Entreadversidadeseavanços,iniciativasinovadoraseoesforçocoletivo, professores,alunosecomunidadesmostramqueépossívelconstruirum futuromaisinclusivoepromissorparaaeducaçãonoBrasil Ano27-170-2024-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA-DISTRIBUIÇÃOGRATUITA
2 E-book Revista Appai Educar Sabemos que a educação brasileira enfrentou inúmeros desafios em 2024. A falta de recursos, as desigualdades no acesso à tecnologia e as dificuldades em garantir a aprendizagem de todos os estudantes foram apenas alguns dos obstáculos pelos quais passamos. No entanto, este também foi um ano marcado por avanços significativos, com a inclusão e aperfeiçoamento de novas tecnologias, metodologias inovadoras e projetos inspiradores que, junto ao material humano – professores, alunos e a comunidade escolar –, demonstraram que, mesmo diante das adversidades, é possível transformar a educação e construir um futuro mais inclusivo e promissor.
3 E-book Revista Appai Educar Nesta matéria especial vamos celebrar as conquistas alcançadas, destacar iniciativas que estão fazendo a diferença e refletir sobre os principais desafios mitigados, apontando caminhos e soluções para um sistema educacional mais equitativo e eficaz. Para nos mantermos atualizados, a Revista Appai Educar convidou Eugênio Cunha, Doutor e mestre em educação e especialista em educação especial inclusiva; Luciana Maia, mentora de professores, jornalista e escritora; Josele Teixeira da Silva, pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e em Administração e Supervisão Escolar; Alessandra Machado, Mestranda em Neurociências, psicóloga, neuropsicóloga e Especialista em Neurociência Aplicada à Educação e Maria Cláudia Amaro, fundadora da Rhyzos Educação, empresa que fomenta iniciativas pela educação básica no Brasil.
4 E-book Revista Appai Educar Programas de alfabetização Falar de Educação Infantil e alfabetização é tratar do alicerce da formação. E o que o ano de 2024 trouxe de avanços relacionados à ampliação do acesso e ao aperfeiçoamento da qualidade da educação infantil e dos programas de alfabetização? Segundo Eugênio Cunha, 2024 tem sido um ano de avanços no acesso e melhoria de acordo com a região e as políticas públicas. “Isso inclui a construção de novas creches e pré-escolas. Porém, as ações não serão suficientes se as famílias mais vulneráveis socialmente não tiverem programas na área da saúde e da assistência social articulados com a educação”, atesta o Doutor em Educação. Ainda segundo ele, outro ponto essencial é a atualização dos currículos e a adoção de abordagens pedagógicas diversificadas, como a educação socioemocional e o aprendizado baseado em projetos, que contribuem para uma educação mais rica e significativa. “Para 2025, será fundamental manter o compromisso com a melhoria e a equidade, assegurando que todas as crianças tenham a oportunidade de ingresso e permanência na escola”, ressalta. Para Luciana Maia, os avanços ainda são insuficientes especialmente no que diz respeito à educação infantil e aos programas de alfabetização e letramento. “Houve esforços visíveis para ampliar o acesso, como o aumento de matrículas em creches e pré-escolas e a implementação de iniciativas voltadas para a alfabetização na idade certa. Em muitas regiões, vimos a adoção de metodologias inovadoras e a valorização do papel do professor alfabetizador, o que reforça a importância de investir na base da educação. No entanto, a qualidade do ensino ainda enfrenta grandes desafios”, atesta a professora.
5 E-book Revista Appai Educar Já Josele Teixeira da Silva diz que investir na formação de professores é essencial para garantir a qualidade da educação. A pedagoga pontua que este ano ocorreu um avanço na reflexão sobre a importância das atividades de leitura e escrita na Educação Infantil. “Historicamente, essas práticas estiveram associadas ao início do Ensino Fundamental, relegando a Educação Infantil ao papel de etapa preparatória. Entretanto, um novo paradigma destaca a necessidade de proporcionar às crianças experiências diversificadas de leitura e escrita desde cedo, criando oportunidades para interagir com textos e registrar aprendizagens por meio de diferentes formas de linguagem”, realça. Josele continua pontuando que esse enfoque está alinhado às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que rompem com a visão tradicional da etapa como apenas preparatória. O objetivo, afiança a especialista, “não é a simples decodificação de letras, mas a inserção das crianças na cultura do escrito de forma significativa e contextualizada. Em 2024, o programa Leitura e Escrita na Educação Infantil (Leei), parte do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, teve um impacto significativo. Por meio dele foram ofertadas formações a 295 mil docentes, reforçando um esforço nacional para implementar ações estratégicas que garantam o sucesso no processo de alfabetização de todas as crianças brasileiras. Dessa forma, a Educação Infantil se reafirma como uma etapa fundamental da educação básica, contribuindo para a inclusão da criança no universo da escrita, respeitando suas especificidades e potencialidades”, frisa.
6 E-book Revista Appai Educar Um ano de inovações Se tem algo que toda a comunidade escolar compartilha é a de que as inovações ganharam muita força no uso de metodologias ativas e do ensino híbrido este ano. Mas será que o resultado de como essas abordagens têm transformado o aprendizado dos estudantes está suprindo as expectativas da vida real? Mesmo reconhecendo o potencial transformador das metodologias ativas, ainda não há consenso a respeito dos resultados, como afirma Luciana Maia, ao comentar que o avanço das metodologias ativas e do ensino híbrido em 2024 trouxe transformações importantes para o aprendizado, mas ainda está longe de suprir completamente as expectativas da vida real. Segundo ela, essas abordagens têm potencial para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, participativo e centrado no aluno, mas sua implementação enfrenta desafios significativos, principalmente em contextos educacionais mais vulneráveis. “As metodologias ativas, como a sala de aula invertida, o ensino por projetos e a aprendizagem colaborativa, têm o mérito de incentivar o protagonismo dos estudantes. Em alfabetização, por exemplo, essas estratégias permitem que as crianças explorem mais ativamente a leitura e a escrita, o que estimula a autonomia e a construção do conhecimento de forma significativa. Por outro lado, percebo que muitos professores ainda enfrentam dificuldades para adotar essas práticas, seja pela falta de formação específica, pela sobrecarga de trabalho ou pela resistência a mudanças metodológicas”, destaca.
7 E-book Revista Appai Educar Em relação ao ensino híbrido, Luciana diz que combinar recursos presenciais e digitais tem se mostrado eficaz para personalizar o ritmo de aprendizagem e diversificar as estratégias pedagógicas. No entanto, sua eficiência depende diretamente do acesso à tecnologia e internet de qualidade, o que nem sempre é uma realidade em escolas públicas. “Em contextos em que faltam dispositivos e conectividade, essa abordagem pode acentuar desigualdades, em vez de reduzi-las. Além disso, a transição para essas práticas exige mudanças profundas na cultura escolar. Muitos alunos e famílias ainda não compreendem ou não se adaptam facilmente ao novo papel ativo que lhes é atribuído, enquanto professores precisam de apoio contínuo para planejar e executar atividades alinhadas a essas metodologias”, avalia acrescentando que as metodologias ativas e ensino híbrido têm potencializado a aprendizagem, mas, para garantir seu sucesso, é preciso investir em formação de professores, infraestrutura e diálogo com a comunidade escolar. Assim, a educação se torna mais inclusiva e eficiente, atendendo às demandas do século XXI. A especialista em Psicopedagogia e em Administração e Supervisão Escolar Josele Teixeira concorda com a opinião de Luciana Maia. Há um consenso sobre o impacto positivo das metodologias ativas e do ensino híbrido na potencialização da aprendizagem. “As inovações na realidade precisam ser compreendidas como estratégias de ensino centradas na participação dos discentes em seu processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada, híbrida, enquanto as metodologias ativas se expressam através de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações. Nesse formato, o aluno é exposto ao conteúdo que será abordado antes da aula com o professor, muitas vezes com videoaulas ou leituras prévias. O que incentiva que cada discente busque sua estratégia metacognitiva e desenvolva a sua autonomia. Pensando na nossa realidade educacional, vale ressaltar que no Brasil o acesso às instituições de ensino à tecnologia ainda é um desafio para ser consolidado”, garante Josele Teixeira da Silva, especialista em Psicopedagogia e em Administração e Supervisão Escolar.
8 E-book Revista Appai Educar Inteligência artificial e seus desafios Se tem algo que foi discutido, noticiado, debatido e propagado em todas as áreas do conhecimento, inclusive na educação, foi o uso da Inteligência Artificial, sobretudo com a chegada do ChatGPT. Marcado, sobretudo, pelo uso das IAs generativas no ensino, o ano de 2024 gerou oportunidades, mas trouxe com ele inúmeros desafios enfrentados pelas escolas ao integrar essas tecnologias nas práticas pedagógicas. De acordo com o Doutor e Mestre em educação Eugênio Cunha, há um intenso debate acerca do efeito das tecnologias digitais na capacidade cognitiva das nossas crianças e adolescentes. As discussões passam pelo aumento das dificuldades de engajamento na leitura, na elaboração de pensamento crítico, conteúdos superficiais, dentre outros aspectos da aprendizagem escolar. O consumo exagerado de informações, conteúdos extremamente rápidos e rasos, dificultam a elaboração de funções cognitivas mais complexas.
9 E-book Revista Appai Educar “Em outras palavras, parece que ‘atrofiam’ a criatividade do cérebro, inibindo a iniciativa e até as questões da afetividade. De certa forma, perdemos o controle da situação. A Inteligência Artificial veio incrementar mais ainda esse debate. São consequências do progresso da humanidade. Acredito, no entanto, que ela pode ser muito útil, mas devemos estar preparados para todo tipo de tecnologia. Na educação, principalmente, educando nossos jovens e crianças para, desde cedo, aprenderem a lidar com ela”, adverte. Ainda segundo Cunha, essas ações passam pela formação de educadores, que podem não estar preparados para integrar a IA em suas práticas pedagógicas, utilizando-as de maneira eficaz e crítica. O uso de ferramentas desse tipo levanta também o debate acerca da personalização do aprendizado, pois é isso que a tecnologia faz no cotidiano das pessoas. “Todos nós personalizamos nossa vida com ferramentas tecnológicas, e a escola não pode esquecer que essa demanda precisa chegar aos espaços de aprendizagem. Para tanto, precisamos ensinar aos nossos educandos a ética e o pensamento crítico. É essencial garantir a lisura e o respeito no manejo da IA. Ademais, devemos trabalhar para que os aprendentes desenvolvam habilidades críticas e de resolução de problemas, uma vez que essa tecnologia pode fornecer respostas rápidas e soluções”, sublinha. Ao falar sobre o tema, Luciana Maia também concorda que 2024 foi um ano em que as inteligências artificiais generativas se tornaram uma ferramenta poderosa para enriquecer as práticas pedagógicas. E que essas tecnologias trouxeram oportunidades que transformaram o trabalho dos professores e o aprendizado dos alunos, mas também apresentaram desafios que exigem reflexão e adaptação. “Entre as principais oportunidades, destaco o potencial da IA para personalizar o ensino. No processo de alfabetização, por exemplo, ferramentas desse tipo ajudaram a criar atividades adaptadas às necessidades de cada aluno, permitindo que ele avançasse no próprio ritmo. Além disso, a IA automatizou tarefas como correção de exercícios, organização de materiais e até a elaboração de planos de aula, liberando os professores para se dedicarem mais ao acompanhamento pedagógico individualizado. Outro aspecto positivo foi a cria-
10 E-book Revista Appai Educar ção de conteúdos interativos e dinâmicos, que tornaram o aprendizado mais atraente e acessível. Recursos como jogos educativos baseados em IA e assistentes de leitura ajudaram a engajar alunos em diferentes níveis de desenvolvimento. Em termos de inclusão, a IA possibilitou a adaptação de materiais para estudantes com deficiência, como geração automática de conteúdos em Libras ou recursos de leitura acessível”, comemora Luciana Maia. Entretanto, por outro lado, ela reconhece que os desafios foram significativos, citando, entre muitos, a desigualdade no acesso às tecnologias. “Em muitas escolas, principalmente em áreas de maior vulnerabilidade, a falta de infraestrutura e conectividade limitou a aplicação dessas ferramentas, aumentando ainda mais o abismo educacional. Além disso, muitos professores encontraram dificuldades para se capacitar no uso da IA, seja pela falta de formação específica ou pela resistência a integrar essas ferramentas ao planejamento pedagógico. Isso sem falar na questão do uso ético e seguro dessas tecnologias na educação, o que exige atenção a questões como privacidade de dados, plágio e a dependência excessiva, sem substituir o papel insubstituível do educador no desenvolvimento socioemocional e na mediação de conflitos”, frisa. Opina que, em 2024, a IA avançou significativamente na educação, mas sua plena integração requer investimentos em formação docente, infraestrutura e conscientização. Com equilíbrio, a IA pode ser uma aliada poderosa para tornar o ensino mais acessível, significativo e conectado às demandas do mundo atual.
11 E-book Revista Appai Educar Formação continuada e competências socioemocionais Em todas as falas, há um alinhamento quanto à necessidade de investimentos na formação docente, independente do tema ou temática abordada na educação. Na avaliação de Eugênio Cunha, sempre foi consenso que os cursos de formação de professores precisam priorizar aspectos práticos da carreira do professor. A ênfase na práxis durante a formação inicial, como estágios, observações em sala de aula e estudos de caso, por exemplo, permite que os educadores desenvolvam competências essenciais para lidar com a diversidade de estudantes em diferentes contextos. “Porém, os currículos ainda estão centrados mais em aspectos ideológicos (que são importantes) e têm outorgado pouco espaço a situações cotidianas da escola. Acredito que o professor formador também precisa ser formado, já que ele é um elemento chave nesse processo. É preciso reconhecer, no entanto, que houve avanços em questões sociais importantes. Muitas instituições têm revisado seus currículos para incluir temas relevantes, como educação inclusiva, tecnologias educacionais e metodologias ativas. Isso ajuda os futuros professores a se familiarizarem com as
12 E-book Revista Appai Educar demandas atuais da sala de aula. Por outro lado, alguns educadores têm dificuldades em adaptar suas práticas a novas metodologias e tecnologias. Por isso, acho que as mudanças para 2025 passam pela capacitação do professor formador. Nesse sentido, o compromisso contínuo com a formação e a adaptação às necessidades de crianças e estudantes da sociedade contemporânea são essenciais”, argumenta o mestre Eugênio Cunha. Além da concordância quando o tema é formação continuada dos professores, uma outra temática atravessa esse mesmo entendimento de unanimidade: a promoção da saúde mental e das competências socioemocionais. Quem fala sobre o tema é Alessandra Machado, psicóloga, neuropsicóloga, pedagoga, Especialista em Neurociência Aplicada à Educação e Mestranda em Neurociências. Também é autora, com Mariana Fenta, do livro “Cérebro e afetividade – potencializando uma aprendizagem significativa”. Olhando de uma forma direta, sobretudo pós-pandemia, quais foram os avanços significativos na abordagem desses temas nas escolas? Na interpretação de Alessandra Machado, pode-se dizer que houve avanços no sentido de compreender mais sobre os benefícios em desenvolver trabalhos socioemocionais nas escolas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, bem como dos adultos que fazem parte do EJA. “Falar de saúde mental e principalmente realizar atividades no cotidiano escolar que possam dialogar com o currículo pedagógico é justamente entender que precisamos olhar para todos os estudantes como seres biopsicossociais e oportunizar uma aprendizagem que não seja fragmentada, mas que tenha uma escuta ativa e um olhar acolhedor. Não basta inserir na grade curricular um tema referente ao socioemocional, é preciso vivenciar na íntegra com projetos de qualidade e funcionais para cada faixa etária e pensando em cada contexto. Isso inclui também não só um olhar para os educandos, mas também para os familiares, educadores e demais pessoas que fazem parte da dinâmica escolar”, contextualiza.
13 E-book Revista Appai Educar Ainda na avaliação de Alessandra, é preciso cuidar de quem cuida. Por isso, compreender o conceito de Competências Socioemocionais envolve o conhecimento e o estudo contínuo sobre as emoções e reconhecer a importância desse processo afetivo nas relações sociais, adaptativas e pedagógicas. “É fato que a inteligência emocional e o desenvolvimento das competências socioemocionais serão um grande diferencial daqui para a frente. Não basta, por exemplo, saber executar muitas tarefas ao mesmo tempo se o indivíduo não consegue se organizar internamente e se ele se desregula facilmente diante de uma adversidade. Sabemos que estamos ainda num processo de caminhada nesse sentido e que muito mais podemos fazer nas escolas, na verdade precisamos fazer, até porque estamos lidando com vidas em desenvolvimento. Por isso, ter um trabalho socioemocional de qualidade, que valoriza as diferentes potencialidades e que contribui para o desenvolvimento humano em sua plenitude, faz toda a diferença para promover o bem-estar físico, emocional e mental. Não há processo de ensino e aprendizagem com qualidade se não houver o cuidado com o outro, um cuidado vai além do que os olhos podem ver. Por isso é preciso educar as emoções para que cada um possa saber gerenciar e regular seus comportamentos, sentimentos e pensamentos em prol de uma funcionalidade mental e cerebral. Por isso, é de suma importância que cada vez mais projetos socioemocionais sejam consolidados nas escolas, assim como é necessário construir uma ponte com os demais ambientes que são experienciados pelos estudantes”, revela Alessandra Machado.
14 E-book Revista Appai Educar Recomposição da aprendizagem pós-pandemia Mesmo já passado alguns anos da fatídica pandemia, seus efeitos ainda podem ser vistos até os dias atuais, sobretudo na educação. Com o impacto continuado da pandemia na educação, muitas estratégias de recomposição da aprendizagem se destacaram em 2024. Perguntamos para a Especialista em Neurociência aplicada à Educação e Mestranda em Neurociências, Alessandra Machado, o que na sua visão deu certo e o que ainda precisa ser melhorado. “Muitas estratégias têm sido funcionais, como a utilização de metodologias ativas, o aumento de atividades práticas e saídas de campo, a oportunidade dos educandos se tornarem de fato protagonistas nas ações do dia a dia e a capacitação contínua dos professores diante de uma nova realidade. Isso trouxe maior segurança para suprir as lacunas pedagógicas e emocionais deixadas pelo período pandêmico. Sabemos que ainda é um processo e, se não tivermos esse olhar diferenciado para as singularidades de cada sujeito que está inserido em uma pluralidade que é a sala de aula e o contexto escolar, não será possível pensar em estratégias diferenciadas que realmente sejam funcionais, mesmo porque essas elas precisam ser planejadas e reavaliadas de acordo com cada público e cenário”, avalia.
15 E-book Revista Appai Educar Alessandra aponta que o processo educacional não pode ser imutável. Destaca que tivemos que reaprender a lidar com o outro no espaço escolar, participar das aulas de maneira cinestésica e, mais do que isso, tivemos que voltar a valorizar o processo de interação social, tão importante para a construção da personalidade e do amadurecimento cerebral. “Voltar a conversar olhando nos olhos, percebendo a expressão de cada sujeito e suas respostas emocionais. As habilidades sociais voltaram a ganhar forma e consistência e, com isso, voltamos a perceber a importância que o outro temna nossa vida e o quanto nossa vida dialoga com a história de vida do outro. Então, pensando num ambiente escolar, cada um de nós está construindo uma história e dentro dessas histórias existemvárias novas histórias sendo contadas. Sobre o que ainda precisa melhorar pensando na vida escolar? Eu diria que a segurança de se sentir conectado em uma relação que não é mais virtual, mas sim real, onde medos, angústias e ansiedades se fazem presentes, ainda como consequências de um período pandêmico, mas eles precisam ser ressignificados e para isso é necessário que um ajude o outro, alcançando a resiliência”, pontua. Ainda de acordo com sua observação, talvez seja importante construir o movimento de saber esperar, saber ouvir, saber se relacionar e saber ser feliz por se sentir pertencente nas relações e não somente porque conquistou mais seguidores no ambiente virtual ou, ainda, entender a importância em acalmar os corações e as mentes imediatistas que desejam satisfazer inquietações que foram sendo potencializadas por meio do afastamento social. “É preciso construir mais ‘pontes’ com as relações e derrubar os ‘muros’ que foram sendo erguidos desde alguns anos atrás. É possível? Sim, mas para isso precisamos também de adultos que sejam favoráveis e saudáveis nas relações e nesse processo de reconstrução das interações sociais. Por isso, é de extrema importância oportunizar o trabalho socioemocional e associá-lo às competências esperadas para cada fase do desenvolvimento, promovendo um caminho mais saudável para a organização de nossa sociedade”, afirma Alessandra Machado.
16 E-book Revista Appai Educar Educação ambiental e financeira O ano de 2024 trouxe importantes avanços no campo da educação ambiental, destacando iniciativas que integraram aos currículos escolares temas como mudanças climáticas, biodiversidade e sustentabilidade. Um marco significativo foi a sanção da Lei 14.926/24, que atualizou a Política Nacional de Educação Ambiental, exigindo que instituições de ensino incorporem práticas e conteúdos voltados para a preservação ambiental, além de atividades práticas como o plantio de árvores e o desenvolvimento de hortas escolares. Diante desse cenário, a crescente inserção de projetos e ações ambientais nas escolas evidencia um esforço para formar cidadãos mais preparados para enfrentar os desafios do século XXI. E para contextualizar, ouvimos a opinião e a avaliação de Maria Cláudia Amaro, fundadora da Rhyzos Educação, empresa que fomenta projetos de educação básica no Brasil, acerca das atividades de 2024, e se, na sua opinião, houve iniciativas marcantes nas escolas públicas e privadas para promover a conscientização e ações sustentáveis efetivas.
17 E-book Revista Appai Educar Maria Cláudia é categórica ao afirmar. “Estamos certos de que sim, pois esse tema tem sido cada vez mais integrado no dia a dia das escolas públicas e privadas, dada a necessidade de formar cidadãos cada vez mais conscientes e comprometidos com a preservação ambiental. Temos acompanhado alguns movimentos nas escolas, como projetos interdisciplinares integrados à educação ambiental em diversas disciplinas, tais como geografia, história, artes e não só mais em ciências, tratando do assunto de maneira mais holística. O cultivo de hortas nas escolas tem se tornado cada vez mais comum, tanto em instituições públicas quanto privadas, incentivando os alunos a aprenderem sobre a produção de alimentos e o consumo consciente”, enfatiza. Conforme expõe a fundadora da Rhyzos Educação, também há ações de sustentabilidade no dia a dia da escola, como programas de reciclagem com separação de lixo, utilização de materiais recicláveis, criação de pontos de coleta para pilhas e outros itens que precisam de descarte correto e, quando possível, substituição de plásticos por alternativas ecológicas, além do incentivo ao uso consciente de recursos como água e energia. “Algumas escolas organizam eventos como feiras de sustentabilidade, palestras com especialistas e até ações de conservação e preservação em praças públicas nas proximidades da escola buscando promover a educação para a cidadania global e incentivar os alunos a se tornarem agentes de mudança”, observa. E quando o assunto é Educação Financeira, Maria Cláudia Amaro esclarece que a inserção de programas desse tipo nas escolas tem um grande potencial para formar cidadãos mais conscientes, responsáveis e preparados financeiramente, sendo um passo importante para que a sociedade saiba lidar melhor com suas finanças e construa um futuro mais seguro e sustentável.
18 E-book Revista Appai Educar “O ideal é que esses programas, além de despertarem essa consciência, também sirvam para orientar os alunos como administrar o orçamento pessoal, a fazer investimentos e planejamento para o futuro estimulando uma mentalidade empreendedora. Além disso, que eles possam entender, desde cedo, como funcionam as taxas de juros, crédito, dívidas e poupança, para evitar que caiam em armadilhas financeiras no futuro, como empréstimos com altas taxas de juros que levem à contração de dívidas. Dessa forma, poderão desenvolver uma mentalidade mais estratégica em relação ao seu próprio dinheiro, podendo apoiar inclusive seus familiares, pois estarão melhor preparados para lidar com imprevistos financeiros e planejar a longo prazo”, assegura Maria Cláudia Amaro. Inclusão e diversidade no currículo escolar Levando-se em conta a inclusão e a diversidade entre os temas mais debatidos nas salas de aula, projetos e ações têm buscado promover a inserção de estudantes com deficiência e valorizar a diversidade cultural e étnica nas escolas. Diante desse cenário, perguntamos ao Doutor e Mestre em Educação Eugênio Cunha se podemos considerar essas iniciativas o caminho para alcançar a tão almejada equidade. “Sim, certamente. Projetos e ações em favor da inclusão não apenas beneficiam estudantes com deficiência, mas também enriquecem o ambiente escolar, promovendo uma cultura de respeito e valorização das diferenças”, diz ele. Sob a perspectiva de Eugênio Cunha, é essencial eliminar as atitudes capacitistas e discriminatórias que se imbricaram na história social e na vida das pessoas. A escola também recebeu reflexos disso. Podemos, por exemplo, pensar no desenho universal para a aprendizagem, trazendo, desde o planejamento, a inclusão de conteúdos que contemplem a diversidade e a equidade cognitiva, para que todos os estudantes e crianças se sintam representados e valorizados.
19 E-book Revista Appai Educar “Isso ajuda a construir uma escola colaborativa, estabelecendo atividades que promovam o diálogo entre diferentes grupos sociais, que incentivem a empatia e o respeito entre os alunos, preparando-os para viver em uma sociedade inclusiva. Não podemos falar apenas de adaptações curriculares, mas também de personalização da aprendizagem. Pessoas são mais importantes que vertentes pedagógicas. A educação para a diversidade ajuda a combater preconceitos e estereótipos, formando cidadãos mais críticos e conscientes de suas responsabilidades sociais”, argumenta Cunha, acrescentando que “a aprendizagem se refere em sua essência e legitimidade à apropriação de práticas sociais e bens culturais, ao desenvolvimento da criança em seus aspectos biológicos, sociais e afetivos. Refere-se à perene e indelével busca pela superação da incompletude humana. Só se faz isso com amorosidade. Nas palavras de Freire: ‘Não existe educação sem amor. Quem não ama os seres inacabados não pode educar’. Conjugamos, então, três palavrinhas fundamentais: Diferença: a partir da concepção ética do ensino, sempre haverá o outro; Heterogeneidade: conjunto de singularidades nos espaços pedagógicos; e Diversidade: práticas que contemplem o universo colaborativo e participativo da aprendizagem”, reforça Eugênio Cunha, Doutor e Mestre em Educação, professor da Educação Básica e do Ensino Superior, Especialista em educação especial inclusiva.
20 E-book Revista Appai Educar Por Antônia Figueiredo Fontes: Maria Cláudia Amaro é fundadora da Rhyzos Educação, empresa que fomenta iniciativas pela educação básica no Brasil. Luciana Maia é professora, mentora de professores, jornalista e escritora. É coautora do “Guia de Letramento e Alfabetização”, pela WAK Editora, além de especialista em Alfabetização, Avaliação Educacional e Neurociências aplicadas à Educação Inclusiva. Josele Teixeira da Silva é pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e em Administração e Supervisão Escolar. Eugênio Cunha é Doutor é Mestre em Educação, pedagogo da Fundação Municipal de Educação de Niterói, psicopedagogo, professor da Educação Básica e do Ensino Superior, especialista em educação especial inclusiva. Entre os livros lançados estão “Afetividade na prática pedagógica”, “Autismo e inclusão”, “Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade” e “Educação na família e na escola”. AlessandraMachado é psicóloga, neuropsicóloga, pedagoga, especialista emNeurociência Aplicada à Educação e Mestranda emNeurociências.
Revista Appai Educar Conselho Editorial Julio Cesar da Costa Ednaldo Carvalho Silva Andréa Schoch Jornalista Editora Antônia Lúcia Figueiredo (M.T. RJ 22685JP) Assistente de Editorial Jéssica Almeida Designer Yasmin Gundim Revisão Sandro Gomes Professores, enviemseus projetos para a redação da Revista Appai Educar: End.: Rua Senador Dantas, 117/229 2º andar – Centro – Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20031-911 E-mail: jornaleducar@appai.org.br redacao@appai.org.br www.appai.org.br EXPE DIEN TE
Revista Appai Educar ARTE E REINVENÇÃO NA TERCEIRA IDADE Inspirado emHenri Matisse projeto de artes visuais combate o etarismo ARTES VISUAIS POR ANTÔNIA FIGUEIREDO
Revista Appai Educar Na E. M. Machado de Assis, um projeto inovador está desafiando preconceitos e promovendo a criatividade entre os alunos. Intitulado Desafiando o Etarismo com Henri Matisse e o ‘Papier Découpé’, o projeto utiliza a obra tardia do renomado artista francês como inspiração para discutir o etarismo e a reinvenção na terceira idade. Idealizado pelo professor de Artes Visuais e História Eduardo Madeiro Bastos de Santana, em colaboração com a coordenadora Aline Pimentel da Silva Lopes, o principal objetivo do projeto foi conscientizar os alunos sobre o preconceito etário, discutindo a marginalização dos idosos e promovendo uma visão mais inclusiva da terceira idade. Além disso, o projeto buscou fomentar a criatividade dos alunos, incentivando- -os a experimentar a técnica de Matisse, ao mesmo tempo em que reflexionavam sobre a importância da valorização dos idosos na sociedade. “Queremos que os estudantes compreendam que a arte e a criatividade são atemporais e que o envelhecimento é uma etapa natural e rica de experiências”, destaca o professor Eduardo Madeiro.
Revista Appai Educar Arte inspiradora Famoso por suas cores vibrantes e formas expressivas, Henri Matisse (1869-1954) é considerado um dos mais influentes artistas do século XX. Após os 80 anos, com a saúde debilitada, ele adotou uma nova forma de expressão artística: o papier découpé, ou “recortes de papel”, criando obras vibrantes e revolucionárias que provaram que a criatividade não tem limite de idade. De acordo com os especialistas, a técnica revolucionou a arte contemporânea, desafiou as convenções artísticas e tornou-se uma metáfora poderosa de reinvenção e superação pessoal. Desenvolvido nas aulas de Artes Visuais e com integração aos temas de História e Sociologia, o projeto envolveu turmas do 6º ao 9º ano do EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Revista Appai Educar Durante o processo, os alunos foram introduzidos à biografia de Matisse e à sua obra tardia, especialmente à técnica do papier découpé. Ao mesmo tempo, participaram de discussões sobre etarismo e o envelhecimento, trazendo à tona suas próprias experiências e visões sobre o tema. Em seguida, os estudantes foram convidados a criar suas próprias obras, utilizando recortes de papel colorido, inspirados no estilo de Matisse. O resultado foi uma série de trabalhos criativos, que culminaram em uma exposição aberta à comunidade escolar. A reinvenção é possível O projeto Desafiando o etarismo não apenas celebrou a arte, mas também promoveu uma reflexão essencial sobre a idade e a criatividade, mostrando que nunca é tarde para se reinventar. A E. M. Machado de Assis tem se tornado um espaço de aprendizado e valorização das contribuições dos idosos, incentivando os alunos a enxergarem a arte como uma forma de expressão atemporal. A iniciativa da instituição foi bem além de uma simples experiência artística. “Ao trazer à tona questões importantes como o etarismo e a valorização dos idosos, o projeto reafirma o papel transformador da educação e da arte na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Através de Matisse, os estudantes aprenderam que a idade não é uma barreira para a criatividade e que, como o próprio artista provou, a reinvenção é possível em todas as fases da vida”, finaliza Eduardo Madeiro. Escola Municipal Machado de Assis Av. União, 535 – Alto Uruguai – Mesquita/RJ CEP: 26554-000 Tel.: (21) 2042-8947 E-mail: emmachadodeassis@mesquita.rj.gov.br
Revista Appai Educar RAÍZES ANCESTRAIS NA EDUCAÇÃO INTEGRAL Projeto difunde propriedades e conhecimentosmilenares das folhas oriundos dos povos originários HISTÓRIA POR ANTÔNIA FIGUEIREDO
Revista Appai Educar Atualmente uma das palavras mais ouvidas nas redes e grandes mídias é ancestralidade. Que por definição apresenta-se como tudo aquilo que é passado pelas nossas gerações anteriores. E com o objetivo de difundir e perpetuar esses conhecimentos oriundos das ascendências dos povos originários – primeiros habitantes de um território –, a professora Bárbara idealizou um projeto de educação ambiental entre as turmas do Fundamental I da Escola Municipal Professora Maria Felisberta Baptista da Trindade, localizada no bairro da Engenhoca, em Niterói. Usando as folhas e suas propriedades como eixo temático, Bárbara Cristina Felismino dos Santos sensibilizou não apenas os estudantes à adesão ao projeto, bem como professores de outras disciplinas que desenvolveram atividades de maneira interdisciplinar, contendo elementos das linguagens, ciências da natureza e humanas. “Dentro desse contexto também foram elaboradas atividades como produção textual e interpretação de texto, bem como ações ligadas a campos de conhecimento como Biologia, Filosofia, História e Geografia”, explicou Bárbara. “O objetivo do projeto foi o de atrair a atenção das crianças para esse elemento da natureza, tão presente em nossos dias”, destaca a professora considerando todo o conhecimento já produzido na área e principalmente a valorização dos saberes ancestrais a respeito dos usos das folhas.
Revista Appai Educar Elementos milenares da natureza Dentro da proposta decolonial de educação, foram desenvolvidos atividades e subtemas, como, por exemplo: “folha é ser vivo”, no qual as crianças foram convidadas a plantar e a acompanhar o processo de nascimento e crescimento das plantas no espaço escolar. Já na temática do uso das folhas como remédio, as crianças tiveram acesso a diversas plantas com propriedades terapêuticas, a partir das quais foram produzidos e experimentados vários chás. “Os estudantes observaram a importância dos vegetais no uso de medicamentos, como herança cultural e medicinal dos povos indígenas e africanos, e a valorização destes saberes pelo SUS, por meio das atividades de medicina fitoterápica, que foram incluídas em algumas unidades, incorporando esses saberes tradicionais no cuidado com a saúde”, ressaltou.
Revista Appai Educar No aspecto do uso das folhas como fornecedoras de tinturas, os alunos abordaram as aplicações do urucum e do jenipapo entre os povos indígenas, além de observarem semelhanças artísticas com culturas africanas que utilizam tintas naturais em suas construções, como acontece na vila de Tiébele, na Burkina Faso. A literatura também esteve presente na hora de abordar as folhas. “Fizemos a leitura dos textos: “Obax”, de André Neves; “Andurá”, de Lucas Benetti e “Igbo”, de Marcos Cajé, nos quais observamos as relações dos personagens com a natureza e com as plantas, que são partes importantes em ambas as narrativas. Os alunos produziram pinturas, recontos, resumos e maquetes”, frisa Bárbara. Folhas que preservam a vida Dentro da proposta decolonial de educação, o projeto desenvolveu uma jornada rica e diversificada em torno do tema central das folhas, conectando as crianças a diferentes perspectivas culturais, científicas e artísticas. O trabalho começou com a reflexão sobre a folha como ser vivo, convidando os pequenos a plantar e acompanhar o processo de nascimento e crescimento das plantas no ambiente escolar. Essa vivência permitiu que eles se conectassem com os ciclos naturais e compreendessem o papel essencial dos vegetais na manutenção do ecossistema. Os alimentos, por sua vez, abriram caminho para discussões sobre as folhas que comemos no dia a dia. Foram abordados pratos de origem indígena e africana, valorizando a sua presença na rotina das crianças e reforçando a importância de práticas alimentares tradicionais e saudáveis.
Revista Appai Educar Folhas literárias A literatura também se tornou um campo fértil para compreender as relações entre as folhas e a narrativa. As leituras das obras literárias citadas acima destacaram a conexão simbólica dos personagens com a natureza. A partir desses textos, os estudantes produziram pinturas, recontos, resumos e até maquetes, enriquecendo sua percepção sobre as plantas como personagens fundamentais nas histórias. O projeto também promoveu uma reflexão sobre o trabalho das mulheres com as folhas, discutindo a figura da “bruxa” na literatura e no imaginário popular. As crianças aprenderam sobre rezadeiras e cientistas que, ao longo da história, usaram seu conhecimento de plantas para cuidar da saúde de comunidades, enfrentando preconceitos e estigmas. A magia das folhas foi ampliada com a apresentação de seres mitológicos protetores da natureza. As abordagens em torno de Ceuci, deusa tupi-guarani das lavouras, e Ossain, entidade afro- -brasileira ligada às folhas, mostraram às crianças como diferentes culturas integram elementos espirituais à preservação do meio ambiente, valorizando o respeito às crenças e tradições ancestrais.
Revista Appai Educar Folhas culturais Outra abordagem envolveu o estudo das formas de desenvolvimento das folhas, com foco nos cuidados com o solo na agricultura familiar e na importância dos produtos orgânicos. As crianças analisaram os alimentos da merenda escolar e conheceram os calendários agrícolas indígenas e quilombolas, entendendo como essas culturas organizam o plantio e a colheita de maneira sustentável e respeitosa com o meio ambiente. Na sequência, as folhas foram exploradas como matéria- -prima artística. Ao estudar o uso do urucum e do jenipapo nas culturas indígenas e comparar com as pinturas naturais em vilas africanas como a de Burkina Faso, as crianças identificaram semelhanças entre diferentes tradições artísticas, ampliando seu olhar sobre as possibilidades estéticas das tintas naturais.
Revista Appai Educar Por fim, o projeto destacou a relevância de instituições protetoras das folhas, como os quilombos e as aldeias indígenas. Através de fotos e vídeos, as crianças conheceram esses territórios e sua importância histórica e geográfica, compreendendo o papel crucial desses espaços na preservação da biodiversidade e no fortalecimento cultural. “Falei commeu vô que você, professora, fala de plantinha e ele mandou uma pra você”, disse Alisson da Conceição, do 1º ano, mostrando que, além de aprender, tornou-se ummultiplicador de saberes. Já outra aluna foi categórica em afirmar o quanto a experiência foi única e prazerosa. “A tia faz uma aula legal, a gente faz coisas diferentes”, afirmou Nicole Borges de Oliveira, do 5º ano.
Revista Appai Educar Conexão com a natureza O que vemos é que a comunidade escolar como um todo percebeu a importância de um trabalho voltado para a conexão da criança com a natureza, identificando-se com os trabalhos apresentados. “O projeto de Educação Ambiental desenvolvido pela professora Bárbara tem sido de muita importância para os estudantes ampliarem seus conhecimentos sobre a influência dos povos originários, africanos e afro-brasileiros. Ao vivenciarem as culturas dessas etnias de maneira prazerosa, prática e lúdica, se percebem como parte do meio ambiente e se identificam com a cultura e os saberes transmitidos por seus ancestrais. É um projeto que transforma o olhar do estudante e sua relação com a natureza, levando todos a se sentirem como parte dela”, finaliza Ana Cristina de Lima Gomes, pedagoga da escola. EscolaMunicipalProfªMariaFelisbertaBaptistadaTrindade Av. Prof. João Brasil, 2.000 – Engenhoca – Niterói/RJ CEP: 24110-491 Tel.: (21) 99565-6367 E-mail: secretariainfante@yahoo.com.br
Revista Appai Educar NÃO É BRINCADEIRA, É BULLYING! Projeto faz com que os alunos analisem as consequências do bullying, repensem algumas atitudes e se sensibilizem pela dor do outro INTERDISCIPLINARIDADE POR JÉSSICA ALMEIDA
Revista Appai Educar Amplamente debatido nas escolas, o bullying continua sendo um problema significativo entre alunos de diversas idades. Por isso, é essencial que os projetos de combate a essa prática estejam em constante evolução, e a conscientização dos estudantes desempenha um papel fundamental para redução de casos assim. O Colégio Estadual Lauro Correa, situado em São Gonçalo, criou o projeto A dor de um é a dor de todos. Diga não ao bullying, com o objetivo de enfrentar essa questão de forma efetiva, incentivando a sensibilização pelos dramas do outro.
Revista Appai Educar O intuito da ação foi conscientizar os alunos sobre os atos de violência (físicos e psicológicos) no ambiente escolar, as sérias consequências e a responsabilidade de cada um em coibir, denunciar e não propagar a cultura do ódio. Idealizado pelas professoras Miriam Soares, Glauce Fonseca e Gracielle Viana, o projeto foi desenvolvido nas disciplinas História e Língua Portuguesa com as turmas do 1º ano do Ensino Médio. Além da participação de alunos de outras turmas que demonstraram interesse no tema. O projeto teve como ponto de partida abordar a morte de uma vítima de bullying, um aluno de uma escola pública em Praia Grande, São Paulo, e sensibilizar os estudantes sobre a seriedade e a maldade relativas a essa questão. “Considerando que parte dos jovens está desatenta em relação às notícias cotidianas de nosso país e do mundo, começamos a palestra perguntando se conheciam o estudante que estava aparecendo na TV da sala de aula. A maioria não sabia de quem se tratava. A partir desse diálogo, iniciamos com um breve relato do ocorrido que culminou com a sua trágica morte”, explica Miriam.
Revista Appai Educar Depois disso foram levantadas algumas questões acerca do assunto, entre elas, o que é o bullying? O que o diferencia de uma brincadeira inocente? Como saber a hora de parar ou nem começar? Quem tem conhecimento de ações de bullying na escola pode ser considerado coparticipante dessa prática? A quem podemos recorrer? Por fim, foram apresentados vídeos e entrevistas com vítimas e com especialistas em comportamento abusivo mostrando as consequências para quem sofre e para quem pratica.
Revista Appai Educar Rede de apoio Ao final da palestra e debate, as educadoras propuseram uma ação interna: criar uma rede de apoio e de comunicação entre os alunos e o corpo administrativo para coibir quaisquer ações que possam configurar bullying. Além disso, criaram uma ação externa de sensibilização, incentivando os estudantes a escreverem cartas, mensagens ou desenhos para os pais do aluno vítima de bullying. Foram produzidos cartas, mensagens curtas, frases, desenhos, e um buquê de flor artesanal. As cartas foram encaminhadas aos pais através do endereço da escola em São Paulo.
Revista Appai Educar Colégio Estadual Lauro Correa RuaMacaé, lote 3 – quadra 103 – Trindade – SãoGonçalo/RJ Tel.: (21) 97883-6149 E-mail: celaurocorrea103@gmail.com Fotos cedidas pela escola De acordo com as idealizadoras do projeto, os discentes se sensibilizaram com o tema e algumas famílias se engajaram também. A professora Glauce Fonseca, de Língua Portuguesa, acredita que o trabalho foi ummomento precioso para troca de ideias e reflexão sobre um tema. “Embora a atividade tenha sido baseada em um caso recente, muito comentado na mídia, parte dos alunos desconhecia o ocorrido. Durante o trabalho, eles puderam assistir à reportagem e ouvir a opinião de uma psicóloga. Essas etapas possibilitaram a participação de muitos e geraram um debate bastante interessante, em que foi possível analisar as consequências do bullying e repensar algumas atitudes”, afirma. A também professora de Língua Portuguesa Gracielle Viana destaca que criticidade e humanidade são as palavras ideais para esse projeto. “A atividade foi desenvolvida de maneira dinâmica e crítica, além de sensibilizar as turmas para a importância da luta contra o bullying. Esse projeto deveria ser realizado em todas as escolas do Brasil. Com certeza, atingiu muitos corações!”, finaliza.
Revista Appai Educar ANSIEDADE MATEMÁTICA NO ENSINO OPINIÃO POR ANA MARIA ANTUNES DE CAMPOS* E m novembro de 2024, foi revelado pelo estudo Pisa (realizado em 2022) que 65% dos estudantes brasileiros têm ansiedade em relação à matemática, um índice bem acima da média mundial, de 55%. Essa ansiedade, que envolve medo, fuga e aversão a essa disciplina, é um fenômeno antigo, conhecido como “ansiedade matemática”. Os primeiros estudos surgiram em 1957, com a maioria deles sendo realizada fora do Brasil. Aqui, os estudos começaram na década de 1980, inicialmente no campo da psicologia, e só mais tarde se integraram à Educação, especialmente à Educação Matemática. Na sala de aula, o que se observa é que alguns estudantes se desenvolvem satisfatoriamente, enquanto outros apresentam dificuldades em relação à aprendizagemmatemática, mas desconhecem o motivo, não sabendo se é por questões pedagógicas, emocionais ou por algum transtorno de aprendizagem. Essa incógnita dificulta que esses profissionais elaborem o processo de intervenção metodológica de forma a amparar esses estudantes. Em 2023, defendi minha tese de doutorado sobre o tema e atualmente me dedico ao estudo da ansiedade matemática no ensino, considerando que tanto estudantes quanto professores podem experienciar esse quadro. A ansiedade matemática em estudantes é caracterizada pelo medo, repulsa, fuga e aversão a qualquer situação que envolva a disciplina, desde as aulas até a realização de contas simples no dia a dia, como dividir uma despesa. Ela se manifesta em duas dimensões: a cognitiva, que se refere à preocupação com o desempenho e as consequências do fracasso, e a afetiva, que está relacionada à tensão em situações matemáticas. Mapeei os estudos sobre a ansiedade matemática e identifiquei padrões comportamentais de risco que podem se manifestar em estudantes, tanto no contexto escolar quanto
Revista Appai Educar no cotidiano. Esses padrões afetam a cognição (se expressando como falhas na memória, problemas de atenção e distorções na percepção), a afetividade (envolvendo medo, irritabilidade, insegurança e nervosismo) e o aspecto fisiológico (como desarranjo gastrointestinal, sudorese, taquicardia, dor de cabeça e insônia). Conhecer o currículo e os aspectos técnicos da matemática não é suficiente para garantir o bom aprendizado dos estudantes. É crucial entender que as crenças, atitudes, emoções e valores tanto dos professores quanto dos estudantes influenciammuito esse processo e podem até aumentar a ansiedade matemática. A cultura em torno da disciplina, cheia de estereótipos negativos, dificulta a aprendizagem. Embora a pesquisa tenha mostrado que gênero, inteligência e etnia não são determinantes para o desempenho matemático, é claro que esses tipos culturais podem ser reforçados entre os colegas e impactar a ansiedade. Fatores no ambiente escolar, como o controle excessivo dos professores, métodos de ensino inadequados e até pressões de familiares e colegas, podem aumentar ainda mais essa ansiedade. Esses aspectos não estão relacionados diretamente ao conhecimento do estudante emmatemática, mas afetam o seu desempenho. Constatei que as atitudes dos professores influenciam diretamente o comportamento dos estudantes e podem intensificar a ansiedade matemática, o que pode continuar ao longo da trajetória escolar, inclusive na universidade. Isso pode levar até mesmo futuros professores a terem dificuldades com a disciplina. Se não for identificada logo no início, essa ansiedade pode fazer os estudantes evitarem cursos e carreiras relacionados à matemática. Os professores também podem sentir ansiedade, principalmente em relação à sua capacidade de ensinar ou ao modo como lidam com os alunos. Isso não está sempre ligado ao desempenho dos estudantes, mas ao do próprio professor. Se ele teve experiências negativas com matemática, pode acabar transmitindo essa insegurança aos estudantes, usando métodos tradicionais de ensino que não ajudam no aprendizado. Esse fenômeno é conhecido como Ansiedade Matemática no Ensino.
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