.

23 E-book Revista Appai Educar “Embora essas dimensões sejam fundamentais para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, sua consideração na prática diária ainda é limitada. Muitas escolas, especialmente aquelas localizadas em áreas rurais ou de baixa renda, enfrentam barreiras significativas de acesso à tecnologia e à internet, o que perpetua desigualdades no aprendizado e compromete a alfabetização das crianças”, menciona, acrescentado que, para enfrentar essas questões, é essencial implementar políticas públicas que garantam conectividade, disponibilizem equipamentos e promovam a formação de educadores e alunos. Parcerias público- -privadas também podem desempenhar um papel importante ao equipar escolas com ferramentas digitais, bem como o uso de materiais e plataformas que possam ser utilizados off-line pode ajudar a mitigar a falta de acesso à internet, oferecendo recursos que beneficiem a alfabetização de forma inclusiva”, realça. Outro desafio significativo, cita Luciana Maia, é a baixa capacidade crítica no consumo de informações. Ainda de acordo com ela, as crianças têm acesso a uma enorme quantidade de dados, mas muitas vezes não são ensinadas a distinguir entre fontes confiáveis e conteúdo falso. “Para abordar essa questão, é necessário integrar habilidades de letramento crítico digital nas práticas pedagógicas, ensinando as crianças a analisarem e validar informações. Atividades que estimulem a reflexão sobre fontes confiáveis e a responsabilidade no compartilhamento de dados devem ser incluídas no currículo, assim como o desenvolvimento de projetos que combinem leitura e escrita com o uso de tecnologia”.

24 E-book Revista Appai Educar A urgência da personalização do ensino A personalização do ensino também se mostra uma necessidade urgente, mas enfrenta dificuldades de implementação. Fatores como falta de tempo, formação docente adequada e ferramentas tecnológicas limitadas dificultam a adoção de métodos personalizados. Para reverter essa situação, a especialista propõe a capacitação dos professores por meio de formação continuada que os habilite a utilizar ferramentas digitais A integração das práticas tradicionais e a tecnologia na alfabetização Acombinação de práticas tradicionais de alfabetização com ferramentas digitais oferece uma abordagem inovadora e enriquecedora para o aprendizado. Ao integrar tecnologia de maneira ética e produtiva, podemos não apenas aprimorar as habilidades de leitura e escrita, mas tambémpreparar as crianças para omundo digital de forma crítica e responsável. De acordo como que defende, Luciana diz que essa integração é essencial. Sob a ótica da professora, projetosmultidisciplinares que combinem leitura, escrita e análise crítica como uso de ferramentas digitais podemenriquecer a experiência de aprendizado. “Ensinar os alunos a utilizarem a tecnologia de forma ética e produtiva é igualmente importante, para que evitemdistrações e desenvolvamhabilidades que os preparempara ummundo cadavezmais digital. Aomesclar práticas tradicionais de alfabetização comrecursos digitais, como aplicativos de leitura e jogos educativos, é possível aprimorar o processo de alfabetização”. Emmeio aos desafios e oportunidades, o que se espera é que não falte o esforço coletivo para a construção de uma base sólida, de qualidade, comalicercesfirmes, prontos para atuar de forma consciente e responsável na sociedade. Essa construção exige o compromissonão apenas dos educadores, mas tambémdas famílias, gestores e de toda a comunidade escolar, para que cada estudante tenha acesso a uma educação inclusiva, equitativa e transformadora, quevalorize o aprendizado contínuo e promova o desenvolvimento integral. adaptativas. “Essas tecnologias podem ajustar automaticamente o nível de dificuldade das atividades para atender às necessidades individuais dos alunos, permitindo um monitoramento mais eficaz do progresso em tempo real”, conclui.

25 E-book Revista Appai Educar Por Antônia Figueiredo Fonte: *Luciana Maia é professora, mentora de professores, especialista em Alfabetização, Avaliação Educacional e Neurociências aplicadas à Educação Inclusiva, além de coautora do livro “Guia de Letramento e Alfabetização” (Wak Editora).

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